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Cidade sitiada

Uma dezena de pessoas infetadas, motor da economia local desligado, com o fecho dos casinos por pelo menos duas semanas, serviços públicos básicos suspensos, apelos repetidos para a população se proteger, mantendo-se em casa e ligações marítimas entre Hong Kong e Macau interrompidas unilateralmente e sem aviso prévio pelo governo de Carrie Lam. Este é parte do cenário imposto pelo coronavírus de Wuhan ao dia-a-dia do território.

O número de pessoas infetadas em Macau com o novo tipo de coronavírus cresceu no espaço de uma semana de sete para 10. Mas, o mais significativo e que mudou as “regras do jogo” foi a deteção daquele que é considerado o primeiro caso de contaminação entre residentes no território e que atingiu uma funcionária de uma das operadoras de jogo.

Esta constatação obrigou o Governo local a partir para um patamar mais elevado de prevenção que passou, designadamente pela inédita decisão – acordada com as operadoras de jogo – de encerramento dos casinos por um período de, pelo menos, duas semanas.

A determinação foi mesmo comunicada em conferência de imprensa pelo chefe do Governo, Ho Iat Seng, que advertiu que até meados do mês o território vai passar por “um período de alto risco”.

Estas providências visam, prioritariamente, reduzir drasticamente a circulação dos habitantes pela cidade, evitando-se também a entrada e saída habitual de milhares e milhares de trabalhadores e visitantes pelas fronteiras do território, precavendo um eventual acelerar de contaminação pelo novo tipo de coronavírus. 

As medidas do executivo incluem igualmente a suspensão dos serviços públicos básicos, mantendo-se apenas os mais urgentes – designadamente saúde e segurança. Além disso, o chefe do Governo esclareceu que os funcionários “não estão de férias” e alguns podem e devem mesmo “trabalhar a partir de casa”.

Ho Iat Seng admitiu não ter ainda as previsões de quanto poderá custar à economia local a opção pelo fecho por duas semanas do motor da economia local, mas avançou que esta paragem vai previsivelmente provocar um défice no orçamento, mas o Governo tem reservas financeiras serão utilizadas para ajudar a ultrapassar tempos que se avizinham difíceis.

A decisão do Governo – que era expectável após o registo do primeiro caso de transmissão da doença entre residentes locais, sendo um deles a sendo um deles funcionária de uma operadora de jogo – não impediu uma corrida desenfreada a supermercados e pequenas mercearias para abastecimento de bens, sobretudo alimentares, com laivos de açambarcamento. 

Esta atitude da população levou mesmo o Executivo a assegurar que as reservas alimentares assim como o abastecimento de bens à cidade estão garantidos.

No mais, o panorama nas ruas assemelha-se ao verificado nos últimos dias. Poucas pessoas, a esmagadora maioria portadora de máscaras protetora de nariz e boca. Autocarros, na maioria das vezes, com poucos passageiros, restaurantes praticamente vazios, zonas históricas despidas de turistas. 

O Chefe do Executivo admitiu que um eventual agravamento da situação no território poderá obrigar ao encerramento das fronteiras, mas para já esse cenário está colocado de lado, estando em vigor medidas destinadas a evitar a quebra de serviços no setor privado, designadamente a sugestão para que os empregadores garantirem alojamento local a trabalhadores não residentes, para evitar entradas e saídas pela fronteira terrestre.

Além dos 41 casinos e salas de jogo existentes no território, o encerramento decretado desde a passada quarta-feira e por um período de duas semanas aplica-se igualmente a cinemas, teatros, parques de diversão em recintos fechados, salas de máquinas de diversão e jogos em vídeo, cibercafés, salas de jogos de bilhar e de bowling, estabelecimento de saunas e massagens, salões de beleza, ginásios de musculação, estabelecimentos de health club e karaoke, bares, night-clubs, discotecas, salas de dança e cabaret.

Hong Kong 

tranca as portas

A vizinha região de Hong Kong registou a primeira morte por coronavírus fora da China continental. A vítima foi um homem, de 39 anos, que tinha viajado para Wuhan. Com este caso subiu para dois o número de mortos fora da China. O anterior caso aconteceu há cerca de uma semana quando um cidadão chinês, de 44 anos, residente em Wuhan, não resistiu à infeção pelo novo coronavírus e acabou por morrer nas Filipinas.

Desde a passada quarta-feira, Hong Kong fechou quase todas as fronteiras terrestres e marítimas para o continente para impedir a propagação do novo coronavírus. Apenas dois postos de controlo de fronteira, a Baía de Shenzhen e a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, continuavam abertos.

Numa medida que indicia uma total e inesperada falta de coordenação num momento em que a troca de informações é essencial para a tomada de decisões, a chefe do governo local, Carrie Lam, anunciou de forma unilateral e sem pré-aviso às autoridades de Macau encerramento das ligações marítimas entre as duas regiões. Isso mesmo foi confirmado pelo chefe do Executivo local, mas que desvalorizou a questão.

Entretanto, mais de mil médicos e enfermeiros iniciaram no início da semana uma greve em Hong Kong para exigir ao Governo local o encerramento da fronteira com a China para conter o novo coronavírus.

A região administração especial vizinha conta com perto de 15 mil médicos em hospitais públicos e clínicas privadas. 

Macau é exceção entre países e territórios onde se fala português

De todos os países e territórios onde a língua portuguesa é presença oficial, Macau é a única região que regista, até ao momento, casos positivos do novo coronavírus de Wuhan, 10 no total.
De resto todos os outros, maioritariamente localizados em África, continuam sem registo de ocorrências, o mesmo acontecendo no Brasil e em Timor-Leste. Aliás, apesar da forte ligação à China, país que acolhe milhares de estudantes africanos, África é o único continente ainda livre do novo coronavírus de Wuhan, capital da província central chinesa de Hubei.

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