Ainda

As eleições para os Conselhos Distritais em Hong Kong transformaram-se num de referendo à forma como as autoridades têm lidado com os protestos que tiveram início com as manifestações contra a lei de extradição. E a mensagem foi clara. E com destinatário não apenas em Hong Kong mas também em Pequim. A forma pacífica e civilizada como decorreu o ato eleitoral constitui um sinal de esperança que contrasta com a violência e o caos que marcaram os últimos meses. Afinal, a democracia é melhor forma de institucionalização do confronto de ideias e de escolhas.
A afluência às urnas recorde veio conferir um significado especial ao sinal enviado. Houve uma mobilização intensa dos dois campos principais em disputa, que resultou num apoio expressivo para a oposição.
As eleições devem agora abrir caminho para uma nova fase no processo político em Hong Kong requerendo sabedoria às várias partes envolvidas. Em primeiro lugar, o Governo de Carrie Lam terá que retirar as devidas conclusões, sair da torre de marfim em que tem vivido e enviar sinais claros à sociedade. Não é aceitável nem sustentável ignorar a expressão popular, como aconteceu após a manifestação pacífica de 9 de junho que levou às ruas de Hong Kong largas centenas de milhares de pessoas. Dar passos para a criação de uma comissão independente de inquérito aos incidentes e à atuação da polícia é crucial. Abrir caminho para um processo de diálogo e reconciliação é um dever. Todavia, a resposta a questões mais estruturantes reside em Pequim. O Governo Central deve aproveitar este momento para fazer uma efetiva reavaliação da gestão política da região administrativa especial, que corrija os erros cometidos ao longo dos últimos seis anos em termos de implementação do princípio um País Dois Sistemas e de respeito pelo elevado grau de autonomia. Está à vista de todos que sem um progresso rumo ao sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo e de todos os deputados, não há forma de resolver a crise em Hong Kong.
Por outro lado, é fundamental que os manifestantes mais agressivos coloquem um ponto final à violência e radicalização. O voto de domingo não foi certamente uma manifestação de apoio aos inaceitáveis atos de vandalismo. Será necessário também que os políticos da oposição tenham maior maturidade e uma abordagem mais construtiva. Paralelamente, alguns atores externos (designadamente oriundos de Washington e Taipé) devem demonstrar maior sentido de responsabilidade e menos oportunismo.
Todas as partes neste processo têm a obrigação de estar à altura da oportunidade criada pelo voto de domingo. Não é tarde demais. Ainda.

José Carlos Matias 29.11.2019

 

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