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Vias abertas

As nuvens são visíveis a olho nu. Aproximam-se. O espírito do tempo da “guerra” comercial e da crise sem fim em Hong Kong impõe-se, toldando a sensatez. Após um ciclo prolongado de abertura e envolvimento internacional com poucos sobressaltos, a China tem lidado com reações adversas sobretudo no Ocidente, mas não só. Ao Grande Salto económico e tecnológico, os dirigentes chineses juntaram um discurso de notória auto-confiança e assertividade, que tem sido lido como agressivo pelos que se assustam com o poderio repentino vindo de Pequim.  

Este é, por isso, um momento de reavaliação. Terá sido precipitado o abandono, por parte da atual liderança chinesa, da máxima atribuída a Deng Xiaoping: “Manter um perfil baixo e aguardar pelo momento oportuno” (韬يlيه‮١‬ق). 

A guinada da Administração Obama do chamado “Pivot para a Ásia-Pacífico”, há uma década, e o consenso recente em Washington em torno da importância de conter ou mesmo enfraquecer a China são o outro lado desta moeda de rivalidade estratégica pela liderança global. A postura protecionista e o nacionalismo económico da Administração Trump aceleraram a tensão  que se vinha acumulando.  

As relações estado-a-estado giram sobretudo em torno do “hard power”, que muitas vezes tem a forma Hobbesiana (‮&+‬马‮٤٥!‬S‮❊‬N٪،‮٤٥‬) da “guerra de todos contra todos”. A realidade é, felizmente, mais diversa e complexa. A cooperação é também ela condição para o sucesso, próprio e de terceiros. Nesse campo, surgem outros atores além dos Governos Centrais. As cidades, regiões ou comunidades são, frequentemente, plataformas de “soft power” em que os relacionamentos entre os povos se fortalece, num processo de conhecimento mútuo e de laços interculturais. Macau tem sido um ator com essas características por excelência ao longo dos séculos. E hoje, para a China e para o exterior, afigura-se como ainda mais importante face ao clima de crise profunda e desconfiança mútua que afeta Hong Kong e às mazelas da disputa com os Estados Unidos. Nesse sentido, o projeto do Fórum China-Países de Língua Portuguesa assume uma clara centralidade.

Este mês, Macau é palco de eventos que realçam, em grande medida, o que de melhor a cidade tem: O Fórum Global de Economia de Turismo (com o Brasil e Argentina em destaque), o Festival da Lusofonia e Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa e a Feira Internacional de Macau, que este ano tem Cabo Verde como país convidado. O acordo de geminação – a ser firmado na próxima semana e que noticiamos nesta edição  – entre o município cabo-verdiano da Boa Vista e a cidade de Rudong, na província de Jiangsu é um óptimo sinal. Precisamos de mais vias abertas. Em todos os sentidos.  

José Carlos Matias 11.10.2019

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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