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Pandemia agravou o fosso entre muito ricos e muito pobres na China

Rute Coelho

A falta de apoio do regime chinês aos mais pobres agravou a sua situação. Já os patrões ricos tiveram direito a cortes de impostos e subsídios de incentivo ao emprego e optaram por despedir mais pessoas, descreve uma reportagem do Financial Times

O negócio de família d Amanda Wang em Pequim, um call center e dois restaurantes, entrou em queda livre com a pandemia da Covid-19 e consequente quarentena. Em julho, Amanda impôs uma redução salarial de 30% aos seus trabalhadores, mesmo depois de ter recebido cortes de impostos e subsídios de incentivo ao emprego por parte do governo chinês. O caso é relatado no jornal britânico Financial Times como um dos muitos que ilustra o fosso de rendimentos que se agravou no gigante asiático com a pandemia.

Apesar dos benefícios que obteve para poder continuar a ter empresas a funcionar, Amanda Wang queixou-se ao jornal britânico. “O meu maior desafio é lutar contra a falta de uma política pública de incentivo aos negócios. Por isso tenho de fazer poupanças onde posso”, afirmou Wang, para justificar os cortes salariais. No entanto, esta patroa chinesa não teve quaisquer problemas em renovar o seu cartão de membro de um luxuoso salão de beleza de Pequim. “Não vou cortar nas minhas necessidades básicas”, disse a empresária de 41 anos, que em julho vendeu um dos seus seis apartamentos na capital chinesa por um lucro milionário. “Há formas de dar a volta à perda de rendimentos”, comenta.

Já um dos empregados de Amanda Wang, Li Erping, funcionário num dos restaurantes, não teve outra opção senão cortar em coisas que para si não eram supérfluas, como o ginásio. Depois do corte salarial imposto a partir de julho, a vida de Li piorou muito. “Este é o período mais difícil da minha vida. Estou a poupar todos os cêntimos que consigo para apoiar a minha família”, conta, ele que faz das tripas coração para sustentar um filho.

Como conta o Financial Times, estes dois exemplos ilustram os extremos das classes sociais na China pós-pandemia. Enquanto os mais ricos estão a conseguir emergir da crise sem grandes danos financeiros, os mais pobres lutam pela sobrevivência.

Pequim focou muito do seu esforço de recuperação a estimular o investimento e a construção. Por isso, embora o Fundo Monetário Internacional preveja um crescimento de 1.2% para a China em 2020 e acima de 5% ao ano entre 2021 e 2025 – muito à frente de qualquer outra economia no mundo – muitos questionam se os consumidores de baixo rendimento sairão beneficiados. E a economia chinesa precisa que esses voltem a consumir.

O consumo doméstico contou 57,8% no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na China em 2019, conclui o Financial Times.

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