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Voos Macau-Timor podem arrancar em abril

A companhia aérea chinesa Sino-LAC Aviation diz estar à espera de um acordo entre os reguladores aéreos para lançar voos indiretos entre Macau e Timor-Leste, em Abril. A Autoridade de Aviação Civil de Macau garante que não há quaisquer negociações a decorrer.

Servir a comunidade chinesa em Timor-Leste e promover o país do Sudeste Asiático como um destino turístico para visitantes vindos da China continental. É este o objetivo dos voos regulares de passageiros que a companhia aérea chinesa Sino-LAC Aviation quer lançar, a partir de abril, entre Macau e a capital de Timor-Leste, Díli, com paragem nas Filipinas.

“Neste momento há cerca de 30 mil a 40 mil trabalhadores chineses envolvidos em projetos de infraestruturas” em Timor-Leste, disse ao PLATAFORMA Yuan Lie, fundador e presidente do Sino-LAC Holding Group.

A lista de projetos entregues pelas autoridades timorenses a empreiteiros chineses inclui a reabilitação da estrada que liga Díli à cidade de Ainaro, a auto-estrada de Suai, na costa sul da ilha, e os portos de Tibar e de Beaço.

Outro alvo da Sino-LAC Aviation é a comunidade sino-timorense que desde o século XIX se começou a formar na ilha. Segundo o ‘think-tank’ australiano Lowy Institute, existem entre 500 a três mil chineses a residir em Timor-Leste.

Na direção oposta, diz Yuan Lie, a companhia aérea chinesa quer “explorar o mercado turístico” de Timor-Leste. O país recebeu menos de cerca de 75 mil visitantes em 2018, ano em que o Governo apontou para 450 mil turistas como meta.

O problema, refere o presidente do Sino-LAC, é que “atualmente é muito difícil voar de onde for na China para Timor”. O Aeroporto Internacional Presidente Nicolau Lobato tem apenas ligações a Singapura, a Darwin, na Austrália, e a Bali e Kupang, na Indonésia.

“É sempre necessário apanhar um voo de ligação e muitas vezes demora pelo menos 24 horas”, lamenta Yuan Lie. O empresário quer mudar a situação com voos “três a quatro vezes por semana”, com paragem em Zamboanga, no sul das Filipinas.

O PLATAFORMA pediu um comentário à Autoridade de Aviação Civil das Filipinas, mas não obteve qualquer resposta até ao fecho da edição.

Sem negociações

O arranque dos voos está à espera apenas da assinatura de um acordo de serviços aéreos entre Macau e Timor-Leste, garante Yuan Lie. Os reguladores aéreos dos dois territórios “ainda não chegaram a um acordo oficial, mas estamos a fazer muita força, sobretudo do lado timorense”, reforçou.

A Sino-LAC Aviation convidou no mês passado o embaixador de Timor-Leste em Pequim, Bendito dos Santos Freitas, e o vice-diretor da Autoridade de Aviação Civil de Timor-Leste (AACTL), Sabino Henriques, a visitar Macau e o Parque Industrial de Cooperação China-América Latina, na Ilha da Montanha, onde o Sino-LAC Holding Group tem a sede.

“As autoridades de Macau estavam muito ocupadas com a organização das celebrações do 20º aniversário da RAEM [Região Administrativa Especial de Macau], por isso não foi possível discutir muito sobre o acordo aéreo”, explicou Yuan Lie.

No entanto a Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) referiu ao PLATAFORMA que “não estão a decorrer quaisquer negociações” com o regulador de Timor-Leste. A Sino-LAC Aviation “contactou-nos em 2018 para obter informações sobre a realização de voos entre Macau e Timor-Leste, mas até agora não recebemos qualquer pedido formal”, sublinhou a AACM.

O PLATAFORMA pediu mais informações à AACTL mas não obteve qualquer resposta até ao fecho da edição.

O Governo de Díli deu a 14 de novembro luz verde à Sino-LAC Airlines Timor-Leste, uma parceria entre a Sino-LAC Aviation e a Air Timor, a única companhia aérea com sede no país.

Em maio passado, a Air Timor tinha anunciado um acordo com a companhia aérea chinesa Air Travel que previa o lançamento de voos diretos entre Díli e Hong Kong no espaço de dois meses, seguido de ligações a outros aeroportos na região.

O PLATAFORMA tentou entrar em contacto com a Air Timor mas sem sucesso.

“Vamos pedir a licença para lançar voos a partir do lado timorense”, adiantou Yuan Lie. “Pelo menos até outubro, não temos qualquer hipótese de obter uma licença em Macau”, lamenta o empresário. O monopólio que a Air Macau ainda detém sobre os direitos de tráfego a partir do aeroporto da Taipa termina nessa altura.

A AACM confirmou no início de 2019 que não vai renovar a concessão da companhia de bandeira da região. Questionado sobre um eventual interesse da Sino-LAC Aviation numa concessão aérea em Macau, Yuan Lie sorriu e invocou “segredo comercial”.

Locação com tripulação

Há cerca de um ano, a Sino-LAC Aviation lançou uma campanha de recrutamento de 98 funcionários, incluindo 10 pilotos. Yuan Lie ressalvou no entato que acabou por decidir alugar dois aviões Embraer ERJ145, com tripulação incluída, da companhia aérea chinesa Tianjin Airlines.

A Tianjin Airlines faz parte do HNA, um conglomerado chinês, que está sob supervisão de um grupo de credores, liderado pelo Banco de Desenvolvimento da China, e tem vindo a alienar investimentos devido a problemas financeiros.

A Sino-LAC Aviation já inspecionou no mês passado as duas aeronaves, revelou Yuan Lie. Os aviões da companhia aeronáutica brasileira Embraer foram fabricados em Harbin, no norte da China, e têm capacidade para 80 passageiros. O empresário acredita que será possível atingir uma taxa de ocupação de “pelo menos 80 por cento” para os voos entre Macau e Timor-Leste.

A campanha de recrutamento lançada em janeiro de 2019 previa ainda a contratação de 80 assistentes de bordo, mas Yuan Lie realçou que a Sino-LAC Aviation foi mais além e já treinou 150 assistentes no último ano. “No próximo mês, vamos enviar as primeiras 10 para a segunda fase de formação na Indonésia”, afirmou o empresário.

Brasil à vista

Os voos previstos pela Sino-LAC Aviation seriam os primeiros a ligar Macau a países de língua portuguesa desde que a TAP Air Portugal cancelou a 31 de outubro de 1998 um voo regular entre Macau e Lisboa. Isto após ter acumulado prejuízos a rondar os 200 milhões de patacas, segundo uma notícia do jornal local Ponto Final.

A cidade nunca teve quaisquer voos com o Brasil ou qualquer dos outros destinos lusófonos, mas Yuan Lie quer mudar a história. “Chamamos-lhe ‘Rota Aérea da Seda’, ajudando a ligar Macau e a China aos países de língua portuguesa e à América Latina”, sublinhou o empresário.

Após Timor, a Sino-LAC Aviation tem na mira o Brasil. “O negócio do comércio eletrónico entre a China e o Brasil é já enorme e acreditamos que vai crescer ainda mais”, salientou Yuan Lie, antigo vice-presidente para a América do sul do gigante chinês das telecomunicações ZTE Corporation.

Segundo a imprensa chinesa, a AliExpress, subsidiária da empresa chinesa de comércio eletrónico Alibaba Group, revelou que as vendas no Brasil triplicaram durante o último festival de compras online conhecido como “Duplo 11”, que decorre anualmente a 11 de novembro, o “Dia dos Solteiros” na China.

“Todas essas pequenas encomendas vão da China para o Brasil através de Hong Kong, por exemplo através de Miami”, nos Estados Unidos, referiu Yuan Lie. O empresário quer introduzir mais competição neste mercado através de Portugal.

A campanha de recrutamento lançada no ano passado falava de voos de mercadorias entre Macau e São Paulo, no Brasil, com paragem em Port Louis, nas Maurícias.

O novo plano passa por lançar, “talvez em 2021”, voos de carga de Macau para Lisboa e depois aproveitar as rotas que a TAP Air Portugal já tem para a América do Sul. “Somos uma ‘start-up’ e lançar voos de tão longa distância, para o Brasil, colocar-nos-ia sob alguma pressão financeira”, justificou Yuan Lie.

A Sino-LAC Aviation ainda não “contactou diretamente” a TAP, admitiu o empresário. “Transmitimos o nosso interesse através de algumas agências e amigos em Macau que têm contacto com a TAP. Até agora os sinais são positivos”, acrescentou.

O objetivo a longo prazo, defeniu Yuan Lie, é “atrair toda a mercadoria que vai do sul da China” com destino aos países de língua portuguesa e à América Latina. O empresário espera que dentro de três anos a Sino-LAC Aviation possa conseguir uma licença para operar também voos domésticos na China continental, algo que admite ser “muito difícil”.

O aeroporto de Macau lançou em dezembro de 2018 uma expansão do terminal, que terá capacidade para acolher até 10 milhões de passageiros por ano. Mesmo assim, Yuan Lei teme que o aeroporto seja pequeno demais no futuro. “Com os protestos em Hong Kong, creio que Macau virá a ser ainda mais beneficiado pelas políticas do Governo central”, antecipou.

Apesar do Delta do Rio das Pérolas já contar com três aeroportos internacionais – Macau, Hong Kong e Shenzhen –, o empresário afirmou que é possível que o aeroporto de Zhuhai seja também aberto a voos vindos do estrangeiro. 

Vítor Quintã 17.01.2020

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