A TAP deve ser sustentada pelos portugueses, deve fechar ou deve ser vendida?
Não tenho dados suficientes para dar uma resposta séria a estas ou outras perguntas. Tenho – isso sim – uma ligação emocional à TAP. Foi nela que viajei pela primeira vez a caminho das férias em Portugal, tinha apenas 5 anos. Foi igualmente num avião da TAP que entrei quando “abandonei” Luanda, estava ainda a meio da escola primária. Guardo até hoje a “icónica” e pequena mala de mão, onde estava inscrito a dourado, num fundo branco, o símbolo da companhia aérea portuguesa.
Admitir a possibilidade de desaparecimento da TAP é, para mim, tema.
É certo que a situação financeira da empresa há muito que é permanentemente fustigada por desiquilíbrios preocupantes. Com ou sem gestão privada, o voo empresarial da TAP é perturbado por inúmeros fatores, que passam pelo poder dos seus sindicatos, pela atuação das diversas administrações, pela eventual incúria do estado…
Tendo em conta os efeitos da Pandemia em todas as companhias aéreas do mundo – na portuguesa ainda mais por causa o passado que acabei de descrever – este seria um bom momento para decidir com bases sólidas se os aviões da TAP deviam ficar em terra.
Admiti que este período também servisse para aceitar contributos e angariar consensos políticos alargados, que permitissem consensualizar o que deveria ser feito na empresa e pela empresa.
O Governo – para não dizer o Ministro que a tutela – decidiu salvá-la. Começou por injetar 1200 milhões, ainda este ano, ganhando tempo para a elaboração de um plano de viabilização (a que chamaram de reestruturação, o que pode não ser o mesmo).
Admiti que este período também servisse para aceitar contributos e angariar consensos políticos alargados, que permitissem consensualizar o que deveria ser feito na empresa e pela empresa.
Sendo um país dependente do turismo, Portugal pode perder a companhia e o tão falado “hub aéreo” de Lisboa?
Quem iria garantir a ligação aos países de língua oficial portuguesa e aos destinos onde a emigração é mais relevante?
O que seria possível fazer com 3725 milhões de euros na economia real, se esse valor aí fosse injetado e não fosse destinado à TAP até 2024?
E se não injetarmos esse valor na TAP que perdas isso significaria para o país?
A resposta a estas perguntas poderiam aumentar ou fazer esmorecer o sentimento que nutro pela TAP, assim só adensam as ansiedades de quem percebe que vai pagar sem saber exatamente para o quê.
A TAP, como outros negócios que se fizeram em Portugal (REN, EDP, CTT…) merecia que se juntassem responsáveis políticos e económicos num voo sem destino. Que só deveria aterrar quando conseguissem explicar o que vai ser da TAP.
*Diretor do Plataforma