Início » A China e o Mundo: rumo à construção duma Comunidade com Futuro Compartilhado para a Humanidade

A China e o Mundo: rumo à construção duma Comunidade com Futuro Compartilhado para a Humanidade

Rui LouridoRui Lourido*

Vivemos num mundo em turbulência e rápidas transformações, com a humanidade a enfrentar desafios sem precedentes. Para os analisar, a Academia Chinesa de Ciências Sociais (CASS) reuniu a 5 de julho, em Beijing, mais de 100 especialistas chineses e estrangeiros de todos os continentes (da Ásia à África, da Europa à América).

Destacando-se entre eles antigos presidentes da república (Croácia) e antigos primeiros-ministros (Japão, Egito, Polónia, …), para além de membros do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e dirigentes máximos de várias instituições científicas. Os diferentes temas, discutidos nesta conferência, revelaram-se importantes para tentar responder às preocupações do nosso tempo. A sessão de abertura realizou-se no próprio Grande Palácio do Povo, o que ilustra bem a relevância que lhe foi dada pelas autoridades chinesas (tendo sido presidida por Gao Xiang, Presidente da CASS e tendo proferido o discurso de abertura Li Shulei, do Birô Político, e chefe do Departamento de Comunicação do Comitê Central do PCCh).

Vivemos num mundo que está a sofrer alterações profundas que não aconteciam, com esta violência, desde há um século. São as alterações climáticas, atualmente agravadas pelo atual processo de militarização das principais economias ditas ocidentais (em particular os EUA, União Europeia, Austrália e Japão, nomeadamente devido à reabertura de centrais industriais a carvão) e da Rússia. É a distribuição desigual da riqueza que, com a pandemia e os negócios da guerra, se têm vindo a agravar. São as migrações forçadas ou deslocamentos populacionais que se agravaram devido à combinação dos problemas acima mencionados. Emerge, ainda, a necessidade de regulamentação da Inteligência Artificial, a nível global.

As sessões de trabalho da conferência dividiram-se em quatro subtemas centrais: Revitalizar o Desenvolvimento Global; Promover uma Comunidade de Vida para o Homem e a Natureza e Aprofundar o Intercâmbio e a Aprendizagem Mútua entre Civilizações; e Aplicar o verdadeiro multlateralismo.

Nestes temas tivemos a oportunidade de analisar e refletir sobre o aumento do fosso entre o Norte e o Sul, e entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. O Índice de Desenvolvimento Humano caiu, pela primeira vez, em 30 anos, pelo que a China propôs a Iniciativa de Desenvolvimento Global na 76ª Assembleia Geral da ONU (setembro de 2021). O objetivo é o de acelerar a implementação da Agenda 2030 da ONU para promover a cooperação internacional e o desenvolvimento sustentável, equilibrado, coordenado e inclusivo. Foi destacado o papel pioneiro da China na redução da pobreza, conectividade, industrialização, economia digital e inovação científica e tecnológica.

Discutiu-se a resposta às mudanças climáticas, com a necessidade de avançar com o desenvolvimento verde e de baixo carbono, o uso de energia renovável, a melhoria da governança ecológica global. Refletiu-se sobre como aumentar a compreensão e a confiança, por meio da aprendizagem mútua, entre as civilizações nos tempos atuais, de modo a construir um mundo aberto e inclusivo, mantendo o respeito mútuo e a coexistência harmoniosa.

Tive a honra de ser convidado para intervir nesta conferência e tive a oportunidade de destacar a necessidade de apoiar as propostas para um verdadeiro multilateralismo, que seja caracterizado por abertura e inclusão, consulta e cooperação, benefícios e ganhos mútuos, com a promoção dos valores comuns da humanidade e o rejeitar do jogo de soma zero e a política de confronto entre blocos.

Sublinhou-se a pertinência e a necessidade de implementar a Iniciativa de Segurança Global, proposta pela China, como forma de promoção da democratização das relações internacionais e de construção de uma economia mundial aberta. Porém alguns países, do Norte Global, representando cerca de 15% da população, com as organizações internacionais que controlam (como o FMI e a OTAN), apoiam a estratégia de tentar manter a hegemonia dos EUA sobre os demais países, alimentando guerras e a interrupção arbitrária do comércio global e das cadeias de distribuição mundiais.

De acordo com o Stockholm International Peace Research Institute, os gastos militares mundiais totais atingiram US$ 2,2 trilhões em 2022, com os EUA, UE, Japão e seus parceiros próximos respondendo por US$ 1,46 trilhões desse valor (os gastos militares da China são de US$ 292 bilhões, enquanto a Rússia gasta US$ 86 bilhões). Atualmente, os Estados Unidos promovem o rearmamento dos japoneses, australianos, sul-coreanos, alemães e ingleses, para que também possam fortalecer a Guerra Fria e militar contra a Rússia e a China, e manter o domínio imperial sobre o Sul Global. No entanto, algumas elites da Europa e do Japão discordam do confronto com a China, devido à escalada das crises económicas e sociais em seus países por seguirem cegamente a agenda egoísta da política externa dos EUA, mas a dependência cultural e política dos EUA, por parte da elite governante europeia, é superior aos seus desejos de autonomia.

Por outro lado, as economias emergentes revelam-se muito resilientes e mais fortes do que os seus PIBs apresentam, o que lhes permitiu o estabelecimento de novas instituições económicas, políticas e financeiras internacionais (BRICS, SCO, BRI, EAEU, New Development Bank, Asian Infrastructure Investment Bank, ver Michael Dunford – Professor Emérito da Universidade de Sussex). Com o grande projeto da iniciativa “Cinturão e Rota”, que, desde há 10 anos, tem contribuído significativamente para o desenvolvido de inúmeros países em desenvolvimento (nomeadamente com a construção de infraestruturas essenciais à modernização dessas sociedades), nos últimos anos, a China propôs outras 4 iniciativas-chaves para a estabilidade mundial: Comunidade com Futuro Compartilhado; Iniciativa de Desenvolvimento Global; Iniciativa de Segurança Global e, já em março de 2023, foi lançada a Iniciativa de Civilização Global com o objetivo de aumentar o benefício comum da modernização.

A Conferência integrou ainda uma reunião com o objetivo de contribuir para uma parceria estratégica abrangente para as relações China-América Latina. Uma outra reunião realizou-se sobre A Erradicação da Pobreza e Alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que é o objetivo da Rede Global de Think Tanks sobre Erradicação da Pobreza e Desenvolvimento Sustentável (fundada em outubro de 2021, em Beijing, na Conferência de Cooperação Sul-Sul).

Wang Lei, Diretor-Geral do Bureau de Cooperação Internacional, da CASS, destacou, nas notas conclusivas, que erradicar a pobreza e alcançar o desenvolvimento sempre foram considerados direitos humanos básicos pela Carta das Nações Unidas. A resposta da China, durante a nova fase de modernização, reafirma o papel estabilizador da China na promoção da paz e segurança mundiais e no aprofundamento do relacionamento da China com todas as nações. Relacionamento assente no respeito pelas condições específicas de cada país, no incentivo ao desenvolvimento económico e social comum, baseado no benefício mútuo (Win/Win), e no respeito pela Carta das Nações Unidas, resultando numa oportunidade extraordinária para o progresso mundial.

Historiador, presidente do Observatório da China e presidente da União de Associações de Cooperação e Amizade Portugal China*

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!