O Estado Islâmico ainda não reivindicou como sua a origem do Covid-19 e como uma vingança sobre os “infiéis”, mas estará a planear formas de utilizar os efeitos da pandemia para desestabilizar os adversários e obter novas vitórias na guerra mediática.
Esta é a análise da Fundação para Estudos Estratégicos (FRS, na sigla em inglês) num estudo divulgado nesta quarta-feira.
Para os analistas da FRS, o Estado Islâmico (EI) estará a preparar-se para tirar partido dos efeitos da pandemia no Médio Oriente para reorganizar as suas estruturas, planear novos ataques e, no imediato, conseguir a libertação de militantes seus detidos em prisões de países como o Iraque.
“Castigo divino”
O EI pronunciou-se inicialmente sobre a pandemia como “um castigo divino contra a China, por causa de seu ateísmo e do tratamento que inflige à sua minoria uigure muçulmana “, explica Jean-Luc Marret, o autor do estudo.
Num segundo momento, passou a acusar Pequim de subestimar deliberadamente os efeitos da pandemia.
Num terceiro momento, isto é durante o mês de fevereiro de 2020, a linguagem do EI passou a colocar a ênfase em questões de segurança para os seus militantes, salientando ao mesmo tempo a supremacia do islão como instrumento no combate à pandemia.
Assim, segundo documentos do EI divulgados nos seus canais de informações, pode ler-se o elogio ao modo de vestir islâmico, “feito para garantir a proteção” dos crentes, das regras sociais que valorizam o distanciamento social e vários conselhos práticos, como “quem está de boa saúde não deve ir para territórios com o vírus e quem está afetado não deve abandonar” os sítios onde está.
Libertação de jihadistas
Mas o principal centro de preocupação para os jihadistas é a libertação dos militantes detidos “principalmente na Síria e no Iraque”, explica Marret na sua análise.
Outros países em que esta seria também a estratégia principal do EI são o Afeganistão e a Nigéria.
Por outro lado, a concentração de esforços dos Estados no combate à pandemia pode criar oportunidades, na perspectiva do EI, para a realização de atentados. Especialmente em países frágeis ou que dependem em alguma medida da presença de tropas estrangeiras para o treino e para a sua segurança interna.
O melhor exemplo disso é o Iraque de onde vários países estão a retirar forças que tinham-no terreno, especialmente em missões de formação. Em países africanos, onde missões da ONU ou da União Europeia também estão presentes, esta e outras medidas de restrição estão também a ser aplicadas.
As próprias Nações Unidas anunciaram a suspensão da rotação do seu pessoal em missões internacionais.
Um “aliado” para os jihadistas
O documento da FRS salienta que, no passado, o EI tentou obter meios para a realização de ataques bacteriológicos, ainda que sem sucesso.
A análise da FRS não afasta a hipótese de os jihadistas recorrerem a uma forma “rústica e improvisada” de colocar o Covid-19 ao seu serviço. Ainda que tome como remota essa possibilidade.
Como sucedeu, no ataque de 4 de abril em Romans-sur-Isère, na França, os métodos preferidos continuam a ser o recurso às armas brancas, à falta de armas de fogo, de modo a provocar vítimas mortais. Mas o analista da FRS não exclui liminarmente a hipótese de um militante do EI, ou alguém sob o controlo dos jihdistas, infetado com Covid-19 ser transformado em “arma humana” para disseminar o vírus e causar vítimas inocentes.
“O uso desses meios não deve ser subestimado”, avisa o analista da FRS.