Depois de 15 anos na oposição, o MpD não pode permitir-se perder mais uma oportunidade de governar.
Arrancou o ano político pré-eleitoral. Nos dois meses até o fim do ano e ao longo de 2015 a atenção dos caboverdianos vai ser progressivamente mobilizada para a escolha do partido que será governo nos cinco anos a partir de 2016. Mais do que em qualquer momento da legislatura, a ação política dos dois maiores partidos, o MpD e o PAICV, no parlamento, nos municípios , na sociedade e na comunicação social será marcada pela necessidade de demonstrarem que as políticas que preconizam podem garantir um futuro de prosperidade ao país.
O momento que o país vive não é dos melhores. A economia mantém crescimento raso (o FMI prevê 1% do PIB em 2014), o desemprego continua elevado e os problemas sociais amontoam-se. O mundo ainda sofre as consequências da crise internacional com particular impacto na União Europeia, o principal parceiro económico do país, não são muitas e as esperanças de franca e vigorosa recuperação da dinâmica económica.
O ano político começa com o governo a preparar o último orçamento da legislatura, esforçando por parecer otimista com previsão de crescimento em 2015 de 3 a 4% do PIB. Previsões similares infelizmente no passado recente não condisseram com a realidade do crescimento do PIB, designadamente em 2012 que foi de 1%, em 2013 de 0,5% e a estimativa atual de 1% em 2014. Mas em ano eleitoral nunca se sabe. A tendência dos partidos no governo é de “abrir bolsa”, mesmo que depois todos paguem pelas despesas feitas em excesso. Um sinal já da sensibilidade eleitoral que poderá marcar a acção do governo durante este ano vê-se na forma como se prontificou a resolver a questão das centenas de habitações do programa “Casa para Todos” que até agora têm estado desocupadas. Os escolhidos vão poder chegar a um acordo com o Estado sem que passem pelos rigores de avaliação do sistema bancário para a cedência de crédito.
Para o partido que suporta o governo [PAICV], o desafio do período pré-eleitoral apresenta dificuldades acrescidas. Naturalmente que se espera que mostre os efeitos de desgaste junto ao eleitorado de mais de 14 anos de governação ininterrupta. A isso ainda se ajunta a situação atual com fraquíssimas oportunidades particularmente para os jovens e a perceção geral de que as coisas não vão bem no domínio da luta contra a criminalidade e que a insegurança tende a aumentar. A escolha feita de procurar a renovação da liderança pela via de disputa com vários candidatos está ainda por provar que trará consigo uma onda de renovação do partido que fará as pessoas acreditarem mais uma vez.
A opção por ter um novo líder mais de um ano antes das eleições vai trazer desafios inéditos. A tensão normal entre governar e manter em simultâneo uma agenda eleitoral será potencialmente maior. Ter-se-á um líder em ascensão e à procura de espaços de protagonismo e de oportunidades e um outro líder já no seu ocaso certamente com alguma preocupação com o seu legado particularmente se tiver ambições políticas futuras que ultrapassem fronteiras puramente partidárias. Também uma outra fonte de tensão poderá resultar dos ajustamentos no governo e na liderança do grupo que se seguirão à selecção do novo presidente do partido. Não deixará de ter consequências o facto de os candidatos ocuparem posições proeminentes no governo e na liderança do grupo parlamentar.
O partido da oposição, o MpD, não vive presentemente a tensão de uma candidatura disputada para a liderança. Isso tem alguns efeitos positivos e outros já não tanto. A atual liderança foi eleita há mais de um ano num processo consensual de sucessão que, se por um lado evitou eventuais tensões e fraturas, por outro ficou distante do próximo pleito eleitoral e, por isso, não beneficia mais perto da energia galvanizadora que nos partidos normalmente acompanha os processos de escolha de novas lideranças. Há quem advogue que nestas circunstância se deva organizar eventos suficientemente mobilizadores dos militantes e simpatizantes como substituto ou então que se organize uma convenção para imprimir uma fresca legitimidade ao candidato do partido a primeiro-ministro.
As eleições que se aproximam são cruciais para o MpD enquanto partido do arco do poder e críticas para a democracia cabo-verdiana. Depois de 15 anos na oposição, o MpD não pode permitir-se perder mais uma oportunidade de governar. Não obstante o seu forte legado nos anos de construção democrática, é fundamental para a consolidação do seu eleitorado e afirmação como partido político que governe mais uma vez. Também estas eleições são críticas para Cabo Verde porque uma eventual vitória do PAICV poderia estabelecer um sistema hegemónico com um partido dominante que claramente seria prejudicial à democracia cabo-verdiana que ainda está nas primeiras décadas da sua existência.
O grande desafio de Cabo Verde é retomar os níveis de crescimento económico que lhe permitem resolver o problema do desemprego, melhorar o rendimento das pessoas e dar uma resposta cabal às exigência de desenvolvimento em todas as ilhas. Para isso é fundamental que se encontre a via certa para o país abandonar de vez o modelo de reciclagem de ajuda externa e apostar no aumenta da produtividade necessária para dar emprego e garantir a competitividade externa. Este ano eleitoral deve ser de debate aprofundado para se chegar a respostas definitivas na construção do futuro.