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Macau precisa de política

Não voto. Nem aqui nem em lugar algum. Muitos debates enfrentei entre amigos sobre essa aparente contradição. Porque a participação cívica e a cultura política são traços de maturidade individual e coletiva. Aqui, no Brasil ou na Cochinchina, a urna responsabiliza uns e outros: os eleitores pela escolha, os eleitos pelos seus atos. Por vício profissional, pratico a equidistância, fujo a preferências e inclinações. Mas é importante que o façam: escolham o melhor que puderem, com a informação que tiverem, com a visão da vida, da cidade e do mundo que vos conquiste e represente.

Lamento que as eleições em Macau se transformem num circo de circunstância, como se leões e malabaristas divertissem o povo numa tenda montada por 15 dias. Há mais números e cores do que ideias, sonhos e projeções. Podia ser só circunstância, um tempo de maturação da jovem RAEM. Mas é mais do que isso: é este o ‘mindset’ do regime, que contém a Assembleia na sua menoridade legislativa; olha para o voto como uma espécie de mal menor.

Macau vive hoje um enorme vazio. Se no Ocidente a narrativa central é a da liberdade, numa aldeia chinesa, minada por poderes, de facto paralelos, falta hoje quem imponha juízo e autoridade. O poder, sendo executivo, não é exercido; é antes distribuído no Conselho Executivo, deixando o resto ao abandono. A vida cívica e corporativa é organizada em associações que disputam benesses de Estado; cheques paternalistas e fraternidades geridas com cirurgia palaciana.

Macau quer mais do que isto; os candidatos devem mais a si próprios; falta aos eleitores outra cultura de exigência… 

Importa também perceber que a política faz-se o ano todo, antes e depois dos ciclos eleitorais, todos os dias e sobre todas as coisas da vida. Não há partidos políticos – não é por acaso. Mas há estruturas corporativas e associações que devem muito ao seu palco político. No fundo, temos todos de crescer, fazendo Macau crescer connosco. Façam hoje o melhor que puderem, votem amanhã o melhor que tiverem… Mas sobretudo lembrem-se que segunda-feira é o primeiro dia de tudo o que está por fazer. 

Paulo Rego

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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