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Boas entradas!

Guilherme Rego*

Termina 2024. Um ano de várias eleições, no universo sino-lusófono, mas também a nível internacional. No primeiro trimestre do ano, Luís Montenegro foi eleito primeiro-ministro português, na sequência da demissão de António Costa, após ter sido tornado público que o então primeiro-ministro era alvo de um inquérito judicial no quadro da Operação Influencer. Hoje, António Costa é presidente do Conselho Europeu. Mas certamente as eleições lusófonas que mais atenção tiveram, pelos piores motivos, foram as de Moçambique. A agência Lusa destaca Venâncio Mondlane – candidato presidencial que constesta a vitória da Frelimo – como personalidade do ano. Os apelos ao protesto dos seus apoiantes nas ruas do país levaram a uma onda de violência pós-eleitoral que ainda não terminou, mesmo depois de dezenas de mortes.

Em Macau também foi ano de eleições. Ho Iat Seng decidiu não avançar para um segundo mandato por motivos de saúde, tornando-se no primeiro Chefe do Executivo da RAEM a não cumprir dois termos. Sam Hou Fai, até então presidente do Tribunal de Última Instância, foi o único candidato a reunir votos da Comissão Eleitoral. Em funções desde 20 de dezembro, não demorou muito tempo a dar ar de si mesmo, fazendo alterações na chefia do IAM, depois de uma investigação interna concluir “falta de rigor” na adjudicação de um contrato para a substituição de 362 placas toponímicas – sem qualidade.

O ataque à China não pode ser o motivo do falhanço da internacionalização de Macau, que é uma região autónoma especial precisamente para ser um canal de entendimento

O novo Chefe do Executivo promete muitas mudanças, em prol dos objetivos da RAEM. A maior mensagem que passou à população é de que a austeridade vivida durante o mandato de Ho Iat Seng faz parte do passado. Muitos pedem flexibilidade no acesso a subsídios e financiamento público. Ho Iat Seng cortou com o despesismo, mas concentrou-se no corte de custos. Os critérios de atribuição, segundo muitos, tornaram-se pouco adequados para a realidade do tecido empresarial e associativo de Macau. Tem de haver rigor, mas não pode ser pautado por uma política de poupança, mas sim de crescimento sustentável das marcas locais. Por outro lado, tem nas suas mãos uma crise económica muito difícil de resolver: as pequenas e médias empresas continuam com muitas dificuldades, e a fechar. O estudo que Sam Hou Fai prometeu – de zona a zona – tem de chegar cedo, sob pena de já nada resolver. Enquanto não vem, seria benéfico ponderar a introdução de “pensos rápidos” que Lei Wai Nong trouxe durante a pandemia (cartões de consumo).

Não obstante, o grande desafio de Sam Hou Fai está na diversificação económica. O turismo recuperou a sua pujança anterior, apesar de algumas dificuldades na recuperação dos mercados externos. As concessionárias fecham o segundo ano de operação sem pandemia com resultados francamente positivos. Ao mesmo tempo, trouxeram uma série de novas iniciativas extra-jogo. Porém, já se expectava que essas duas indústrias voltassem a assumir o crescimento económico da cidade. A diversificação continua frágil, e esperar que as concessionárias a façam é obrigar quem não quer e, pior, consolidar a oligarquia económica de Macau. Tem de haver espaço para outros ‘players’ de menor dimensão, que também trazem outra flexibilidade. Apesar de ver nas concessionárias o músculo financeiro para agilizar a diversificação, o Governo tem de garantir que não incentiva a sua monopolização.

No panorama internacional, Donald Trump venceu a corrida à Casa Branca e promete dificultar a ascensão da China e, por conseguinte, de Macau. Aqui, o desafio estará em perceber como se pode utilizar a autonomia para singrar. O ataque à China não pode ser o motivo do falhanço da internacionalização de Macau, que é uma região autónoma especial precisamente para ser um canal de entendimento.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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