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Faixa e Rota será iniciativa sensata para o G7

O facto de os líderes dos principais países industrializados – Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos – terem agendado uma discussão sobre “construir as bases de uma confiança renovada”, para uma reunião na Sicília, Itália, deixa antever os desafios enfrentados pelo G7 entre crescentes preocupações sobre a governação global.

Criado em 1975 pelas “seis principais democracias industrializadas do mundo” antes da adesão do Canadá um ano mais tarde, o G7 parece ter passado a tarefa de coordenação económica internacional ao G20 após a crise financeira de 2008. O G7 ainda representa mais de 40 por cento da economia mundial, mas a sua contribuição conjunta para o crescimento global não equivale à da China. E dadas as contínuas disputas monetárias e comerciais, é natural que o G7 ceda o lugar ao mais inclusivo G20 para construir as bases de uma confiança renovada.

A fundação do G20, que é composto pelo G7 assim como BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e outras grandes economias, também coloca um desafio à legitimidade do G7. A coexistência de mecanismos de coordenação sustentados por diferentes blocos económicos regionais poderá, até certo ponto, desferir outro golpe no papel outrora dominante do G7 agora que o G20 goza de uma maior credibilidade internacional.

O maior obstáculo às ambições do G7 é o declínio da coordenação entre os Estados Unidos e a União Europeia, após Donald Trump ter tomado posse como Presidente dos Estados Unidos e líder da maior economia mundial. O slogan “a América primeiro” de Trump, os comentários abrasivos sobre o papel da NATO, e a sua decisão de retirar os Estados Unidos do acordo da Parceria Transpacífico, aumentaram as disparidades EUA-Europa no que diz respeito ao comércio livre, multilateralismo e governação global. Muitos observadores afirmaram que o Presidente norte-americano poderia enfrentar adversidades durante a cimeira da NATO em Bruxelas e a cimeira do G7 na Sicília.

O G7 também necessita de lidar com os desafios de segurança global e gerir melhor as suas relações com a China e Rússia, algo que foi suspenso relativamente ao anterior G8 em 2014. Sem Washington a assumir a liderança, o bloco de sete membros tornar-se-á provavelmente num suplemento para as negociações bilaterais entre os Estados Unidos e outros membros do G7 como o Japão e o Canadá. Contudo, após a entrada em vigor dos acordos de comércio livre UE-Canadá e UE-Japão, Bruxelas parece esperar menos de Washington.

Mais importante ainda, os principais problemas que preocupam algumas economias do G7, como a crise da dívida italiana, levantam questões sobre as credenciais do bloco na governação económica. São de louvar as ambições do grupo em reduzir as desigualdades, salvaguardar a cibersegurança, fechar os canais de financiamento de terroristas e lidar com os desafios fiscais de uma economia digital. Contudo, serão necessários mais do que sete países para encontrar uma solução elementar para os problemas, sobretudo porque as recentes ações de Trump sugerem algo diferente do anterior consenso do G7 sobre o combate ao protecionismo e às alterações climáticas.

Devemos estar atentos à possibilidade de a cimeira do G7 levantar um alerta sobre depreciação competitiva, dada a possibilidade de o novo governo norte-americano abalar a consistência da política monetária global das economias do G20.

Procurar uma cooperação mais próxima com a China e participar na Iniciativa Faixa e Rota poderão ser escolhas sensatas para os membros do G7 que pretendem promover a solidariedade e uma governação global eficiente. Isso constitui uma prova da diferença que a iniciativa inclusiva e recíproca pode fazer na comunidade internacional e nos grupos regionais. 

Wang Yiwei*

* O autor é professor de relações internacionais na Universidade Renmin da China, e é também um investigador sénior no The Charhar Institute.

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