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“TURISMO CULTURAL PODE IMPULSIONAR INDÚSTRIAS CRIATIVAS”

 

O Departamento de Promoção das Indústrias Culturais e Criativas foi criado em 2010 com a missão de desenvolver novas áreas capazes de gerar riqueza além do jogo. Chan Peng Fai, que lidera este serviço público, reconhece limitações no mercado local e diz que o caminho passa antes de mais pela exploração do turismo cultural.

 

Captura de ecrã 2014-07-18, às 9.02.38 PMPLATAFORMA MACAU – O Governo quer desenvolver as indústrias criativas para diversificar a economia. Porquê e qual a importância das indústrias criativas para Macau?

Chan Peng Fai – É pelo facto de a economia de Macau estar dependente da indústria do jogo que o Governo pretende diversificar a economia e, por isso, está a apostar no desenvolvimento de outras indústrias, entre as quais as indústrias culturais e criativas, a par do turismo, convenções e exposições. Isto porque o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas tem não só efeitos positivos a nível económico, mas também a nível social.

 

P.M. – Na perspetiva do Governo de Macau, o que são indústrias criativas? 

C.P.F – Segundo a lei de Macau, indústrias culturais e criativas são as atividades económicas que tenham por base vivências culturais e que, por meio da criatividade e da propriedade intelectual, visem produzir bens, prestar serviços e proporcionar experiências com valor cultural, bem como criar riqueza, oportunidades de emprego e promover a melhoria da qualidade de vida em geral. Através do desenvolvimento destas indústrias, a população pode utilizar a sua criatividade e recursos sociais para, por exemplo, serem criadas oportunidades de emprego e para se melhorar a qualidade de vida, especialmente no aspeto cultural.

 

P.M. – Os casinos integram este conceito? 

C.P.F – Sim, consideramos as exposições e espetáculos realizados pelos casinos como parte das indústrias criativas. Mas como o objetivo é diversificar a economia, a longo prazo, o que queremos fazer é desenvolver estas indústrias de forma independente dos casinos. Mas nos próximos cinco anos vamos estar a depender dessa vantagem, porque a partir dela poderemos desenvolver melhor estas indústrias.

Já a longo prazo, quando falamos de comércio e internacionalização, referimo-nos às indústrias criativas de forma independente dos casinos. Isto para evitar que não colapsem também no caso de o negócio dos casinos e do turismo não correr bem.

 

P.M. – Que áreas está o Governo a privilegiar no desenvolvimento das indústrias criativas?

C.P.F – O Instituto Cultural está focado essencialmente no design, na música, vídeo, banda desenhada/animação, artes performativas, artes visuais, publicações e moda. Mas no ano passado foi criado o Fundo das Indústrias Culturais que está focado em tudo o que está relacionado com as indústrias culturais e criativas, mas de um ponto de vista mais comercial, nomeadamente no design criativo, exposições e espetáculos culturais, coleção de obras artísticas e mídia digital.

 

TURISMO CULTURAL

P.M. – O Governo tem algum objetivo em termos do peso que que as indústrias criativas poderão representar no Produto Interno Bruto (PIB)?

C.P.F – Ainda estamos a recolher estatísticas sobre quanto as indústrias criativas estão a gerar a nível de receitas e sem este número não conseguimos prever o que poderão gerar nos próximos cinco ou dez anos. Precisamos, portanto, de esperar por este número antes de dizermos que queremos este nível de crescimento ou de peso no PIB.

Há territórios onde as indústrias criativas se desenvolvem muito bem, mas em termos do PIB, talvez ocupem apenas uns 10%, por isso será muito difícil elas tornarem-se na segunda ou terceira atividade económica mais importante de Macau.

 

P.M. – Quais são então as metas já definidas?

C.P.F – Nestes cinco anos procurámos criar as bases para o desenvolvimento destas indústrias. Precisamos de boas bases para que não dependam do Governo, mas consigam desenvolver-se de forma independente, contando eventualmente apenas com o apoio de alguns dos nossos subsídios.

Entre 2015 e 2020, esperamos conseguir que elas venham a ter uma dimensão média. Também pretendemos apoiar estas indústrias para conseguirem estabelecer as suas próprias marcas e, depois de 2020, o plano de dez anos tem já objetivos comerciais e de cooperação regional, ao nível do Delta do Rio das Pérolas. Uma das coisas importantes que gostaríamos de desenvolver é o turismo cultural, porque pode também impulsionar o desenvolvimento das indústrias criativas. Para este fim precisamos de levar os nossos produtos para fora de Macau, promovendo-os a nível regional e internacional.

 

P.M. – Colocar as indústrias criativas ao serviço do turismo é um objetivo?

C.P.F – Sim, por isso pretendemos promover o turismo cultural. Como Macau recebe muitos turistas, o que estamos a fazer é recuperar espaços para que sejam colocados ao serviço das indústrias culturais e criativas para que possamos desenvolver o turismo cultural e oferecer serviços culturais aos nossos turistas. Mas o objetivo a longo prazo é não só atrair turistas culturais, mas também levar os nossos produtos e serviços para fora de Macau, nomeadamente para o mercado asiático, como artes performativas, filmes.

 

P.M. – Pretende-se também explorar o papel de Macau como plataforma entre a China e a lusofonia nesta área?

C.P.F – Queremos promover os nossos produtos um pouco por todo o mundo, e também nos países de língua portuguesa. Temos já muitos programas de intercâmbio com a lusofonia, por exemplo, a nível das artes performativas e do cinema.

 

P.M. – Quais são os grandes projetos em curso?

C.P.F – Estamos a renovar o Cinema de Arte, na Travessa da Paixão, perto das Ruínas de São Paulo, que estará pronto no final do ano e, no primeiro semestre de 2015, vamos lançar um concurso público para o gerir. Estamos também a transformar as antigas oficinas navais numa área para exposições de arte contemporânea e para artes performativas – as obras deverão terminar em meados de 2015 – e também a revitalizar o Pátio da Eterna Felicidade, que no futuro poderá ser um espaço para as indústrias criativas e culturais.

 

P.M. – Qual o principal mercado-alvo das indústrias criativas de Macau?

C.P.F – Os turistas.

 

TALENTOS

P.M. – Que balanço faz do trabalho já realizado?

C.P.F – No final de 2010, havia em Macau 90 empresas nas indústrias criativas e no final de junho havia 141, quase o dobro. As bases que estamos a construir estão a funcionar muito bem, tanto no cinema como noutras áreas como a música pop e animação.

O Governo está a desempenhar um papel de assistência e de apoio, porque, em última instância, queremos que estas indústrias sejam guiadas pelo mercado, porque são indústrias comerciais. Por isso, estamos a dar subsídios e, em 2010, descobrimos que temos falta de talentos nesta área. Por isso, estamos a cultivar talentos, especialmente na área da gestão. Em 2010 estabelecemos uma cooperação com o Instituto de Formação Turística para programas de formação na área da gestão de artes e cultura e estamos a trabalhar num subsídio para estágios em associações culturais, porque temos muitas, portanto, o objetivo é profissionalizá-las.

Também recuperámos espaços para as indústrias se desenvolverem e para promoverem os seus produtos.

 

P.M. –  Pretende-se a criação de cursos/escolas nesta área?

C.P.F – Se esperarmos pela criação destes cursos levará muito tempo até à formação de talentos, por isso a forma mais rápida de os conseguirmos é enviando pessoas para fora de Macau para estudar e lá fora também alargam os horizontes e ficam a conhecer o mercado internacional. Portanto, para já, o objetivo é enviar estudantes lá para fora enquanto as instituições locais desenvolvem estes programas.

 

P.M. – Quais as principais vantagens e desafios de Macau para o desenvolvimento das indústrias criativas?

C.P.F – As nossas vantagens são a multiculturalidade, o facto de sermos um mercado livre e termos património classificado e a situação económica, que nos permite ter mais recursos para desenvolver estas indústrias. Como estamos ainda numa fase inicial de desenvolvimento ainda não temos talentos suficientes, por isso, nos próximos cinco anos queremos trabalhar mais no sentido de formar mais pessoas nesta área. A falta de espaço é um problema de Macau, por isso é que a cooperação regional é muito importante.

 

P.M. – Como é que os bens e serviços das indústrias criativas locais poderão concorrer com os de outros países?

C.P.F – A cultura local tem influência chinesa e ocidental, portanto, os produtos locais terão essa qualidade. Se conseguirmos fazer um bom uso desses elementos, essa será a nossa vantagem competitiva.

 

 

Entrevista DossierO HOMEM POR DETRÁS DAS IDEIAS

Chan Peng Fai tem 40 anos, nasceu em Macau e estudou Antropologia em Taiwan. Após a conclusão da licenciatura e mestrado, trabalhou um ano como investigador académico na ilha e decidiu regressar à terra-natal. O Museu de Arte de Macau ofereceu-lhe um primeiro emprego como investigador, tendo depois desempenhado aí funções de curador. Em 2010, Chan Peng Fai é chamado para chefiar o recém-criado Departamento de Promoção das Indústrias Culturais e Criativas do Instituto Cultural, cargo que ocupa até hoje.

Apaixonado pelas artes desde muito cedo, Chan Peng Fai desenha, pinta a óleo e dedica-se à fotografia quando tem tempo para exercitar a sua própria criatividade.

 

Patrícia Neves

 

 

 

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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