Início Macau Poderá a reciclagem tornar-se uma moda?

Poderá a reciclagem tornar-se uma moda?

Carol Law

De acordo com o “Relatório do Estado do Ambiente de 2020” publicado pela Direção dos Serviços de Estatística e Censos, em 2020 os resíduos sólidos municipais incinerados nos centros de tratamento de resíduos caíram para as 437.592 toneladas, face às 545.725 registadas em 2019. O valor dos resíduos domésticos também baixaram das 267.922 toneladas para as 238.946. Todavia, as diferentes formas de reciclagem e reutilização também baixaram. Vários grupos ambientais acreditam que estes números ainda são insuficientes para avaliar o processo de redução de resíduos em Macau, uma vez que a atividade industrial e comercial desacelerou drasticamente ao longo do passado ano devido à pandemia. Muitos acreditam que apesar de uma evolução na consciencialização ambiental da população, a maioria mantém ainda uma atitude passiva em relação a estes problemas.

O documento indica que no período houve uma redução dos resíduos industriais e comerciais, com estes últimos a apresentarem uma quebra de quase 30%. Já os resíduos de materiais de construção cresceram 66%, desde as 2.394 toneladas métricas em 2019 para as 3.974 em 2020. O valor dos resíduos não tratados, e que serão despejados em aterros e centros de incineração, subiu 1%. Recentemente, a Associação Novo Macau Democrático publicou uma nota a sugerir ao Governo para avançar com uma consulta pública sobre o sistema de tratamento de resíduos municipais que contemple o princípio “o poluidor paga”. Para a associação, esse princípio, combinado com um melhor tratamento de resíduos e uma rede de reciclagem na comunidade, poderia promover a redução de resíduos e a reciclagem para um desenvolvimento sustentável de Macau.

Joe Chan, presidente da Macau Green Student Union (MGSU), analisou os valores dos resíduos no período da pandemia, em 2020, e conclui que a maioria do lixo é criado por turistas. A quebra no fluxo turístico refletiu-se numa óbvia redução da atividade económica no período. “A principal descida foi na produção de resíduos industriais e comerciais, em quase um quarto. É uma diferença enorme. Já os resíduos médicos aumentaram em mais de 40% com a pandemia, tal como o esperado”, afirma.

Considera que o Governo tem melhorado a reciclagem ao longo dos últimos anos, tanto ao nível da criação de pontos de reciclagem, como da execução de medidas relevantes, e que esses esforços devem ser reconhecidos. A Direção dos Serviços de Proteção Ambiental tem promovido a reciclagem de resíduos alimentares domésticos, um sistema em fase experimental para se encontrar o futuro modelo. Joe Chan salienta que o processo de recolha destes resíduos é extremamente difícil, sendo por isso desejável que o Executivo assuma uma atitude proactiva na área. “Os resíduos alimentares precisam de ser tratados diariamente, ou produzirão odor. Esta é uma fase de teste, em que se incentiva a população a participar. É maioritariamente uma medida experimental e educacional. Desde 22 de abril que temos seguido este sistema, podendo afirmar que tem operado sem problemas. As instalações de saneamento e apoio são suficientes e a reação do público tem sido positiva”, diz.

“Claro que os valores de reciclagem ainda são baixos. Cada ponto de reciclagem recebe 3 a 4 contentores/dia. Por vezes nem chega a uma tonelada. Mas estes resíduos devem atingir diariamente as centenas de toneladas. Isso confirma que se está em fase de teste. É um processo necessário. No passado não existia forma de tratar estes resíduos, mas a educação está a preencher esta falha e os cidadãos têm oportunidade de responder positivamente”, diz.

Os resíduos alimentares em Macau chegam a ser 40% do total de resíduos biológicos do município. Segundo a apresentação da DSPA, em 2012 foi lançado o “Projeto de Demonstração de Tratamento de Resíduos Alimentares” para recolha junto de cantinas em serviços públicos, escolas e hotéis, entre outros. Em 2016, começaram a ser recolhidos junto de diversos supermercados, banca e hospitais, e em 2018 foi lançado o “Projeto-piloto de Recolha de Resíduos Alimentares provenientes dos Estabelecimentos de Restauração e Bebidas”. Neste último, o website da DSPA aponta contar já com a participação de 115 estabelecimentos. Desde 22 de abril deste ano que aqueles serviços começaram também a disponibilizar a recolha de resíduos alimentares domésticos nos 4 Centros Ambientais Alegria. Um recente relatório da Radio Television Hong Kong (RTHK) revela que vários residentes que apoiam estas medidas há muito aguardavam um espaço para participar na recolha de resíduos. No entanto, o receio sobre a emissão de odores poderá levar ao descontentamento ou aversão de outros cidadãos ao projeto. Alguns residentes dizem ainda que os pontos de recolha destes resíduos são poucos e os existentes possuem um horário pouco conveniente, tornando difícil participar no projeto.

Rix Un, presidente do grupo ambiental Green Future, afirma que a decisão do Governo de reciclar resíduos alimentares “é arriscada”. “As três cores usadas para a reciclagem já causavam alguma confusão. Agora com outros passos adicionados ao processo, como classificação de plástico e limpeza dos objetos para reciclagem, o sistema complicou-se. A recolha de resíduos alimentares torna ainda mais complexo o processo para os residentes. Primeiro, separam-se os alimentos de guardanapos, ossos e outros resíduos, depois segue-se o armazenamento, exigindo visitas mais regulares dos residentes aos pontos de recolha”. Assinala, todavia, que os cidadãos com hábitos de reciclagem continuam a entregar os resíduos alimentares nesses pontos. “Desde que o serviço esteja disponível, esses continuarão a entregar os resíduos”, diz.

Rix Un acredita que a sensibilização pública para problemas ambientais ao longo dos últimos anos tem criado dois grupos. Um primeiro, que concorda em participar na transformação, e um outro que necessita de mais incentivos. Também é possível verificar que o Governo tem facilitado o processo de reciclagem para que mais cidadãos adiram, desenvolvendo a confiança da população nos sistemas de proteção ambiental criados. Por exemplo, neste momento o município recicla todo o tipo de resíduos de plástico e em papel de forma separada, além dos comuns ecopontos de três cores. “Penso que a principal diferença entre a separação dos ´três ecopontos´ e o novo método está na questão sobre se será mais conveniente lançar medidas dirigidas à população geral ou apenas àqueles que já possuem uma consciência ambiental. Primeiro começa-se por aqueles que estão dispostos a fazê-lo, de forma consciente, depois esse comportamento irá alastrar-se lentamente. Esta parece ser, até certo ponto, a escolha acertada”, defende.

Afirma ainda que a proteção ambiental em geral inclui também uma certa compreensão sobre a natureza e compra a granel, existindo ainda espaço para sensibilização nestas áreas. Rix Un sugere que o Governo incentive cidadãos mais passivos a participar através de estímulos, alargando a dimensão da reciclagem. “Existem vários pontos de reciclagem, mas considerando o peso destes resíduos, são precisos mais para incentivar a população a participar. Existem pontos nas ruas, carros de recolha, e alguns ecopontos de três cores e vidrões em certos edifícios. Acredito que muitos devem achar que não existem Centros Ambientais Alegria suficientes na Taipa e nos distritos Centro e Sul. Este número deverá ser aumentado, pois apenas com uma recolha mais conveniente é que as taxas de resíduos reciclados aumentarão. Mas também não podemos assumir que só são necessários pontos de recolha. É preciso ainda investir em profissionais que eduquem a população”, conclui.

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!