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Comboio da Inteligência Artifical atrasado em Macau

A Inteligência Artificial pode trazer melhorias significativas, por exemplo, na educação e na saúde. Contudo, Macau está ainda a milhas da evolução que se regista no interior da China, quer em termos tecnológicos quer na legislação, alertam especialistas. Há ainda muito trabalho a fazer

Nelson Moura

Especialistas de programação e tecnologia alertam: Macau está muito atrás do interior da China no que toca ao uso de IA para a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento económico.

Alfred Wong, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Macau, diz que a atenção gerada pelo novo modelo DeepSeek apresenta uma boa oportunidade para Macau e China acelerarem a fundo no desenvolvimento desta tecnologia, e suas aplicações práticas.“A IA pode ser utilizada nas mais diferentes áreas; à medida que se torna mais inteligente, avança ainda mais as nossas vidas”, diz ao PLATAFORMA.

A notícia caiu como uma bomba nos mercados internacionais. A DeepSeek, modelo de inteligência artificial produzido por uma startup de Hangzhou, mostra umdesempenho equivalente ao de rivais anorte-americanas, como a OpenAI, apesar de ter sido desenvolvido por uma fração do custo. O modelo chinês foi também lançado em código aberto; o que pode iniciar uma torrente de novos avanços no setor.

Se conseguirmos aplicar a IA no nosso dia a dia, e no trabalho, poderemos libertar tempo para aprender conhecimentos mais avançados e melhorar o nosso desempenho profissional
Alfred Wong, Universidade de Macau

Segundo Wong, a IA poderá ajudar principalmente em tarefas repetitivas como a “elaboração de discursos, apresentações em PowerPoint, e design, entre outras”; mas deve ser usada em conjunto com o conhecimento profissional de cada trabalhador.“Se conseguirmos aplicar a IA no nosso dia a dia, e no trabalho, poderemos libertar tempo para aprender conhecimentos mais avançados e melhorar o nosso desempenho profissional”. No entanto, avisa, são precisas “leis mais adequadas” para lidar com os resultados da aplicação de IA; caso contrário, Macau ficará “para trás relativamente a outros países ou cidades nesta área. Precisamos também de oferecer mais formação aos nossos residentes. Esta geração precisa de aceitar a IA nas suas vidas”, remata.

Atrás do Continente

A investigação na área da IA foi considerada uma importante ferramenta para atingir os objetivos estabelecidos no 2.º Plano Quinquenal (2021-2025) da RAEM. Contudo, nas Linhas de Ação Governativa de 2024, último ato de Ho Iat Seng como Chefe do Executivo, lê-se apenas uma menção sobre esta tecnologia, referindo esforços para “aprofundar a literacia científica dos alunos” sobre IA. E ainda não se viu nenhuma menção específica por parte do novo Executivo de Sam Hou Fai.

No interior da China, está já projetada uma Lei de Inteligência Artificial, desde março do ano passado; mas a RAEM nainda não avançou ainda com legislação semelhante. No ano passado, a Diretora dos Correios e Telecomunicações de Macau, Debbie Lau, anunciou que o Governo adotaria a estratégia de “esperar para ver”, observando primeiro experiências do quadro regulamentar, por exemplo, na União Europeia, para depois as utilizar como referência.“Ainda não temos regulamentos legais para supervisionar o uso da IA. Como a sua implementação na cidade está numa fase inicial, o Governo esperará para ver o que acontece e analisará regulamentos como a estrutura da UE”, comentou Lau.“A extensão dos usos da IA para a vida pessoal precisa de ser estudada de perto e as diretivas europeias da UE podem ser uma orientação”, concluiu.

A IA demonstra ter forte potencial em ambos os campos (saúde e educação); ideais para que nos concentremos neles
Rickie Too, profissional de IT e marketing

Para Rickie Too, profissional na área da tecnologia, o nível de uso da IA em Macau, em comparação com a China continental, tem “diferenças significativas (…) Por exemplo, na logística e na gestão da cadeia de abastecimento, os grandes modelosdelinguagemdesempenham agora um papel crucial ao gerar automaticamente instruções de planeamento e previsões de custos para os gestores, com base em dados de inventário e fornecedores em tempo real”. Tarefas, essas, que “anteriormente exigiam o envolvimento de programadores e equipas de análise de dados para fazer ajustes de planeamento”.

Too ajudou a desenvolver a WISOO A.I, a primeira plataforma local baseada em tecnologia de IA para o sistema de transportes públicos. Contudo, comenta, em Macau os cenários aplicáveis à IA são ainda bastante limitados, pois é uma cidade “essencialmente virada para o turismo, especialmente com foco no turismo de luxo”.E “um dos principais valores do setor é a hospitalidade, que exige um nível de serviço personalizado e acolhedor que a IA não consegue replicar atualmente. Portanto, os robôs de serviço controlados por IA não têm muita utilidade prática no panorama da hospitalidade do mundo real”.

Apesar disso, Too acredita que há setores específicos onde a IA pode trazer melhorias substanciais, particularmente nos campos da educação e da saúde. “Mesmo em cidades bem desenvolvidas, estas duas áreas apresentam frequentemente deficiências notáveis que frustram os cidadãos. A IA demonstra ter forte potencial em ambos os campos; ideais para que nos concentremos neles”, conclui.

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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