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Princípio da incerteza

A vitória de Tsai Ing-wen em Taiwan faz aumentar pressão sobre Pequim para a procura de uma solução para a crise em Hong Kong. Analistas anteveem uma “guerra de palavras”, mas sem mudanças no essencial das posições de Pequim e Taipé. Macau não é ator principal neste jogo.

Todas as análises convergem num ponto. A crise que se vive em Hong Kong desde junho do ano passado, em resultado do movimento contra a lei de extradição, foi um fator decisivo para a vitória de Tsai Ing-wen, a candidata do Partido Democrático Progressista (DPP) nas eleições de 11 de janeiro. Mais do que um teste ao desempenho de Tsai e do seu governo no primeiro mandato, o ato eleitoral sinalizou uma rejeição da fórmula Um País, Dois Sistemas proposta por Pequim para a reunificação, segundo analistas. “A campanha de Tsai foi cimentada em torno do movimento anti-governo em Hong Kong e na oposição à forma como o Governo Central tem gerido políticamente  a questão de da região administrativa especial”, sublinha Eilo Yu, professor de administração pública na Universidade de Macau. 

Qual será então o impacto deste resultado na abordagem de Pequim a Taiwan e a Hong Kong? Para Derek Yuen – especialista em estudos estratégicos e antigo conselheiro de Regina Ip, deputada e líder do partido pró-Pequim New People’s Party – O Governo Central “ainda demorará algum tempo a aceitar a nova realidade, sendo que no curto-prazo continuará a oferecer incentivos e benefícios a cidadãos de Taiwan que queiram viver ou trabalhar na China continental”.

Já o cientista político Sonny Lo, antevê uma “guerra de palavras” entre os dois lados, ao mesmo tempo que dirigentes do Kuomintang (KMT) e do New Party (pequeno partido também pró-reunificação) deverão ser intermediários no contacto com o DPP, uma vez que não deverá existir diálogo direto. Entretanto, Xi Jinping manterá o princípio Um País Dois Sistemas como eixo central do discurso para uma reunificação, embora, salienta Sonny Lo, tenha que “refinar o modelo para se adequar à realidade em Taiwan”.

 O Governo Central tem elogiado Macau como seguidor exemplar da política Um País Dois Sistemas, algo que foi notoriamente realçado no mês passado durante a visita do Presidente Xi Jinping. Todavia, “a experiência de Macau não convence a população de Taiwan”, assevera Yu. Na Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) vigora uma lógica tendencialmente apolítica, com uma legitimidade de implementação do princípio Um País Dois Sistemas  com base no desempenho económico. Eilo Yu argumenta que “se o sucesso da fórmula é ser construído numa sociedade apolítica, compreende-se que não tenha adesão em Taiwan”.

Certo é que, Macau não surge neste contexto como um ator central para os observadores daí que Sonny Lo anteveja que o resultado das eleições em Taiwan não tenham impacto efetivo na RAEM. 

O mesmo não se pode dizer de Hong Kong. Existe uma fluidez na dinâmica política cruzada entre Taiwan e a antiga colónia britânica, algo que se acentuou desde   que eclodiu a crise da lei anti-extradição. Para Derek Yuen, “o factor Hong Kong na política de Taiwan permanecerá enquanto Pequim não estiver na disposição de resolver a instabilidade e crise política em Hong Kong”. Uma vez que “a vitória de Tsai aumenta o custo político de deixar pontas soltas por resolver”, o Governo Central “será forçado a procurar soluções realistas para Hong Kong”. Por outro lado, Sonny Lo prevê que Pequim aumente a monitorização da influência de Taiwan na política de Hong Kong e no acolhimento de Taiwan para jovens manifestantes de Hong Kong”. 

José Carlos Matias 17.01.2020

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