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A incógnita do metro ligeiro

Depois de 14 anos de projeto, há ainda várias questões por responder, como o modelo de empresa que vai gerir o serviço, a organização do corpo técnico e o traçado da linha em Macau. 

O sistema de metro ligeiro de Macau já foi adiado várias vezes. Espera-se que a linha da Taipa seja inaugurada no próximo ano. O Plataforma visitou as infraestruturas da obra e constatou que o viaduto da zona da Taipa já está terminado assim como a estrutura de grande parte das estações. Agora estão a ser instalados e testados equipamentos eletrónicos nas linhas da Taipa. Escadas rolantes e outros equipamentos também já estão instalados e em algumas estações já foram plantadas árvores. A fábrica de montagem das carruagens, que esteve parada durante vários anos, ainda está por finalizar. Todavia, no seu interior estão a ser construídas as plataformas de paragem. 

Sobre o andamento dos trabalhos, o Gabinete para as Infraestruturas de Transportes diz que “à  medida que as 11 paragens da linha de Taipa vão sendo terminadas e os viadutos concluídos, o Governo faz pressão para que sejam levados a cabo testes e para a instalação dos equipamentos, com o objetivo de abertura da linha em 2019”. 

À pergunta do PLATAFORMA sobre o modelo da empresa que vai gerir o metro, a organização do corpo técnico e o preço dos bilhetes, o Gabinete limitou-se a responder: “Ainda há muito trabalho a fazer na preparação para a abertura da linha. Este trabalho pendente irá ser terminado e apresentado ao público na devida altura”.

Modo de trabalho parece não ter direção

Uma das formas de tentar perceber se o avanço do projeto está ou não de acordo com as orientações do Governo, foi falar com quem acompanha e fiscaliza a ação do Executivo. 

O deputado Wu Chou Kit disse acreditar que a construção da linha da Taipa pode estar terminada este ano e que o principal trabalho passa pela instalação dos equipamentos eletrónicos, incluindo semáforos, sistemas de controlo, torniquetes, sistemas de vigilância, etc. Depois dessa instalação será preciso avançar para a fase de testes, onde se inclui a circulação dos comboios. 

“Nesta linha o sistema usado é o da empresa japonesa Mitsubishi. Os testes vão ser feitos pela mesma, que posteriormente enviará os resultados para inspeção pela entidade encarregue da aprovação. Depois de aprovados, será feito um último teste”, lembrou.

A conclusão do segmento da Taipa a tempo de entrar em funcionamento em 2019 não parece suscitar muitas dúvidas. Já a forma como a empresa encarregue vai gerir a linha continua por perceber. 

Em declarações ao jornal, o deputado Au Kam San realça:“O secretário Raimundo do Rosário acredita que depois do estabelecimento de uma empresa, a mesma deve ficar encarregue de todo o planeamento. No entanto, o secretário parece não entender que esta é uma prática incorreta. O Governo precisa, primeiro, de ter uma direção delineada e só depois poderá deixar esse plano para uma empresa. Tem de existir alguma direção”, declarou o deputado.

Au Kam San acredita que é necessário deixar essa função [de planeamento] a cargo de uma empresa ou os departamentos governamentais estariam limitados. Todavia, acentuou, o custo de uma linha ferroviária é algo considerável. É impossível para uma empresa gerir operações ferroviárias apenas com base nas receitas diárias dos passageiros. Com certeza que necessita de ser subsidiada pelo Governo e este precisa de ter um orçamento definido, tal como um plano de como economizar e, ao mesmo tempo, manter um bom funcionamento da linha. 

Deputados temem dependência  de mão-de-obra estrangeira

Já Leong Sun Iok, deputado que há vários anos trabalha na área de formação profissional, mostrou alguma insatisfação com o modo como todo o processo de instalação do metro tem corrido. 

“Uma linha ferroviária necessita de uma gestão apertada, de tecnologia e segurança para garantir um bom funcionamento e, para isso, precisa de recursos humanos capazes. Na realidade, o Governo assinou um contrato de cooperação de formação profissional há já vários anos com a corporação MTR. No entanto, até ao momento, ainda não foi levada a cabo nenhuma formação profissional na área ferroviária”, advertiu.

Para o deputado, esta atitude por parte do Governo “é preocupante”. 

Na opinião de Leong Sun lok, por não existirem recursos humanos locais suficientes formados nesta área, significa que o funcionamento da linha estará dependente de mão-de-obra estrangeira e isso terá um impacto no mercado de trabalho local, colocando também em questão a eficácia do tal acordo de cooperação. 

Outra preocupação deixada pelos deputados prende-se com o preço dos bilhetes, que continua a ser uma incógnita. Au Kam San prevê que depois de Macau estar ligado à Taipa, a taxa de utilização da linha de metro seja relativamente alta, especialmente das Portas do Cerco até à Taipa. O deputado acredita que o número de passageiros será elevado, por isso é de evitar descer o preço dos bilhetes para atrair clientes. O preço, defende Au Kam San, não precisa ser demasiado baixo, mas apenas adequado, podendo até certo ponto diminuir o peso dos custos de funcionamento da linha. Também existem sugestões para que sejam criados preços diferentes para turistas e habitantes locais. “Provavelmente, os habitantes locais não irão usar esta linha tão regularmente e a possibilidade de estes terem algum tipo de desconto parece-me algo adequado”.

Após vários anos de trabalhos e com as obras na Taipa quase concluídas, a segunda secção do metro, prevista para a cidade de Macau, não tem ainda o alinhamento determinado. Há até figuras políticas que têm sugerido que o metro não se estenda até à cidade. O Chefe do Executivo, Chui Sai-on, prometeu anunciar o plano para a construção da secção de Macau até ao final do ano passado. Até agora, nada foi revelado. 

O deputado Wu Chou Kit é contra a não construção do metro em Macau. Para o parlamentar, a linha da Taipa é demasiado curta e, sendo a única a ser construída, não vai resolver o problema dos transportes públicos. 

Quando a maioria dos habitantes puder usar ostransportes públicos, o congestionamento das estradas poderá ser atenuado, defendeu. 

Wu Chou Kit disse ainda que existe uma opção de o metro não entrar na cidade de Macau, apenas ligando a Ponte de Sai Van e o quarto canal para servir como meio de circulação para habitantes da Taipa e Macau. Depois de a linha entrar em Macau poderá ser aproveitada a zona da Praça de Ferreira do Amaral. Um modelo deste género também se poderá tornar num novo centro de transportes. Para o deputado, alongar a linha até Macau poderá trazer vários problemas. 

“O futuro está no planeamento a longo prazo das áreas A, B, C, D e E da nova cidade. É necessário que os meios de transporte em Macau, Taipa e Coloane entrem em cooperação. É necessário esperar que seja terminada a construção das novas grandes áreas A e B, e só depois se poderá definir o trajeto mais correto para a linha de metro ligeiro”, sustentou. 

Para Wu Chou Kit, o Governo necessita de fazer planos a longo prazo tendo em conta algumas destas novas áreas em construção, reavaliando as rotas de meios de transporte de Macau. 

“A preparação de transportes para a construção da linha da Taipa foi relativamente bem-sucedida, foi bem aceite pelos locais. No entanto, Macau é relativamente pequeno. É necessário fazer um planeamento de forma atempada e a construção terá de ser faseada”, alertou.

O deputado sugeriu também que, aquando das obras para o metro na cidade de Macau, estas poderão ser aproveitadas para, em simultâneo, avançar com outras construções, designadamente a renovação de canais subterrâneos, de canalizações, reconstrução de vias públicas, construção de passagens subterrâneas ou viadutos para peões, diminuindo assim a inconveniência causada aos habitantes. 

Wu Chou Kit disse acreditar que todos os projetos são constituídos por vários tipos de trabalhos diferentes, e a forma de como melhor os integrar constitui um desafio. Durante a fase de planeamento de um projeto é preciso definir prioridades e acreditar que estas serão cumpridas.  

Kenneth Choi  02.02.2018

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