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O Brexit é a “oportunidade” para Macau

Ainda pouco se sabe sobre o Brexit, mas, dada a ligação de Hong Kong ao Reino Unido e, através deste, à União Europeia, especula-se que Macau poderá vir a tirar vantagem desse processo.

Macau pode vir a ganhar do processo de retirada do Reino Unido da União Europeia, conhecido por Brexit, uma vez que o papel privilegiado de ponte, normalmente atribuído a Hong Kong, pode passar para o território. Foi a tese defendida pelo secretário de Estado da Indústria de Portugal, João Vasconcelos, quando esteve de passagem pelo território. Contatados pelo PLATAFORMA MACAU, os analistas arriscam que poderá tratar-se de uma oportunidade para o território se este souber aproveitá-la, ainda que o papel de centro financeiro da região vizinha lhe garanta sempre privilégios na ligação internacional.

“O Brexit também veio tornar Macau provavelmente a curto prazo a melhor ponte entre a China e a Europa”, afirmou o secretário de Estado da Indústria de Portugal, João Vasconcelos, ao PLATAFORMA MACAU. “As grandes relações de Hong Kong são com o Reino Unido, o Brexit foi uma grande oportunidade para Macau e temos de saber agarrar, acho que isso está a acontecer”, acrescentou.

O presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau, José Luís de Sales Marques, afirma ao PLATAFORMA MACAU que, do ponto de vista teórico, dado que Hong Kong tem desempenhado “um papel muito importante entre a União Europeia e a China, também pelas relações com a Grã-Bretanha”, será natural que essa ligação se venha a perder, caso o Brexit se concretize. “A Grã-Bretanha deixa de ter relevância na relação entre Hong Kong e a União Europeia, o que poderia apontar uma alternativa para Macau — Macau podia assumir algumas dessas vantagens, na medida do papel de ligação entre Portugal e Macau”, refere.

Olhando para a prática, porém, há que ter em conta alguns pontos. “Com a saída da Grã-Bretanha, (…) há declarações de grandes instituições internacionais a dizer que vão mudar a sua sede de Londres”, e Paris poderá ser uma natural substituta.

Além disso, no que diz respeito à presença da União Europeia em Hong Kong, é “forte”, havendo muitas instituições financeiras estabelecidas em Hong Kong e muitas delas “nem estão sediadas na Grã-Bretanha, mas na Europa Continental propriamente dita”.

Acresce a estes factores que Hong Kong e a sua relação com a China Continental “tem efetivamente um papel muito importante, não só no contexto financeiro, mas também na venda de serviços e importação/exportação de produtos da União Europeia para a China, e vice-versa”. Ao mesmo tempo, ao nível dos serviços — para além dos financeiros — existem muitas relações “não britânicas” e que passam por áreas como a arquitetura, moda design.

No que toca a Macau, “não se encontra muito inserido nas redes comerciais”, havendo, até, um défice comercial no relacionamento com a União Europeia, traduzido em maiores importações do que exportações, além de que “não tem servido como um ponto de exportação da China para a União Europeia”, contrariamente à região vizinha. Assim, “teoricamente, essa ideia é muito interessante e pode ser vista como uma oportunidade, mas, do ponto de vista concreto, o impacto pode não ser assim tão grande”.

Porém, como faltam ainda dois anos para que o Brexit venha a concretizar-se, ainda há muito que pode acontecer ao nível empresarial. Uma coisa é certa: “Sei que os interesses comerciais ligados à União Europeia, estabelecidos em Macau, querem fazer mais e ter mais oportunidades; tem sido o discurso oficial.” Resta saber o que irá suceder daqui a dois anos e “em que termos” se dará o Brexit. Na sequência do referendo que resultou na vitória do Brexit, especula-se que o processo, ainda numa fase muito inicial, deverá estar finalizado apenas daqui a dois anos.

Para o professor de Ciência Política e Relações Internacionais do Instituto Politécnico de Macau, Arnaldo Gonçalves, ainda é cedo para perceber o impacto para o território. “Não sabemos quais vão ser as consequências, quais serão as consequências do Brexit”, diz.

A ocasião

Para o politólogo, Arnaldo Gonçalves, ainda é cedo para perceber o impacto para o território. “Não sabemos quais vão ser as consequências, quais serão as consequências do Brexit”, diz.

Da perspetiva da União Europeia, caso se concretize, implica uma alteração substancial no que toca ao relacionamento com o Reino Unido. Assim, ao invés de “um plano multilateral com mecanismos de consensualização para decisão conjunta”, no que toca ao Reino Unido, passa a haver relacionamento a um nível bilateral. “A União Europeia (…) tem depois relações de associação e tratados com outros parceiros, em que existem mecanismos de livre circulação de bens, capitais e serviços — não tanto de livre circulação das pessoas e trabalhadores — mas onde existem mecanismos favoráveis para esses países com quem estabelece relações de associação”, esclarece o analista. “Com a Grã-Bretanha, talvez use esse mecanismo de associação”, acrescenta.

Dado que a atual primeira-ministra da Grã-Bretanha, Theresa May, é “uma mulher extremamente liberal, do ponto de vista económico, e a linha ideológica é de incremento das relações de livre comércio e de livre troca de serviços e colaboração nas tecnologias”, Arnaldo Gonçalves declara que, concretizando-se o Brexit, “a Grã-Bretanha fica mais solta para se colocar numa posição de referência em relação à China”, sem estar dependente da União Europeia. “A Grã-Bretanha andava como se fosse monitorizada pelo tipo de compromissos que estabelecia e tinha de prestar contas perante o Conselho Europeu deste tipo de relações bilaterais”, vinca.

Concretizando-se o Brexit, o docente acredita que Xangai não é uma alternativa a Hong Kong. “A China ainda tem muito a aprender para funcionar como economia de mercado; quando há flutuação do sistema bolsista, a China ainda não aprendeu a lidar com isso; a sua apetência intervencionista vem ao de cima e normalmente assusta os investidores”, realça.

Por seu lado, Macau “não é uma praça financeira — nunca teve condições para ser, não tem uma vivência, uma vida própria em termos financeiros que possa ser alternativa”. Posicionando-se na “linha de fornecimento de materiais e certos serviços”, Macau poderá aproveitar a ocasião, se se souber integrar. “Por que não aproveitar esta boleia de Hong Kong?” De outra forma, Macau “não terá capacidade”, uma vez que o empresariado aqui a atuar está sobretudo centrado na região vizinha. “É gente de Hong Kong; aparecem sistematicamente em Hong Kong, o centro de negócios; Macau é um satélite.”

Luciana Leitão

ED #123

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