– Macau tem capacidade para os eventos que deseja organizar; ou já devia ter evoluído? Que tipo de melhorias podem ser ainda introduzidas?
Patrícia Cheong – Como todos sabemos, Macau sempre teve limitações relativamente aos espaços. Temos eventos desportivos bastante bons, em escala eventos pequena ou média, mas precisamos de ser muito seletivos sobre os eventos que realizamos. Se quisermos algo maior, ou com padrões internacionais, então, claro, temos limitações. Por exemplo, não temos um estádio de nível internacional; logo é bem bastante óbvio que estamos bastante limitados para eventos desportivos.
– Os Jogos Nacionais, neste ano de 2025, podem ser um teste – ou oportunidade – para se melhorarem as instalações desportivas?
P.C. – Os eventos desportivos que Macau vai receber nos Jogos Nacionais deste ano são mais pequenos, como o karaté e o basquetebol 3×3. Só temos estes eventos mais pequenos, de acordo com os locais que temos; não acho que isso vá ajudar a testar a nossa capacidade. Acho que Macau já tem bastante experiência em eventos desportivos de menor escala, como por exemplo a Liga das Nações de voleibol feminino; ou o ténis. Se me pergunta sobre instalações, acho definitivamente que precisamos de algo mais; devíamos pelo menos ter um estádio de nível internacional, realmente multifuncional, para jogos de futebol ou concertos.
Macau vai enfrentar concorrência severa na região, nos próximos três a cinco anos; devemos criar algo único e ser capazes de liderar o mercado do entretenimento
– A Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental continua a ser mal explorada?
P.C. – Não a temos utilizado – e não entendo; mas também ouvi muitos especialistas de fora que disseram que o Estádio da Taipa, bem como a Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental, não estão ao nível de outros recintos internacionais. Mesmo que quiséssemos ter clubes de futebol de topo – desporto tão popular em Macau – não teriam confiança em vir. Não faz sentido numa cidade com tantos recursos financeiros como Macau. A curto e médio prazo temos definitivamente de planear a renovação dos recintos existentes.
– Há agora no Cotai um novo espaço ao ar livre para eventos de grande escala, para 50.000 pessoas. É bem-vindo?
P.C. – Gostaria de observar por mais algum tempo como funciona esse recinto; não deixa de ser um espaço vazio – não é um estádio – fornece uma infraestrutura limitada. É bom termos mais um recinto, porque recebi muitos pedidos para eventos ao ar livre: música eletrónica ou festivais seriam ideais para esse espaço.
Deveríamos ter um estádio de nível internacional
– Como pode Macau competir na região com cidades que já organizam eventos em grande escala?
P.C. – Temos muitas vantagens; por exemplo, a nossa força financeira e a imagem cultural única. Macau é uma cidade bastante encantadora, de cultura portuguesa e chinesa, para muitos turistas internacionais; não apenas para os chineses, mas também vindos de países como a Indonésia ou da Malásia. Acham diferente e exótico; é uma vantagem única na região. Macau pode considerar as suas possibilidades dentro dos espaços limitados disponíveis; podemos fazer um estudo sobre o tipo de eventos que já se organizam na região; e organizar eventos relacionados com desportos radicais, que não requerem muito espaço. Por exemplo BMX – ou skate. Podemos ter eventos divertidos e populares, como já fizemos com a UFC; e olhar para Las Vegas como modelo. No entanto, faltam ainda muitas coisas; não temos a nossa própria equipa em muitos desportos. Se quisermos competir, devemos entender os nossos pontos fortes e aqueles que temos de melhorar. Se queremos uma cidade do desporto e entretenimento, a longo prazo precisamos de boas infraestruturas, e de uma cultura de eventos e marcas locais. Temos de perceber em que tipo de desportos somos realmente bons.
– Muitos dos concertos e eventos desportivos focam-se em atrair turistas do interior da China. Deveríamos nesse mercado? Ou atrair um mercado mais internacional?
P.C. – Na verdade, a maioria dos eventos desportivos não está só atrair chineses do Continente. O Grande Prémio de Macau, definitivamente, atrai um público muito internacional; ou o já referido UFC. Já o voleibol realmente atrai mais o público chinês, graças aos bons resultados da seleção chinesa feminina. De qualquer maneira, em termos de eventos desportivos, Macau continua muito no início e temos muito para desenvolver.
No que toca a concertos, concordo; historicamente a maioria dos visitantes são chineses. Tenho visto algumas mudanças, mas lentas. Os organizadores ainda têm que atrair os chineses do Continente, principalmente clientes VIP, mas acho que estão a mudar de estratégia. Há outra razão pela qual precisam adotar uma perspetiva menos regional: muitos dos artistas que cá vêm já espetáculos na China, e os visitantes do Continente não precisam vir a Macau para os ver.
O entretenimento será uma área de competição para todos os destinos turísticos e acho que estamos parados
– Deveria haver mais espetáculos residentes, como em Las Vegas?
P.C. – Sim; é exatamente o modelo de Las Vegas. Depende do tipo de residência que estamos a falar; uns duram 20 anos, outros apenas cinco. Mas, sem dúvida, deveríamos ter mais. Desse modo, quando as pessoas perguntarem o que podem fazer em Macau, temos espetáculos de referência que podemos mencionar. Felizmente, o The House of Dancing Water vai regressar, mas precisamos de mais. O aspeto único dos espetáculos residentes é muito atrativo. O Studio City tem tentado um modelo de semi-residência, que funciona, mas não é perfeito. Assinaram por exemplo com a cantora pop Joey Young; uma grande artista, mas se atuar umas três vezes talvez não consiga vender tantos bilhetes. Acho que as pessoas se habituam. Os espetáculos residentes precisam oferecer algo original e único, como o The House of Dancing Water; já no caso dos concertos, as pessoas podem ver os artistas noutro lugar. Todos querem criar algo único que possa durar mais.
– O novo Chefe do Executivo prepara as suas primeiras Linhas de Ação Governativa. Quais são as suas sugestões para o setor de eventos?
P.C. – Como Macau vai enfrentar concorrência severa na região, nos próximos três a cinco anos, devemos criar algo único e ser capazes de liderar o mercado do entretenimento. Devemos perguntar qual é a singularidade de Macau e ter um projeto ousado. Vejo muito esforço para desenvolver muitos projetos; mas talvez não precisemos de tantos, porque todos estão a lutar pelo mesmo público. Devemos reunir todos esses recursos e criar algo nas bocas do mundo. O entretenimento será uma área de competição para todos os destinos turísticos e acho que estamos parados; estamos a trazer eventos que a região já tem. Temos o Grande Prémio, mas não temos uma direção clara de como criar uma experiência memorável. Macau deveria melhorar realmente o Grande Prémio; caso contrário, será um grande desperdício porque é um dos eventos desportivos mais importantes da cidade. Poderiam renovar e melhorar o recinto, ou trazer de volta a Fórmula 3. Poderia haver melhorias também para as pessoas que talvez não queiram assistir às corridas, mas apenas desfrutar da atmosfera do Grande Prémio. Devemos construir mais infraestruturas – e pontos de restauração. Devemos ter um único projeto, ou alguns projetos únicos, que estamos a planear, para que mesmo após cinco anos Macau possa ser líder no mercado nos destinos de lazer.