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Carvão lidera exportações, grafite é a nova estrela

O carvão saltou para a liderança das exportação moçambicanas e vai ser uma das forças determinantes a puxar pelo crescimento do PIB este ano. Entretanto, o fabrico de baterias para carros elétricos motiva novos investimentos: o país tem o maior depósito de grafite do mundo.

As minas marcam o pulsar de Moçambique. Um dia (prevê-se que daqui a cinco anos) chegará a exploração de gás natural que promete ser o novo maná. Mas, para já, nas entranhas da terra bate o novo coração da economia. O carvão passou este ano a ser o maior produto de exportação e corre pelas principais artérias do país para alimentar o mundo. Aliás, é graças ao carvão que algumas dessas artérias se renovam e crescem. 

Mas nem só de carvão se faz esta história. Há mais riqueza escondida a motivar novos investimentos. A grafite é o novo produto ‘sexy’: graças ao maior depósito de grafite do mundo, Moçambique entra nas manchetes internacionais como um país que vai alimentar as baterias dos carros elétricos do futuro. 

Olhando para o panorama geral, do Rovuma a Maputo tudo parece ser terra abençoada com abundância de recursos minerais, mas a história já mostrou que um país não pode estar só dependente deles. Se um dia se desvalorizam, o que fazer?

Para já a questão não parece pertinente: o valor da exportação de carvão mineral de Moçambique cresceu 200 por cento entre o primeiro trimestre de 2016 e o mesmo período de 2017, passando o produto a representar um terço do valor das exportações. Os dados fazem parte do último boletim estatístico mensal do Banco Central de Moçambique, publicado em junho. A exportação de carvão mineral saltou de 108 milhões de dólares para 326 milhões no mesmo período – passando a liderar a lista de exportações, representando 33,4 por cento do valor de bens que saíram do país, mais do dobro do peso que tinha antes, a rondar 15,6 por cento.

Diversos analistas tinham já antecipado que o carvão iria passar a ser o mais importante produto de exportação de Moçambique, devido à subida global da procura (e dos preços) e devido ao aumento de capacidade de produção local da mineira Vale. A empresa brasileira financiou até o Corredor Logístico de Nacala, inaugurado em maio. Trata-se de uma linha férrea com 900 quilómetros e um porto marítimo em Nacala para exportar carvão oriundo das minas de Moatize, no outro extremo da linha, uma obra no valor de 4,1 mil milhões de euros. O objetivo é conseguir exportar 18 milhões de toneladas de carvão por ano. “O carvão de Moatize está bem posicionado internacionalmente para abastecer, com custo competitivo, os mercados globais da Ásia, Europa e ainda o Brasil”, anunciou a Vale, que faz do minério de Moçambique uma das suas joias.

MINÉRIO DO FUTURO

O mundo move-se cada vez mais a eletricidade e o país lusófono também está bem posicionado para essa nova vaga. A 30 de agosto, o Governo de Moçambique aprovou o contrato mineiro para exploração do maior depósito de grafite do mundo, em Balama, província de Cabo Delgado, matéria-prima que deverá ser usada em baterias de carros elétricos. 

As fotografias de desenvolvimento do projeto estão em destaque no portal da empresa mineira australiana Syrah Resources, que desde há mais de um ano está no terreno e que até já tem uma mina montada e em pleno desenvolvimento. A firma explica que a procura por grafite está em alta a nível mundial por ser um componente usado em baterias, numa altura em que o mercado de automóveis movidos a eletricidade e outros produtos elétricos – como as aeronaves autónomas (drones) – está em expansão. A Syrah já “concluiu com sucesso um extenso trabalho de teste de certificação com vários produtores de baterias para o uso de grafite esférica de Balama”, um produto processado de “alto valor”. Neste contexto, a mina será “a principal produtora mundial de grafite de alta pureza”.

A empresa diz estar agora “focada no avanço das atividades de desenvolvimento” do projeto e intensificou “as ações de marketing, com vista a tratar da primeira produção no terceiro trimestre de 2017”, ou seja, até final de setembro.

O contrato aprovado pelo Governo moçambicano prevê a exploração e processamento de grafite por um prazo de 25 anos, renováveis, e um investimento mínimo a rondar 88 mil milhões de dólares americanos – quase seis vezes o PIB nominal de Moçambique, que ronda os 15 mil milhões, segundo o FMI.

A existência de valiosos depósitos subterrâneos de grafite na província de Cabo Delgado já tinha motivado também o investimento da multinacional alemã AMG Graphit Kropfmuhl. A 28 de junho, a empresa iniciou formalmente a produção de grafite na mina de Ancuabe, tendo investido 12 milhões de dólares e empregando 100 trabalhadores, 60 dos quais moçambicanos. O arranque foi o culminar de cerca de cinco anos de reabilitação da infraestrutura, que estava paralisada na sequência da guerra civil de 16 anos, que terminou em 1992.

Desde o século XIX que a existência de grafite é registada com destaque. De acordo com o portal da Syrah, o geólogo e engenheiro John Furman, ao serviço da Companhia do Niassa, foi o primeiro a documentar “grandes depósitos de grafite” de “alta qualidade” na região de Balama em 1893. Ainda está por verificar qual o impacto que a extração terá 124 anos depois na balança comercial de Moçambique. Parece certo que, tão cedo, o carvão não será destronado da posição cimeira que este ano roubou ao alumínio. 

De acordo com os dados do Banco de Moçambique, o valor da exportação de alumínio também subiu entre o primeiro trimestre de 2016 e o mesmo período de 2017: passou de 192 milhões de dólares para 249 milhões, mas o produto deixou de ter o maior peso na receita das exportações para passar para segundo lugar – com uma fatia de um quarto (25 por cento) da repartição de valor. 

CUIDADO COM A DEPENDÊNCIA

Carvão e alumínio representaram 59 por cento do valor das exportações de Moçambique no primeiro trimestre deste ano. Qual a estratégia a seguir quando a economia está tão dependente de recursos naturais? Diversificar. 

“As perspetivas de bonança que decorrem da esperada exploração do gás e de outros recursos naturais exigem que Moçambique se prepare devidamente”, alertou em junho a economista moçambicana Clara de Sousa, dirigente do Banco Mundial. O país, disse, tem que ser “capaz de enfrentar os desafios ligados à gestão macroeconómica, de transparência e de governação típicos de economias ricas em recursos naturais, incluindo a volatilidade dos preços das mercadorias”. “É durante a transição que os esforços para diversificar a economia têm que ser acelerados”, afirmou. Ou seja, está na hora de olhar para os outros setores de atividade, como o turismo e a agricultura, desde sempre referenciados como dois dos que têm maior potencial de crescimento em Moçambique. 

Carvão dá gás ao PIB com valores recorde

A produção de carvão em Moçambique atingiu o recorde trimestral de três milhões de toneladas métricas no segundo trimestre de 2017, mais 24,8 que no primeiro trimestre deste ano e mais 101,8 por cento que no segundo trimestre de 2016. 

O FMI prevê que a economia de Moçambique cresça 4,5 por cento ou mais este ano, graças ao aumento do preço do carvão. A tendência foi referida numa outra análise publicada em abril, que realçava o facto de Moçambique ter reservas estimadas de carvão acima de 20 mil milhões de toneladas. 

Luís Fonseca-Exclusivo Lusa/Plataforma Macau

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