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Estamos juntos

As almas imbuídas de maior espiritualidade poderão encontrar justificação na dupla proteção divina que tem abençoado esta cidade: Deusa A Ma e Nossa Senhora de Fátima. Outros apontam para a sorte que bafeja a cidade do jogo. E há quem saliente a competência das autoridades locais na gestão desta crise que se abateu sobre nós. Talvez seja uma conjugação dos três fatores, mas seguramente que até os mais críticos reconhecem que a gestão do Governo – e do Chefe do Executivo em particular – tem sido globalmente positiva. Todavia, algumas medidas anunciadas esta semana constituem riscos sérios que, à primeira vista, poderiam ser evitados ou, pelo menos, adiados por mais um par de semanas. Compreende-se o dilema, mas a reabertura gradual dos casinos – mesmo com salvaguardas e controle à entrada – suscita fundadas dúvidas, as quais foram, aliás, expressas por uma associação de trabalhadores do jogo. Por que não fazer um novo compasso de espera? Por outro lado, a diferença de tratamento entre os trabalhadores não-residentes e os cidadãos com o estatuto de residente de Macau que entram na cidade oriundos da China continental é difícil de compreender.

Estando ainda em plena tempestade não é fácil vislumbrar as nuvens a dissipar-se. Trata-se de um combate que vai prolongar-se, seguramente, por semanas ou meses. Em todo o caso, não restam dúvidas que, por muito bem sucedida que seja a gestão da crise em Macau, em termos económicos nada de fundamental poderá ser resolvido se, em nosso redor (Hong Kong e província de Guandgong), não houver um efetivo controlo da situação e condições de confiança para, gradualmente, retomar a circulação de turistas dos quais tanto dependemos. Tudo isto realça a vulnerabilidade da economia local, alicerçada na mono-indústria jogo/turismo, e a centralidade do binómio dependência/interdependência. Na saí- da deste tormento há que arregaçar as mangas e começar a construir um caminho que, simultaneamente, alivie parcialmente essa dependência e oleie a cooperação inter-regional que demonstrou sinais de fragilidade naquela que é, seguramente, a matéria de maior relevância para a vida das pessoas e para o bom relacionamento entre as cidades da Grande Baía Guang-dong-Hong Kong-Macau. A título de exemplo, a decisão por parte do Governo de Hong Kong de encerramento do terminal marítimo de Sheung Wan – consequente- mente das ligações com Macau – ao que tudo indica sem coordenação ou aviso prévio demonstra não apenas uma falta de respeito mas também um sinal preocupante. Afinal, estamos juntos.

José Carlos Matias 21.02.2020

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