“Vamos nos manifestar nas fronteiras, nos portos e nas capitais provinciais. Todas as 11 capitais provinciais (…) Vamos paralisar todas as atividades para que percebam que o povo está cansado”, apelou Venâncio Mondlane, numa transmissão em direto na sua conta oficial na rede social Facebook, sobre a “quarta etapa” de contestação ao processo das eleições gerais de 09 de outubro, a qual, afirmou, terá “várias fases” – a anunciar posteriormente -, e que, disse, é também contra os “raptos e sequestros” e “contra o assassinato do povo”.
“Durante três dias vamos nos manifestar. Depois faremos uma pausa”, afirmou, na mesma intervenção, que disse ser feita desde o “exílio”, pedindo a concentração da população de todos os distritos, até sexta-feira, em cada capital provincial, incluindo Maputo.
Um protesto que pediu para ser alargado aos portos e às fronteiras do país, e aos corredores de transporte que ligam estas infraestruturas, apelando à adesão dos camionistas: “Não obrigamos ninguém a aderir à manifestação. Passamos os valores da manifestação e quem quiser adere”.
Sobre o impacto da manifestação nacional de 07 de novembro em Maputo, que levou a capital moçambicana a um dia de caos, afirmou que nunca foi intenção realizar um golpe de Estado. “Se quiséssemos fazer um golpe de Estado, teríamos feito”, disse, garantindo: “Nós não vamos desistir, nós não vamos recuar. Já mataram muita gente”.
Mondlane garantiu que o “objetivo não é tomar o poder à força”, e sim “pressionar as instituições” para “que se reponha a justiça eleitoral” e se abra “uma nova página para Moçambique”, sendo preciso para isso “todo o tipo de sacrifício”, mas apelando a que não haja vandalizações.
Pelo menos cinco pessoas morreram, 38 foram baleadas e 164 detidas em Moçambique em 07 de novembro, último dia da terceira etapa das manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, divulgou ontem a ONG moçambicana Plataforma Eleitoral Decide.
Moçambique, e sobretudo Maputo, a capital, viveram paralisações de atividades e manifestações convocadas desde 21 de outubro por Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais anunciados pela Comissão Nacional de Eleições, que dão vitória a Daniel Chapo e à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder).
As manifestações, maioritariamente violentas, deixaram um rastro de destruição em Maputo, com registo de mortos, feridos, detidos, infraestruturas destruídas e estabelecimentos comerciais saqueados, sobretudo em 07 de novembro.
Segundo dados apresentados ontem por aquela Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana, três das mortes ocorreram na cidade de Maputo, uma na província de Inhambane, no sul do país, e outra na província de Tete, no centro de Moçambique.
A plataforma Decide contabilizou igualmente 38 baleados, sendo a cidade de Maputo com maior número de casos (32), seguida da província de Inhambane com três baleados, província de Maputo com um, em igual número com as províncias da Zambézia, no centro do país e de Tete.
Aquela ONG indica ainda que das 164 pessoas detidas, em confrontos entre manifestantes e a polícia, 61 casos foram registados na capital do país, 51 na Zambézia, 25 em Nampula, no norte do país, oito em Inhambane, seis na província de Maputo, quatro em Sofala, centro de Moçambique, um em Gaza, no sul, e igual número em Tete.
Acrescenta que, fora do país, em resultado de manifestações de contestação dos resultados das eleições gerais em Moçambique a 09 de outubro, pelo menos sete pessoas foram detidas em Angola.
Após protestos nas ruas que paralisaram o país em 21, 24 e 25 de outubro, Mondlane convocou novamente a população para uma paralisação geral de sete dias, desde 31 de outubro, com protestos nacionais e uma manifestação concentrada em Maputo, a 07 de novembro, que provocou o caos na capital, com diversas barricadas, pneus em chamas e disparos de tiros e gás lacrimogéneo pela polícia, durante todo o dia.
Plataforma com Lusa