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A corrupção é genética?

Arsénio Reis

A pergunta é feita a meio de uma longa conversa com o enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas para Moçambique. O que se passa em Cabo Delgado? O que se passa na região centro daquele país? Tudo isto tem a ver com a corrupção?

Mirko Manzoni diz que não. Pode estar relacionado com a pobreza, com o abandono, com o adiamento de promessas de uma vida feliz. Não se explica – apenas e só – pelo fenómeno da corrupção.

A corrupção em África é mais generalizada, menos denunciada, mais aceite à luz da qualidade de vida que se consegue alcançar, mas não será mais grave que na Suiça, o país que serviu de berço a este diplomata com mais de vinte anos de experiência e carreira.

Moçambique está, nesta altura, entre dois fogos, ou se quisermos ser mais objetivos entre dois conflitos. A norte, em Cabo Delgado, ataques violentos, que são levados a cabo em nome de uma religião e no centro, mais ataques violentos, que são levados a cabo em nome de uma luta pelo poder num dos dois maiores partidos do país, a Renamo.

São conflitos com dimensões e objetivos diferentes, mas que poderiam ter a mesma base…a corrupção.

Mirko Manzoni, o enviado especial de António Guterres para Moçambique, não o nega. A corrupção existe. Onde diverge é na explicação e na dimensão do fenómeno.

Para ele a corrupção em África é mais óbvia, nota-se mais porque cada um dos que a enfrenta precisa mais dela para sobreviver. Essa discussão… ele aceita. O que não aceita é que a dimensão do fenómeno seja superior do que aquela que se regista na Europa e em muitos países do mundo.

A corrupção é genética? A pergunta é lançada de forma infantil, quero dizer, muito direta e por isso desarmante. Não tem uma resposta óbvia.

A corrupção é endémica? Faz parte do quotidiano? Condiciona as ações do dia a dia? Subverte o caminho que é suposto ser feito por um país? É suficientemente condenada nas várias geografias?

Só alguém cheio de certezas terá resposta pronta para todas estas perguntas. A idade retira-nos as certezas suficientes para respostas eficientes a todas estas perguntas. Calo-me. Basta ouvir, ver e ler as noticias sobre o que se passa em Portugal.

A questão é que não é só disso que estamos a falar. A dimensão da corrupção, independentemente dela ser de colarinho branco ou de colarinho sujo, é superior em África, na Europa, ou nos Estados Unidos…isso não sei.

Admito que não seja genética.

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