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Livros infantis de Macau procuram emancipação

Wendi Song

A editora local Mandarina Books desde a criação em 2019 já publicou três livros infantis originais. A fundadora, Catarina Mesquita, em entrevista ao PLATAFORMA indicou que o objetivo “é que todas as crianças de Macau leiam um livro infantil da Mandarina”. 

No passado dia 1, a Mandarina publicou o livro bilingue “Na Rua”, o primeiro romance e terceiro livro infantil sob a chancela da editora. Graças ao sucesso dos dois primeiros livros e especialmente por este, em particular, ter como escritor convidado o autor chinês de renome Joe Tang, “Na Rua” foi muito bem recebido. “Recebi um telefonema de uma livraria a pedir uma reposição”, diz Catarina Mesquita da Mandarina Books, também uma das autoras do livro. 

“Na Rua” é uma obra “com duas histórias”, começando logo pela capa e contracapa, onde podemos ler excertos do que a Júlia, de Portugal, e Pou, de Macau, ouviram pelas ruas da cidade. A história da Júlia foi escrita por Catarina em português, a história de Pou por Joe Tang em chinês. Através do design e ilustração as duas histórias cruzam-se e convergem numa só. 

Catarina salienta que deu grande atenção a pequenos detalhes nas ilustrações do livro, facilitando a leitura e tornando-o atual. “Se olharmos com atenção para as ilustrações, podemos ver várias semelhanças. Isso torna o livro não só uma boa escolha para ler com os pais, como também para as crianças lerem sozinhas”.

Lembra que desde a ideia à publicação passaram cerca de três meses, e a equipa internacional torna-o também especial. Além dos escritores chineses e portugueses, o livro foi ilustrado pelo brasileiro Fernando Chan, e o texto traduzido e editado pelo chinês Tian Yuan. 

“Existem duas histórias, uma chinesa e uma portuguesa, que à primeira vista parecem ser independentes; mas na verdade, eu estou dentro de ti e tu estás dentro de mim. É uma metáfora para a coexistência de chineses e portugueses nesta pequena cidade (Macau) ao longo dos séculos”, descreve Joe Tang sobre a obra.

Além do texto bilingue, “Na Rua” é um livro com uma orientação de mercado raramente vista no setor de livros infantis em Macau. 

Segundo a Direção dos Serviços de Estatística e Censos, existem em Macau atualmente cerca de 90 mil crianças entre os 0 e os 14 anos. Porém existe um número reduzido de livros direcionados a este público. O primeiro livro infantil feito em Macau foi “Pequena Cidade, Grande Mundo: Coleção de Contos Infantis de Macau”, em 2014. Lydia Ieong, uma das autoras e uma das fundadoras de uma plataforma de criação de literatura infantil, tem ao longo dos anos defendido em entrevistas que “muitas crianças de Macau crescem a ler literatura de Hong Kong ou do continente. Por vezes conhecem Hong Kong melhor do que Macau”, diz.

Embora ao longo dos anos existam alguns escritores locais a criar livros infantis, como por exemplo Tong Mui Siu, que nos anos 80 publicou uma coleção de contos infantis intitulada “Árvore do Amor”, devido à escassez de plataformas de publicação e produção sistemática, o desenvolvimento da literatura infantil em Macau vive há vários anos apenas de publicações espontâneas. Esta área apenas começou a desenvolver-se depois dos autores da “PEN of Macau” criarem uma plataforma para publicação de literatura infantil. Porém, é promovida pelos próprios autores e financiada pelo Governo, faltando ainda evolução a nível de mercado. 

Teste ao mercado de livros infantis
Catarina admite que toda a criação e publicação do livro foi autofinanciada. “Foi um desafio que lancei a mim mesma. Quero ver até onde consigo ir sem quaisquer subsídios. É um pouco ingénuo da minha parte”, admite, com um sorriso. “Felizmente não imprimimos muitas cópias, por isso ainda consigo suportar os custos”, atira.

“Na verdade, quase todas as indústrias literárias em Macau necessitam de subsídios para sobreviver. Conseguir lucro tem sido um grande desafio nesta indústria, e muitas editoras, por amor ao trabalho, procuram outras formas de suportar os custos de publicação. A boa notícia é que estamos a começar a reunir uma base de clientes. Depois de verem os nossos livros, muitos perguntam: ´têm mais algum?´ ”.

Para Catarina Mesquita “outro ponto interessante é os livros serem editados em várias línguas, e por isso muitos dos leitores chineses usam-nos como material de estudo de Português”. 

“Foi por acidente”, admite Catarina em tom de brincadeira, concluindo: “Ainda estamos a criar uma relação com os nossos clientes. Espero crescer e aos poucos conseguir tornar esta atividade em algo mais lucrativo”. 

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