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“Os loucos de Lisboa”

Filipa Caeiros Rodrigues

Já muito se escreveu nestas três semanas, no mundo, sobre racismo e discriminação a propósito da morte de George Floyd. Em Portugal também. Mas a minha indignação sobre o que  se passou em Lisboa, faz hoje uma semana, impede-me de escrever sobre outro assunto que deixarei para outro artigo de opinião.

Neste mesmo período, Portugal viu-se obrigado a começar a desconfinar em virtude da crise económica em que está mergulhado, face à pandemia de Covid-19.

Perdoem-me a ironia da pergunta, mas a lei não é para ser cumprida e sem discriminação por todos?

Se não estou enganada, existe um Plano de Desconfinamento aprovado pelo Conselho de Ministros que mantém o país em situação de calamidade. Plano esse, onde se prevê que eventos e ajuntamentos estão limitados a grupos de 10 pessoas, bem como o distanciamento social em cerca de dois metros. São regras aplicáveis numa primeira fase a todo o país e, na terceira fase que se iniciou a 30 de maio, à Área Metropolitana de Lisboa.

Se assim é, então porque razão assistimos no dia 6 de junho, em diversos pontos de Lisboa, a manisfestações antirracismo e a um comício organizado por um partido político no dia seguinte?

As razões que justificam a realização de alguns destes eventos são muito nobres e  de urgência internacional. Obviamente que nem as ponho em questão. No entanto, originaram aglomerados de milhares de pessoas, a não utilização de máscaras por parte de muitas delas e, por conseguinte, violaram e desrespeitaram lamentavelmete as regras de segurança impostas pela Direção Geral da Saúde (DGS).

Se as comemorações do 25 de abril e do 10 de junho foram “canceladas” para não piorar a condição sanitária do país, porque razão os eventos da semana passada aconteceram naquelas datas? Os portugueses sentir-se-iam menos solidários ou passariam a ser considerados racistas caso não tivessem vindo para a rua? Não creio.

Mais… onde estavam as autoridades competentes para impor a lei naqueles dois momentos? Há que haver coerência nos atos e nos exemplos a seguir.

Um desconfinamento forçado, a celebração do 1º de Maio e os dois acontecimentos referidos terão, muito provavelmente, contribuído para um aumento exponencial de novas infeções na região de Lisboa e Vale do Tejo. O número atual é assustador.

Segundo dados da DGS, temos um total de 14,600 infetados confirmados e 422 óbitos na região de Lisboa e Vale do Tejo. Na semana que agora termina,  cerca de  90 por cento do total de novos casos por dia em Portugal aconteceram nesta região.

Um dia destes além de doentes com covid-19 também ficaremos loucos. Começaremos a duvidar de tudo. E como diz a canção, um dia destes acreditaremos que a “Terra gira ao contrário” e que afinal os “rios nascem no mar”! 

*Jornalista do Plataforma

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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