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Vírus não é novo nem causa alarme

A multiplicação de casos de metapneumovírus humano (HMPV), no Norte da China, causa medos e alarme - aparentemente sem motivo. “Depois da Covid, as pessoas ouvem estas notícias e entram em pânico. Mas, neste momento, não me parece haver razões para grande preocupação”, explica o virologista Jacky Cheong, em linha com garantias oficiais dadas China e em Macau

O HPMV não é novo; está é pouco estudado, pelo que os virologistas ainda se retraem ao avaliar a sua perigosidade – e mutabilidade. Certo é que, 20 anos após ser conhecido, nunca mostrou a capacidade de mutação ou de circulação do Influenza, ou do Covid-19. A prevalência anormal de casos no Norte da China fez com que o Centro de Controle de Doenças lançasse um alerta preventivo; seguido em Macau pelos Serviços de Saúde. Contudo, a China desmente rumores sobre superlotação nos hospitais; ou qualquer risco pandémico, à escala da SARS ou do Covid.

Jacky Cheong, virologista que acompanhou a Covid-19, explica ao PLATAFORMA que, “nos últimos 15 anos, vários países começaram a experienciar surtos deste género, especialmente no Inverno. O nosso conhecimento é inferior ao dos países mais desenvolvidos, onde há mais recursos e se recolhem mais dados; mas desde os anos 2.000 temos todos uma visão mais clara: geralmente, um surto pandémico resulta da combinação de diferentes vírus; tais como o Influenza, Coronavírus, ou o RSV”. E, neste caso, não há sinal disso. “O problema é que pouca gente tem conhecimento científico; e, quando ouvem estas notícias, começam a entrar em pânico. Mas, neste momento, não parece haver razões para grande preocupação”.

Todos estes vírus seguem as vias de transporte; por isso há hoje mais surtos, porque o mundo está muito  mais conectado; um vírus passa de Macau para Hong Kong numa hora.
Jacky Cheong, virologista

Cheong evita descrever este vírus como mais – ou menos – perigoso que outros, mas não hesita em assumir que o Influenza e o Covid, por exemplo, já provaram ter “maior capacidade de mutação”, e “circulam de forma muito mais rápida”. O HMPV pertence à família do vírus respiratório-sincicial; e é causa de internamentos hospitalares, sobretudo em crianças, que mais facilmente desenvolvem bronquites e bronquiolites. Foi pela primeira vez identificado em 2001, nos Países Baixos; desde então manifestando-se em vários países e continentes; da Índia à Inglaterra; da Austrália ao Chile e ao Brasil. Em declarações à BBC, o virologista Flávio Fonseca, investigador de Microbiologia na Universidade de Minas Gerais, reconhece haver “poucos estudos” sobre um vírus que circula de forma “rápida e eficaz”. Mas considera que a hipótese do HMPV se transmutar, à semelhança do SARSCoV2 – base do Covid-19 – é “muito pequena”. Até porque há “uma certa imunidade natural”; que não havia quando o Covid-19 que atacou, “o que facilitou a sua propagação pandémica”. Fonseca conclui que o HMPV “não terá o mesmo comportamento global e não se transformará numa pandemia.”

Embora haja casos graves, a maioria das infeções com HMPV acaba em constipações ou infeções respiratórias. É mais perigoso em grupos vulneráveis, como crianças, idosos, ou pessoas com imunossupressão. “É preciso estudar o aumento inesperado de casos, especialmente na China”; e investigar “se houve alguma mutação”. Não há sobre isso resposta definitiva, mas Fonseca acredita que a multiplicação de casos na China não prenuncia nenhum drama.

O HMPV faz há muito parte da lista de vigilância; e a China monitoriza-o há cerca de 20 anos. “Por aquilo que sabemos, afeta sobretudo crianças, mas na verdade ainda há pouco conhecimento sobre ele”, comenta Cheong. “De uma coisa estamos 100 seguros”, remata: “Todos estes vírus seguem as vias de transporte; por isso há hoje mais surtos, porque o mundo está muito mais conectado; um vírus passa de Macau para Hong Kong numa hora. Essa é a grande diferença em relação ao passado”.

Depois do Covid, muitos países estão mais atentos e libertam mais informação. “O que causa o pânico”, comenta Cheong, é que “quanto mais estudamos, e mais atentos estamos, mais números se revelam”. O facto é que “vivemos toda a vida com estes vírus, mas agora todos os dias ouvimos notícias sobre isso”. Entretanto, “também os monitorizamos melhor; e os governos têm mais controlo sobre o risco de surtos. Assim que passam os limites da incidência considerada normal a população é avisada para se prevenir”.

Sintomas e transmissão

Os sintomas mais comuns associados ao HMPV incluem tosse, febre, congestão nasal e falta de ar. Em alguns casos pode evoluir para bronquite ou pneumonia. A infeção geralmente ocorre nos primeiros anos de vida; a reinfeção é comum. O período de incubação varia entre 3 a 6 dias; e a duração média depende da gravidade, mas assemelha-se a outras infeções respiratórias virais. Transmite-se principalmente de uma pessoa infetada para outra por meio de secreções ou espirros, contacto pessoal como apertos de mão; ou toque em objetos e superfícies contaminadas, levando depois as mãos à boca, nariz, ou olhos.

Conselhos dos Serviços de Saúde

  • Vacinar-se anualmente contra a gripe sazonal;
  • Receber em tempo oportuno vacinas recomendadas contra a COVID-19
  • Assegurar que todos os membros do agregado familiar tenham sono adequado, alimentação equilibrada e prática frequente de desporto
  • Manter boa higiene pessoal e lavar frequentemente as mãos
  • Cobrir boca e nariz com lenço de papel, sempre que espirra ou tosse; manusear cautelosamente as secreções orais e nasais com lenço de papel, deitá-lo num caixote de lixo com tampa e limpar imediatamente as mãos. Quando não tiver lenço, cobrir boca e nariz com o cotovelo – não com as mãos
  • Manter boa ventilação de ar e higiene ambiental
  • Evitar deslocações a lugares densamente povoados
  • Usar máscara sempre que apresente sintomas de gripe, necessite de cuidar de doentes; recorrer a hospital ou clínica
  • Em caso de indisposição, ir ao médico e permanecer. Se os sintomas agravarem, voltar ao médico o mais rápido possível

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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