Não fogem à regra. O hitoriador Boubakar Namory Keita, em recente entrevista o Jornal de Angola, apressa-se a esclarecer que “as independências constituíram o coroar de processos, na realidade, muito complexos com vários protagonistas – quer internos ou autóctones quer externos como as Metrópoles colonizadoras representadas por brancos residentes diversamente ocupados”.
O historiador maliano Boubakar Namory Keita, que chegou a Angola em 1984, lançou este ano a obra “História da África Negra: colonização, lutas de libertação e independências”. E, por isso, justamente lhe colocámos a questão sobre o que correu bem ou mal neste complexo processo das Independências Africanas, de um modo geral. “(…) Rigorosamente falando nada pode ter “corrido mal ou bem” nas independências.
Uma independência em si foi uma coisa boa, positiva, indispensável e o que deveria acontecer do ponto de vista histórico e político. O questionamento é, geralmente, feito para subentender algo parecido com: “será que a África estava pronta para a independência”? E que a verdade se diga, isto devido à situação dos países independentes, desde 60 anos: sem desenvolvimento, com graves problemas nos sectores da Educação, da Saúde, da Segurança, da Gestão territorial, etc.
A tentação é, de facto, perguntar: por que ter lutado para aceder à independência para continuar a manter as populações na miséria. Ou por que razões os líderes que conduziram as lutas de independência fracassaram em promover ou satisfazer os ideais destas?”, questiona o também antropologo.
Professor e actual chefe de Departamento de História da Faculde de Ciências Sociais da UAN, Boubakar Namory Keita revela as preocupações dos estudantes em relação ao assunto. “Deparo-me, quotidianamente nas minhas aulas na Faculdade, com perguntas angustiantes dos estudantes em que fico impotente de dar respostas fora do âmbito histórico.
Certamente, é isto o que resumiu perguntando: “o que correu mal nas independências”. Gostaria de recordar uma conclusão do antropólogo britânico Bronislaw Malinowski, que dizia: “se um dia o civilizado (entender o colonizador) decidir entregar a chave que abra as portas do desenvolvimento ao primitivo (entender o colonizado), mesmo por oportunismo (quando se sentir obrigado!), o fará de tal maneira que o essencial dos assuntos fique em suas mãos”.
Acho que esta conclusão, dada ainda antes do fim da colonização, resume perfeitamente o que o nosso continente vive, desde as independências e, ainda mais hoje. Se analisarmos profundamente e sem complacência o percurso de África e a actual situação, deveremos ser capazes de reconhecer que este “essencial” do e para o desenvolvimento ainda permanece em mãos das ex-potências colonizadoras. Assim o desafio continua ser: a luta por uma nova independência!”.
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