Rafael Shikani, historiador e analista político moçambicano, alerta para “a gravidade” da proposta do líder da Renamo. Em declarações ao Plataforma Macau, Shikani considera, no entanto, que se trata de uma manobra política de Afonso Dhlakama.
PLATAFORMA MACAU – Como observa as ultimas declarações do presidente da Renamo, sobre a criação da república do centro e norte de Moçambique, da qual vai ser presidente?
RAFAEL SHIKANI – São declarações preocupantes, considerando que está em causa a própria estabilidade do país. São princípios que vão contra o formato do Estado moçambicano. Eu não sei se as pessoas entendem o alcance do que o líder da Renamo está tentar dizer. Uma simples menção desta natureza já revela que o líder da Renamo poderia ser um factor de divisão, alertando para uma probabilidade do cenário sudanês, onde houve uma divisão que criou o Sudão do norte e Sudão do sul, tendo em conta o tom que a Renamo estava dar. Isto revela que tanto a Renamo como o seu líder corporizam uma agenda diferente. Com essa posição, a Renamo não está ser democrática, pode ser que eventos associados a ela no processo de destabilização tenham trazido o multipartidarismo, mas a democracia como tal a Renamo mostra-se longe dela. O argumento da Renamo é quantitativo e não qualitativo.
P. M. – Quais são as consequências imediatas para nossa política deste tipo de posicionamento?
R.F. – Para começar, isso depende muito do que a Renamo vai fazer para materializar suas exigências. Recuando na história, isso implicaria naturalmente uma acção de natureza militar. Porque o Estado moçambicano não vai permitir e nem admitir que isso se realize. Fora a euforia das pessoas é preciso analisarmos o que isto significa. Moçambique tem um legado desde o processo da colonização e da cristianização. Então, estas três regiões (sul, centro e norte) fazem parte de um Estado que partilha, para além da história da língua, diversos elementos comuns. Então, não se pode permitir que um discurso de uma pessoa venha deitar isto a baixo. Isso seria o cúmulo e a insignificância do próprio Estado. Num outro país, as declarações do presidente da Renamo seriam levadas a sério. Na verdade, este é um esforço político da Renamo para poder valorizar o único vértice em que se entende com o Governo. O líder da Renamo quer, na verdade, transferir todas estas questões para o Centro de Conferências Joaquim Chissano [em Maputo, onde decorrem conversações com o governo da Frelimo].
Estêvão Azarias Chavisso, Maputo
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