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Investigadores de universidade estatal ‘chumbam’ ação das forças de segurança

“As forças de defesa e segurança não estão engajadas [empenhadas] ao nível da ameaça existente”, lê-se num relatório sobre a situação de segurança no país, elaborado pelo Centro de Estudos Estratégico e Internacionais da Universidade Joaquim Chissano.

O documento faz referência aos recentes ataques a Quissanga e Mocímboa da Praia, onde um quartel foi ocupado e uma bandeira do Estado Islâmico foi içada.

Os autores realçam o facto: “Um quartel da dimensão daquele invadido não foi capaz de conter o avanço inimigo e, acima de tudo, as forças de defesa e segurança não tinham informação sobre o ataque e o dispositivo de defesa estava completamente inoperacional”.

“A surpresa do ataque não se explica numa região onde as forças devem permanecer em prontidão combativa e com os níveis de alerta [elevados]” refere, acrescentando que “os sistemas de segurança não podem ser relaxados”.

Com a incursão, continuam os autores, “ficou provado que o grupo que atua em Cabo Delgado está mais bem equipado que as forças de defesa e segurança no local” e que “a confiança na superioridade militar contrasta com a falta de moral das forças moçambicanas por não terem a capacidade em meios necessários”.

O relatório defende que o Governo melhore as condições das tropas “para que não se tornem facilmente aliciáveis pelas ofertas financeiras do grupo terrorista” e acrescenta que há “necessidade de investigar alguns militares”.

“Cresce a desconfiança sobre o vazamento de informações para os terroristas, onde se verifica a colaboração de alguns militares”, acrescenta, aludindo a suspeitas de “esquemas de corrupção no seio das forças”, havendo “uma necessidade urgente de incrementar o efetivo, as tarefas, missões e funções da Policia Militar”.

Por outro lado, os autores dizem que Moçambique “deve “usar as vias diplomáticas para trabalhar com parceiros com recursos suficientes” para prestar apoio de diversa ordem, nomeadamente, “treinar unidades especiais moçambicanas em combate ao terrorismo”.

A União Africana e Nações Unidas são dois parceiros citados, mas salientando que a ajuda deve ser cuidada, porque há exemplos no mundo “que demonstram a fraca eficácia das iniciativas de cooperação”.

A dimensão da “insurgência”

Na senda da opinião de analistas expressa desde o início dos ataques armados, em outubro de 2017, os investigadores da Universidade Joaquim Chissano consideram que Moçambique “precisa fazer um estudo urgente para compreender a dimensão do problema da insurgência em Cabo Delgado”, apontando como exemplo as pesquisas realizadas na Nigéria relativamente aos ataques do grupo Boko Haram.

O documento nota que “começam a crescer as vozes que condenam a atitude apática do Governo moçambicano em relação ao agravamento da situação de segurança em Cabo Delgado”.

“Vídeos e mensagens nas redes sociais criticam a postura do executivo liderado pelo Presidente Nyusi e questionam as suas escolhas para a pasta da defesa e do interior”, referem os analistas.

“Estas opiniões mostram um crescente desalento e desgosto pela situação vivida em Cabo Delgado”, conclui a análise.

Fonte da Universidade Joaquim Chissano disse à Lusa que relatórios sobre segurança como este são elaborados a cada dois meses por docentes e investigadores do Centro de Estudos Estratégico e Internacionais e que têm auxiliado à tomada de decisões do Banco de Moçambique.

A instituição concluiu que devido à sua relevância deve passar a divulgá-los publicamente a partir deste.

O relatório, que além da situação em Cabo Delgado aborda ainda os riscos para o país da pandemia da doença respiratória covid-19, é da autoria de Énio Chingotuane e Carlos Faria, ambos do departamento de Paz e Segurança, e de Jossias Filipe, do departamento de Economia.

A Universidade Joaquim Chissano surgiu da fusão do Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI), ao qual o centro pertencia, e do Instituto Superior de Administração Pública (ISAP), no âmbito de reformas no setor entre 2018 e 2019.

A província de Cabo Delgado tem sido alvo de ataques de grupos armados que organizações internacionais classificam como uma ameaça terrorista e que em dois anos e meio já fizeram, pelo menos, 350 mortos, além de 156.400 pessoas afetadas com perda de bens ou obrigadas a abandonar casa e terras em busca de locais seguros.

No final de março, as vilas de Mocímboa da Praia e Quissanga foram invadidas pelo grupo, que destruiu várias infraestruturas e içou a sua bandeira num quartel das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique.

Na ocasião, num vídeo distribuído na Internet, um alegado militante ‘jihadista’ justificou os ataques de grupos armados no norte de Moçambique com o objetivo de impor uma lei islâmica na região.

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