O medo voltou. E, esse, paralisa mais que o próprio risco. A oriente de Macau, segue a guerra dos “casos zero”. Cerca-se tudo à volta de cada surto; isola-se cada pessoa…. na ilusão de que na bolha se pode respirar. Mas o bicho entra e sai; esconde-se, muda; mostra-se aqui e ali em surtos que fazem a vida recuar. E tudo volta a fechar. O medo da pandemia esconde outros: económicos, políticos, sociais, que tecem uma gaiola invisível; hoje bem menos dourada o que parecia há dois anos.
E há o medo, a paralisia, a dependência… É impossível vislumbrar o dia em que Macau volta a ser cidade aberta. Compreendem-se os argumentos da tese chinesa: da dimensão do país às fragilidades do sistema de saúde passando pela própria disciplina política. Ninguém arrasta uma crise destas a não ser em nome de um bem maior.
O que fez o ocidente? Selou o contágio? Longe disso. Erradicou a pandemia? Já nem pensa nisso. Convive com o vírus. Vacinação em massa, informação a rodos, investimento nos sistemas de saúde. O ocidente vive um novo paradigma: alto contágio; baixa mortalidade; reforço do sistema de saúde. Até com relativa leviandade, diga-se. Bem podia ser mais gradual; com outro rigor, e mais compromisso no combate à pandemia. Certo é que em Lisboa, Paris ou Nova Iorque, a linha da vida volta ao curso normal. Por um lado, mostra como o convívio com o Covid-19 é possível; por outro, se o vírus flui a ocidente… erradicá-lo a oriente é ainda mais impossível.
Por fim, o vírus expôs uma grave maleita: falta de energia, encolhimento, esconder-se à defesa… É até uma novidade na China moderna, que assim não é a luz que tremula a oriente… Esse é aliás o lado mais negro da crise pandémica.
*Diretor-Geral do PLATAFORMA