Assumimos neste jornal, em meados de outubro, que o Presidente Xi Jinping viria mesmo comemorar os 25 anos da Região Administrativa Especial Macau – e a posse de Sam Hou Fai. Para além dos preparativos que nessa altura detetámos, multiplicam-se hoje sinais de condicionamento do trânsito; protocolos e procedimentos de exceção; leis e mecanismos especiais de segurança… e até há contactos para a gestão do impacto da sua presença – e mensagem política. Sempre com a reserva de não é ainda oficial; e a agenda de Xi Jinping ser um segredo sensível, há que dizer o que se impõe, confirmando-se a sua visita: seja bem-vindo, cá o esperamos. Temos de saber ouvi-lo – e há coisas que espero que diga.
Por vezes, a cavalo da importância que se presume nesta aldeia; que de facto não tem, face ao gigantismo do país e problemas que a China enfrenta, esquecemo-nos da dimensão política excecional de uma segunda visita presidencial, em apenas cinco anos. Quer do ponto de vista da visibilidade que dá a Macau, a nível nacional, quer no contexto da sua representatividade internacional. Mas certamente quem vive em Macau não tem a mínima dúvida sobre o impacto político da visita do Presidente. O que Xi Jinping disser – ou não – será absolutamente decisivo para os governantes da RAEM. Mas também para a imagem de Macau e da China; desde logo em Portugal, na Europa em geral, e na Lusofonia em particular.
Presume-se que volte a bater nas teclas do amor à Pátria e da segurança nacional. Faz hoje parte do ADN do Governo Central, e do seu líder máximo; ouviremos sem efeito surpresa. Aliás, está já claramente embrenhado – e mil vezes repetido – pela elite local. Mas há muito mais que isso: não tendo a importância que por vezes lhe damos, Macau é um asset político incontornável. Por ser ícone do conceito de autonomia, sem o mínimo ressentimento antinacionalista; por ser único na diversidade, e no potencial que isso representa; por ser prova de que Pequim respeita a diferença; e dela sabe retirar vantagens; por ser uma porta para internacionalizar a economia – em segurança – crucial para a China… por ser, no fundo, menos do que podia ser… e muito mais do que parece.
Quanto à cidade internacional; multicultural; plataforma entre a Grande Baía e a Lusofonia; essa não cresce mesmo; infelizmente, Xi Jinping não se pode orgulhar disso. Por acaso – ou não – também ninguém quis saber disso nos discursos de tomada de posse do novo Executivo
Nesse contexto, 25 anos depois da transição de poderes, o sucesso deste capitalismo rentista, num socialismo de partido único, é motivo de orgulho para à Mãe Pátria. Espera-se que Xi Jinping exiba esse troféu; na verdade, tem direito a ele. A liberalização do jogo fez de Macau um farol mundial de crescimento económico; hoje com ambição de dar o salto para uma sociedade moderna, que escape ao vício do jogo. Aí… já Xi Jinping pode ser mais duro. O orgulho pode estar no desenho; mas, na prática, a diversificação económica deixa muito a desejar. Muitos líderes do Norte já cá vieram dizê-lo – é verdade; e temos de saber ouvir.
Depois há tudo o resto… a burocracia, o conservadorismo, a arrogância… atrasam muito o futuro; a birofobia bloqueia a massa crítica – que é critico trazer da China; da Lusofonia, e do resto do mundo – o PIB continua é mal distribuído, com liberalismo a mais e comunismo a menos… Convém, de facto, que quem manda force equilíbrios na balança.
Quanto à cidade internacional; multicultural; plataforma entre a Grande Baía e a Lusofonia; essa não cresce mesmo; infelizmente, Xi Jinping não se pode orgulhar disso. Por acaso – ou não – também ninguém quis saber disso nos discursos de tomada de posse do novo Executivo. Caro Presidente: há um mundo em Macau que espera por isso; há um mundo lá fora a ouvir o que pensa disso; Macau precisa muito que o diga; a China só tem a beneficiar com isso. Será muito bem-vindo tudo o que possa dizer para continuarmos a acreditar nisso.
*Diretor-Geral do PLATAFORMA