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Noé Nhantumbo* – “FRIEZA PATRIÓTICA” É A MEDICAÇÃO QUE SE ACONSELHA

 

Preservar a PAZ é o mais importante e vital para os moçambicanos. Não queremos mais mártires.

 

Existem pessoas que, ao abrigo da sua comodidade e com as possibilidades que possuem, advogam de viva voz uma espécie de rebelião popular contra os resultados das eleições de 15 de outubro de 2014. Esse passo e conselho seriam um suicídio para muitos compatriotas face ao tipo de reação que as FIR [Força de Intervenção Rápida] adotam em casos de manifestações. A tese de que não se pode matar todo um povo é de pessoas que nada têm a perder e não se arriscam a ir para o terreno.

Sou contra isso, na medida em que tais “advogados do diabo” quase sempre são os primeiros cobardes que lançam os outros para o combate e esperam pelos resultados das batalhas sentadinhos sorvendo a sua cerveja ou whisky.

A revolução de que alguns falam é algo de gabinete, pensado como solução da sua falta de acesso ao “bolo” nacional. Esperam que os outros se sacrifiquem, para depois tirarem os respectivos benefícios. São teóricos de revoluções, mas nunca se “queimam”.

O momento é de extrema gravidade para que os líderes da oposição sejam empurrados para a fogueira política. Moçambique quer e precisa de Afonso Dhlakama e Daviz Simango vivos e não abatidos por balas intencionadas ou perdidas.

A revolução feita no Facebook é bem fácil e cómoda.

Houve e há problemas relacionados com todo o processo eleitoral, mas reconheça-se que os problemas começaram logo que começou a haver pressa de cumprir prazos. Deixou-se passar a oportunidade de estabelecer mecanismos de controlo do “procurement” eleitoral e da sua distribuição no país. Confiou-se em demasia quando já havia uma experiência anterior de “jogador batoteiro na área” sobejamente conhecida. Fingir “penalties” na grande área, para depois accionar a PRM/FIR. É assim que se executa o enchimento de urnas, e isso era sabido.

As eleições foram realizadas sem a necessária despartidarização das Forças de Defesa e Segurança, negociada e acordada em sede de negociações no Centro de Conferências Joaquim Chissano. E pelo grau e nível de intervenção destas forças, isso terá sido fatal para as aspirações da oposição e dos moçambicanos. Tudo foi feito muito “sobre o joelho”, numa estratégia de cumprir imperativos constitucionais.

É fácil delinear estratégias livrescas partindo de posições cómodas de pretensos centros de estudos estratégicos. Abundam analistas políticos e pretensos estrategas de TV. Os sacrifícios consentidos pelos moçambicanos devem ser honrados através de factos concretos como a manutenção da paz.

A longevidade dos apetites totalitários no país deve-se exatamente à posição comodista de parte da sua população informada e formada. Cobardia intelectual e política, comodismo das chamadas organizações da sociedade civil, precariedade organizativa entre os partidos políticos da oposição, ausência de visão estratégica e de liderança concorrem sem dúvida para resultados menos satisfatórios.

Os promotores da doutrina da continuidade são os mesmos que hoje festejam vitórias manchadas de fraude. Continuidade da mediocridade que lhes é intrínseca não surpreende, pois é o único que sabem fazer e defender, pois têm plena consciência de que não aguentam com uma concorrência feita honestamente.

Face à podridão do regime do dia, que procura por todos os meios ao seu dispor continuar a governar, pois essa a única forma de sobrevivência e de manutenção do “status” de uma elite, há que descobrir formas inteligentes de abordar o assunto.

É tempo de recordar que, por exemplo, no México, levou 60 anos para que o partido antes detentor do poder fosse colocado na oposição. Não desejo de modo algum que os moçambicanos tenham que esperar 60 anos para que a democracia se concretize e que a manipulação seja vencida.

O apelo para todos é que haja contenção estratégica que preserve vidas humanas e abra espaços para outras formas de fazer política sem um regresso a uma guerra fratricida.

Seria extremamente perigoso que houvesse das lideranças da oposição algum tipo de precipitação. Os falcões da guerra estão à espreita, e agora, com a “legitimidade forçada”, lançariam mãos a todo o expediente preparado. Não seria de estranhar que haja pré-acordos para que forças armadas estrangeiras intervenham no país para mitigar crises internas pós-eleitorais.

Nesta ressaca eleitoral, convém que, ao nível de cada partido concorrente, se tirem as lições de um processo complexo e sinuoso.

Muitos aspirantes a deputados sairão defraudados com os resultados finais, mas isso deve ser-lhes atribuído, na medida em que, ao invés de se lançarem num verdadeiro trabalho político, se limitaram a navegar na “crista da onda” do partido do seu candidato presidencial. Alguns julgaram que a “boleia” estava garantida para um lugar ao sol.

Há muitos aspetos que necessitam de um olhar atento e crítico ao nível de todos os partidos concorrentes, da posição e da oposição.

Estes pleitos eleitorais terão sido os últimos em presença activa da geração dos “libertadores”. O seu esforço por vencerem não se traduz, em si, numa herança sustentável, pois quem toma o poder serão jovens com agendas díspares e apetites diversos.

Recompensar toda uma fauna acompanhante de qualidade duvidosa será um exercício extenuante e complexo. Moçambique precisa de mostrar a maturidade necessária para não resvalar para uma violência que seria aproveitada por elementos defensores de soluções sinistras.

Moçambique não precisa de mais mártires.

 

*Canal de Moçambique

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