Início Opinião A luta pelo reconhecimento do novo estado afegão dos talibãs

A luta pelo reconhecimento do novo estado afegão dos talibãs

David ChanDavid Chan*

No dia 20 de agosto, as forças talibãs afegãs anunciaram o fim da guerra do Afeganistão e a criação do novo Emirado Islâmico do Afeganistão. Porém, tal não significa que os talibãs controlem todo o território afegão. Este comunicado revela que as forças talibãs, depois de tomarem controlo sobre 80% do território nacional, levando à saída dos EUA do país, conquistaram Cabul sem quaisquer vítimas. O que os EUA inicialmente previam que iria demorar cerca de três meses, foi possível em apenas três dias, sem grande esforço. As forças talibãs estão claramente contentes. Afirmaram até que iriam criar um novo Emirado Islâmico do Afeganistão e que iriam oferecer amnistia aos cidadãos que auxiliaram as forças americanas e o antigo governo, incentivando a que os afegãos retomem a sua normalidade e emprego.  

Contudo, as forças talibãs celebraram esta vitória prematuramente, visto que na região norte do país existem ainda militares que se recusam a render aos talibãs, incluindo o vice-presidente do Afeganistão, Amrullah Saleh, apoiado pelos Estados Unidos, e que se autoproclamou presidente depois de Ashraf Ghani fugir do país, liderando as forças militares afegãs na luta contra os talibãs. Outro grupo militar são as forças de resistência criadas por Ahmad Shah Massoud, ídolo afegão e um dos criadores dos talibãs, agora lideradas pelo seu filho Massoud. Este grupo, que nasceu como força de resistência antissoviética, continua agora em oposição aos talibãs, aos EUA e contra um governo fantoche no Afeganistão. Estas forças, juntamente com uma série de outros grupos que ainda não se renderam, criaram a Aliança do Norte, retomaram o controlo de Charikar, capital da província de Parvan, a norte de Cabul, e estão ainda a lutar pelo Vale do Panjshir.  

As forças talibãs anunciaram querer criar o novo Emirado Islâmico do Afeganistão, nome que já esteve em uso entre outubro de 1997 e 2001, remetendo ao antigo regime talibã extremista do passado. Este nome foi até mencionado pela Resolução 2513 das Nações Unidas no ano passado (2020), onde afirmam que não reconhecem tal estado. As forças talibãs querem retomar a denominação antiga, porém, com a aprovação desta resolução, a probabilidade de o conseguirem parece escassa. Será ainda uma longa batalha até que consigam reestabelecer este regime e nação.   

*Editor senior do PLATAFORMA

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!