
Lula da Silva não se desloca a Pequim em mera visita de cortesia. Brasil e China jogam alto na economia pós-Covid, e preparam-se para assinar pelo menos mais 20 acordos de cooperação. Desta feita, com especial relevo para o mercado de créditos de carbono. Do ponto de vista económico, mas também geopolítico, esta viagem é determinante para revitalizar pontes sino-lusófonas.
Como é uma oportunidade de afirmação da diplomacia brasileira que, tenta agora sair da penumbra em que viveu durante o mandato de Jair Bolsonaro. Mas também a diplomacia chinesa precisa destes momentos para recuperar o tempo perdido. Primeiro com a crise pandémica; depois com a clivagem ocidente/oriente, após a invasão a Rússia ter invadido a Ucrânia.
Há uma primeira deceção nesta viagem, já assumida pelos brasileiros, mesmo antes da chegada a Pequim. Durante os contactos preparatórios da visita, Lula da Silva tudo fez para incluir na conversa com Xi Jinping uma refexão sobre hipótese de paz na Ucrânia.
Contudo, levou nega. Neste contexto, Pequim não quer o tema. Mantém-se o desejo de uma declaração conjunta a favor da paz…, mas sem espaço na agenda oficial, muito menos vontade de trazer Lula como um parceiro nesse debate. Curiosamente, é precisamente no contexto da guerra na Ucrânia que a visita de Lula tem nesta altura um significado particular. Nas vésperas da entronização de Xi Jinping, os elogios de Lula ao líder do Partido Comunista Chinês já eram muito claros. E mais óbvios se tornam nesta viagem a Pequim. Washington força a narrativa segundo a qual a Rússia só não sai da Ucrânia porque conta com o apoio da China. Tese essa que, em rigor, esconde muitos dos outros pontos que se teriam de resolver para acabar com a guerra. Seja como for, Lula da Silva é hoje uma das estrelas da política internacional mais próximas de Xi, rejeitando em alta voz a pressão norte-americana para que vire costas à China. E isso conta. Não só pela dimensão económica e política do Brasil, mas também pelo valor acrescido que atualmente têm os laços de amizade da China com a maior potência da América do Sul – e putativo candidato ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil, tendo só no ano passado importado 90 mil milhões de dólares em commodities. Por outro lado, o Brasil é um dos maiores alvos do investimento chinês em todo o mundo. O Brasil já é grande. E vai ser ainda maior. Lula da Silva parece ter, entretanto descoberto uma nova mina de ouro.
Graças à Floresta da Amazónia, o Brasil controla cerca de 15% do potencial de sequestro de carbono da atmosfera. Fenómeno, esse, que lhe permite vender créditos para a emissão de carbono. Países grandes produtores e fabricantes, como a China, devoram todos os créditos disponíveis no mercado das nações para darem gás a modelos de produção intensiva. A China continua a funcionar a duas velocidades. Tem planos para dominar a economia sustentável; mas é ainda hoje a economia mais poluente do mundo… Já o Brasil, também ele repleto de contradições, nesse campo está já mais bem instalado no futuro.
Para Macau tudo isto é bom. Não porque a relação de Pequim com Brasília passe por Macau. Mas porque o futuro de Macau passa por essa relação da China com a Lusofonia.
*Diretor-Geral do PLATAFORMA
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