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Subsídios em Hengqin não convencem jovens de Macau

Começou este mês a política de subsídios a jovens qualificados de Macau, incentivando-os a trabalhar em Hengin. Contudo, as 4.380 patacas mensais revelam-se para já insuficientes para convence muita gente. Há desafios difíceis de ultrapassar, tais como a disparidade salarial, o ambiente profissional mais competitivo, ou as dificuldades adaptação

Viviana Chan

O Gabinete para os Assuntos de Subsistência da Zona de Cooperação Aprofundada ativou no primeiro dia de fevereiro as ‘Medidas Provisórias para Apoiar o Emprego para Jovens de Macau’. Estratégia essa que visaincentivar jovens de Macau a trabalharem em Hengin, apoiando as empresas que os queiram contratar com 4.000 yuans mensais. Contudo, o interesse que oincentivo desperta não tem cumprido as expectativas.

Nick Ng, diretor-executivo da BoardWare Intelligence Technology, com escritórios em Macau e Hengqin, explica ao PLATAFORMA que “esta política acaba de ser implementada, mas a sua aplicação e processos de aprovação, por enquanto, não serão assim tão rápidos”. Até porque as pessoas estão ainda numa fase de estudo das metodologias e critérios de candidatura. Embora muitos jovens se mostrem interessados na política de subsídios, o número real de candidatos não é elevado.

Ng considera o subsídio mensal – 4.380 patacas por pessoa – insuficiente para compensar a diferença salarial entre Macau e a China continental. Por outro lado, “o posicionamento industrial de Hengqin é complementar ao das quatro novas indústrias de Macau – até certo ponto – mas o grau de concentração empresarial está ainda numa fase inicial”, comenta o gestor. Embora a maioria das empresas em Hengqin sejam de alta tecnologia, ou investigação e desenvolvimento tecnológico, com salários relativamente elevados, há ainda um fosso para a maioria das ofertas de emprego em Macau.

Se a indústria em causa não tiver grande potencial em Hengqin”, os jovens de Macau não vão considerar vir aqui como uma oportunidade de desenvolvimento
Hazel Huang, empresária de Medicina Tradicional Chinesa

Outro desafio que se coloca aos jovens de Macau é o do diferente ambiente competitivo. “Muitos jovens do continente vão também trabalhar para Hengqin”; e Ng reconhece que, “no início de carreira, podem ter vantagens em relação aos jovens de Macau”. Sugere por isso que os jovens RAEM mudem a sua mentalidade e apostem na certificação de competências profissionais mais relevantes, que aumentem a sua competitividade. Além disso, lembra Ng, os jovens de Macau enfrentam um período de adaptação quando começam a trabalhar em Hengqin, nomeadamente no capítulo dos transportes. Mais de uma dúzia de colegas seus desloca-se regularmente entre Macau e Hengqin; e, no início, enfrentaram problemas adaptação. Apesar disso, a melhoria nas linhas de transporte, sobretudo com o metro ligeiro, reduzirá esse problema.

Perspetiva profissional é a chave

Uma jovem empreendedora de Macau em Hengqin considera que as perspetivas de desenvolvimento de um determinado setor são determinantes para que os jovens de Macau escolham trabalhar em Hengqin. Hazel Huang, empresária de Medicina Tradicional Chinesa, em Macau; e CEO da Bay Valley Technology Research, auxiliou mais de 60 profissionais de MTC a trabalharem no Hospital de Hengqin. Embora considere os subsídios um incentivo “positivo”, acredita que o maior obstáculo é a “perspetiva de longo prazo” que justifique a mudança.

Embora os incentivos abram mais opções para quem está interessado ​​em Hengqin, Huang sublinha que, só por si, os subsídios “não podem resolver completamente o desafio a longo prazo do emprego jovem”, sobretudo em setores específicos. Por exemplo na MTC, a procura em Hengqin é limitada, o que restringe as oportunidades de desenvolvimento profissional. “Se os talentos médicos de Macau quiserem trabalhar em Hengqin, provavelmente só existem duas opções: uma é ser empregado pelo único hospital de medicina chinesa; outra é ingressar numa clínica privada”. Contudo, a maioria delas nem sequer pode contratar profissionais em Macau. E os empreendedores que decidam abrir clínicas privadas em Hengqin, muito para além dos incentivos, têm de fazer contas aos custos de capital, rendas e mão-de-obra. A escala atual do mercado de MTC em Hengqin “não consegue ainda sustentar este modelo de negócio”.

Muitos jovens do continente vão também trabalhar para Hengqin (…) No início de carreira, podem ter vantagens em relação aos jovens de Macau
Nick Ng, director-executivo da BoardWare Intelligence Technology

Neste contexto, Huang acredita que os maiores beneficiários da política de incentivos são as empresas de Macau que já estabeleceram filiais em Hengqin. Têm os seus próprios empregados de Macau e estão mais aptas a atrair pessoas de Macau para Hengqin. Já no caso dos trabalhadores individuais, Huang acredita que o subsídio salarial não é decisivo. O fator-chave, sustenta, sãos as perspetivas de futuro no setor que lhes ofereça emprego: “Se a indústria em causa não tiver grande potencial em Hengqin”, os jovens de Macau não vão considerar vir aqui como uma oportunidade de desenvolvimento”. Huang assume que áreas como as dos novos media e tecnologia têm um maior potencial em Hengqin, atraindo mais a atenção dos jovens de Macau. Contudo, no caso da MTC, a dimensão do mercado e a procura são ainda limitadas, o que faz com que os jovens de Macau hesitem quando consideram emprego em Hengqin.

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