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Desaceleração económica da China: Um problema brasileiro para 2022 e….2023

Maria Gonçalves

A Covid-19, a guerra na Ucrânia, as subidas de juros. Tudo está a assustar o mundo, sobretudo os países muito dependentes de outras economias. E uma das que está a deixar o planeta na expetativa é a da China. São muitos os que dependem em….muito deste país asiático. Um desses é o Brasil. O PLATAFORMA falou com alguns especialistas que traçaram o futuro próximo.

O travão na economia da China vai afetar as demais dos principais países mundiais, nomeadamente aqueles cujas vendas externas têm como principal destino este país asiático. Um deles é o Brasil, que, naturalmente, não irá passar ao lado desta crise. Mais preocupante, segundo alguns especialistas contactados pelo PLATAFORMA, é que a economia brasileira deverá ser afetado não apenas em 2022, mas também no próximo ano.

A estratégia de tolerância zero contra a Covid-19 adotada pelo governo chinês irá desacelerar a economia – previsões apontam para um crescimento de apenas 4,4 por cento, face aos 8,1 em 2021 – daquela que é a maior economia mundial, por tudo isto, não é difícil prever que outras vão passar um mau bocado. E o Brasil não foge à regra, sobretudo porque neste momento o destino de mais de 30% das exportações é mesmo a China, tendo já descido cerca de sete pontos no primeiro trimestre deste ano.

“Quando o mundo desacelera, o risco em relação aos mercados que estão a crescer, como é o caso do Brasil, piora. Isto faz com que o câmbio e as trocas comerciais ficam mais pressionadas. A questão da tolerância zero na China contra a Covid-19 é um dos principais fatores deste desaceleramento, mas depois há ainda a guerra na Ucrânia e a subida de juros do Banco Central Americano. Isto leva a que haja então uma desaceleração económica não só na Ásia, como também na Europa e nos Estados Unidos. Na prática isto quer dizer que existirá uma menor demanda de matérias-primas, o que afeta o Brasil em termos de exportações”, começou por revelar ao PLATAFORMA o economista brasileiro Roberto Padovani.

Cenário assustador para a economia do Brasil, entre outros, mas que poderá ser ainda pior em 2023. “Por tudo o que está a acontecer, não vejo forma da inflação diminuir nos próximos tempos, antes pelo contrário. O pior é que os preços vão continuar a subir em matérias como combustíveis, gás, alimentação, transportes públicos, ou seja, naqueles produtos que as famílias mais precisam. Isto fará também com que a pobreza cresça e diminua a nossa economia. Irá existir, com toda a certeza, se nada mudar, uma desaceleração mais pronunciada da economia a partir de julho, fazendo com que o cenário para 2023 seja ainda mais complicado”, salientou o especialista.

Refira-se que recentemente, o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), uma espécie de banco central dos bancos centrais, salientou qye a economia brasileira pode ser uma das mais prejudicadas em caso de desaceleração dos chineses. A instituição calcula que a cada ponto porcentual de recuo no crescimento da economia da China, o Brasil pode desacelerar 0,7 ponto percentual. “Muitas economias emergentes estão altamente expostas ao crescimento chinês mais lento, especialmente países da Ásia emergente e alguns exportadores de commodities, como é o nosso. Ainda assim, as commodities são um fator de algum otimismo face à China”, afirmou o banco em comunicado.

Desaceleração, mas sem recessão

Parece claro que crescimento económico não existirá então no Brasil, ou em qualquer outro país em 2022. Mas se o cenário de desaceleração é então um facto, o de recessão não parece estar perto de acontecer no Brasil.

“Será difícil ser uma realidade, a recessão, sobretudo porque já temos vindo a desacelerar a economia desde o ano passado, pouco, mas tem acontecido. Isso fará com que sentiremos menos os efeitos desta crise económica mundial. Iremos senti-la, mas em menor escala”, assinalou ao PLATAFORMA Livio Ribeiro, pesquisador económico, afirmando depois que serão precisas estratégias económicas para que o cenário de recessão fique mesmo afastado.

“Neste momento não vejo a recessão, ou melhor, uma recessão alta que possa prejudicar ainda mais o crescimento. Mas para que esse cenário não seja mesmo uma realidade serão necessárias medidas. É importante que o governo comece a olhar para outras economias que possam ser uma escape, ou mesmo uma estratégia futura de exportação. Costumamos dizer que quando há um problema, temos de arranjar outras soluções, para que esse problema não possa ser um entrave no futuro. Não podemos vender apenas produtos primários para o nosso principal parceiro comercial. Precisamos vender produtos com maior valor adicionado, mais sofisticados tecnologicamente, e para um número maior de países, de modo a não depender da demanda de uma única economia”, concluiu.

Commodities agrícolas, as menos afetadas

Apesar da crise, as commodities do comércio agricultura para a China deverão ser aquelas que vão sofrer menos impacto e as que ajudarão mais a economia do Brasil em 2022. Esta é pelo menos a expetativa do economista Sérgio Vale. “As pessoas, mesmo fechadas em casa, vão precisar de se alimentar e como o governo da China tem feito de tudo para evitar a inflação dos alimentos, isto ajudará o Brasil, pois exportamos muitas destas commodities”, assinalou o especialistas, que ainda assim prevê reduções e dificuldades para a economia brasileira.

“Se o governo chinês não abrir um pouco à Covid-19, será certamente um problema. É claro que continuarão a precisar de alimentos, de matérias-primas, mas o problema será depois o envio para a China. Se tudo ficar mais apertado, os preços dos envios serão cada vez mais caros, pois se demoram a entrar nos portos, as empresas terão de subir os preços. Será um período muito complicado, de saturação, mas há que ter calma, há que pensar antes de fazer negócios, de parar, perspetivar e depois pensar no caminho a seguir. Estou otimista, porque vejo soluções. Mas para elas surgirem, os países como a China, ou os EUA, têm de repensar as suas estratégias económicas face ao resto do mundo”, vaticinou.

Expetativas no terceiro mandato de Xi Jinping

Xi Jinping, líder chinês, entrou em 2022 preparado para garantir um terceiro mandato, que deverá ocorrer num encontro político marcado para este ano. No entanto, as suas políticas contra a Covid-19 têm sido consideradas dececionantes não só na China, como por todo o mundo. E é sobretudo por isto, pelas enormes expetativas que o mundo tem sobre um novo mandato de Xi Jinping, que existe ainda uma esperança sobre o crescimento económico chinês e consequentemente de países emergentes, como o Brasil.

“Sabemos que Xi Jinping tem defendido uma campanha para impulsionar o crescimento, sobretudo por meios de investimento do próprio governo. Eles têm uma estratégia económica totalmente diferente do que acontece no resto do mundo. Há sempre uma forte participação do Estado nas políticas que ajudam ao crescimento económico, como por exemplo fazer com que o Banco Central Chinês repasse muitos milhões para o Ministério das Finanças, de forma a financiar despesas, ou, por exemplo nesta caso muito específico, para reduzir os impactos do lockdown junto dos consumidores. Em ano de um possível terceiro mandato, e com os olhos postos diretamente em si, acredito que esta possa ser uma estratégia de Xi Jinping. Se assim for, começarão novamente a ver o líder que antes da pandemia era visto como um impulsionador económico”, disse ao nosso jornal o economista Pedro Fatiche, que é dos poucos mais otimistas.

“Não me surpreenderia se as atuais previsões de baixo crescimento chinês alterassem no segundo semestre do ano e eles se mostrassem novamente em grande do ponto de vista de crescimento económico. Quando digo isto é pelas tais razões que explanei anteriormente. A política económica chinesa é muito específica, é muito para o interior e não para o exterior. Mas a verdade é que uma forte política económica interior acaba por ajudar outras economias, como neste caso a brasileira”, referiu.

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