Digo-o, sem rodeios, porque a clareza é devida. A saída de Alexis Tam é uma perda para o bilinguismo, para a dimensão política da cultura, para a plataforma sino-lusófona… e para o acesso da comunidade portuguesa ao Palácio. Num governo de funcionários públicos, Alexis cabia. Por mérito e resultados – na saúde, na educação, no apoio às associações… também. Cometeu erros, é certo; não encaixou em lobbies decisivos; e a longa ligação a Chui Sai On é hoje uma fatura pesada.
Ho Iat Seng tem toda a legitimidade. E a coragem de mudar, incluindo pesos pesados como Lionel Leong, tem mérito. Um Governo que se preze tem de ser solidário e da confiança pessoal do Chefe do Executivo. A nova normalidade tem de romper com a anormalidade do anterior Executivo, que não reunia, não conjugava, não liderava. Aos novos secretários, que se juntam a Raimundo Rosário e Wong Sio Chak, há muito vaticinados para ficar, desejo o maior sucesso.
O futuro está à porta e anuncia oportunidades. Não vejo, no novo elenco que se anuncia, uma figura talhada para a plataforma, desígnio nacional ainda tão mal percebido, que precisa de visão e de acelerador. Porque esse desígnio é a base identitária deste jornal, arrisco uma sugestão: o Fórum Macau carece há muito de dimensão política, agregando a cultura e a educação ao mote das relações económicas.
Alexis Tam mostrou sempre interesse na visão que fez nascer este jornal. Porque a percebia, interessava-se, tinha prazer em falar disso. Sempre o cuidado de não interferir noutras tutelas – percebi também isso. Mas sabe – e acredita. É preciso acreditar. Para ele, para nós, para a visão que importa à China – cada vez mais, até pelo bloqueio em Hong Kong – Alexis Tam é uma bela oportunidade para o que representa o Fórum, e sobretudo para tudo o que ainda não representa.
Paulo Rego 15.11.2019