Volto passadas três semanas em Portugal, onde a pandemia de Covid-19 já tem (muito) pouco impacto no dia a dia. Aliás, na Europa, esse é o sentimento que prolifera. À medida que começamos a ir mais para oriente, em Taipé, relembramo-nos do pesadelo que o vírus ainda representa para a China.
Na chegada a Macau, uma hora e meia à espera no avião serve para duas coisas: preparar–nos mentalmente para o período de quarentena e rezar para que a desinfeção das malas não estrague a roupa, como tem acontecido a tanta gente.
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Mas a realidade que encontrei foi bem pior: uma mãe com cinco filhos, um deles atado às costas, foi obrigada a colocar as malas sozinha no autocarro, sem qualquer ajuda por parte dos funcionários que simplesmente olhavam para o transtorno da senhora.
Esta mulher, diga-se, não fala inglês ou chinês – apenas português. Porém, não foi recebida por qualquer funcionário que a pudesse auxiliar. Falavam chinês e um inglês esforçado, evidenciando o défice que a Região tem em lidar com mercados que não sejam o chinês. Os formulários eram em chinês ou em inglês, mostrando a deterioração da administração bilingue (cheguei a pedi-los em português para a senhora mas disseram-me que não tinham).
As primeiras duas horas no aeroporto foram passadas numa sala sem ar condicionado em pleno verão. As últimas seis foram a auxiliar a senhora a lidar com o abandono a que foi sujeita. “Não fazia ideia que Macau seria assim. Fico muito mal impressionada”.
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No fim, Macau pode hoje preparar o que quer e tem de ser amanhã – uma cidade internacional, atrativa e que convide talentos estrangeiros.
Estamos muito longe disso, apesar de as medidas e intenções do Governo apontarem nesse sentido.
Não basta implementar o óbvio, o Governo tem de conhecer as lacunas específicas (evidentes) e colmatá-las o quanto antes. Porque os ventos da mudança exigem que esse virar de página seja rápido e bem feito. Há coisas que nem a pandemia justifica.
*Diretor-Executivo do PLATAFORMA