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Entre a continuidade e mudança

Ho Iat Seng não deverá herdar toda a equipa de secretários de Chui Sai On. Mas algumas peças manter-se-ão. A continuidade de Wong Sio Chak é vista como aposta segura. Outros poderão permanecer, mudar de pasta ou sair. A dança das cadeiras vai começar.

Ninguém quer arriscar em público com certezas. O segredo da composição da equipa governativa que vai acompanhar o Chefe do Executivo designado Ho Iat Seng a partir de 20 de dezembro parece estar fechado a sete chaves entre Pequim e o novo chefe local.  A cidade ferve de rumores e teses que oscilam entre a renovação quase total, a re-arrumação das pastas e a continuidade. Entre os observadores auscultados pelo PLATAFORMA, a permanência do Secretário para a Segurança Wong Sio Chak no Executivo é dada com praticamente  indiscutível. Uma outra inclinação, embora menos consensual, diz respeito à continuação no cargo de Secretário para os Transportes e Obras Públicas Raimundo do Rosário, não obstante as várias vezes em que, no passado, deu a entender que seria um secretário só para um mandato. Quanto às restantes três pastas, as opiniões dividem-se sobre manutenção, mudança de portfólio ou saída. 

A um mês e meio da posse, o dia em que o suspense será quebrado aproxima-se. Poderá ser nos próximos dias ou após a ida do Chefe do Executivo, Chui Sai On, à Assembleia Legislativa, no dia 12 de novembro. Há  cinco anos, o Jornal Tribuna de Macau avançada a 7 de novembro a entrada de Lionel Leong e Wong Sio Chak no Governo, bem como a ascensão de André Cheong à liderança do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC). O jornal Ou Mun viria, poucos dias depois, a 11 de novembro, a revelar a composição na íntegra do Executivo e dos restantes titulares de altos cargos.  

Entre 2009 e 2014

A fórmula de transição de equipa governativa de 2014 contrasta com as mudanças de Executivo anteriores em 2004 e 2009. No início do segundo mandato do primeiro Chefe do Executivo, Edmund Ho, a aposta foi na continuidade total, tendo sido todos os titulares de altos cargos reconduzidos para um mandato de cinco anos. Em 2009, com  a entrada de um novo chefe do Governo, no grupo de secretários as alterações foram mínimas, apenas com a inevitável substituição de Chui Sai On – que passara a ser Chefe do Executivo – por Cheong U ex-líder do CCAC, que assegurou a pasta dos Assuntos Sociais e Cultura.

Já em 2014, a renovação do Executivo foi total. Este ano, o cenário mais provável é de um meio caminho entre a permanência dos cinco secretários e a saída de toda a equipa. Há a assinalar que os cinco secretários estão a  terminar o primeiro mandato no lugar e que, à exceção de Raimundo do Rosário que tem 63 anos, os restantes têm menos de 60 anos. No entanto, a idade poderá não ser  impeditivo para um novo mandato de Rosário ao leme da secretaria dos Transportes e Obras Públicas. O homem que entre 1999 e 2014 chefiou as delegações económicas e comerciais em Lisboa e Bruxelas é visto como alguém em quem Ho Iat Seng e o Governo central confiam.  

Mais segura é a permanência de Wong Sio Chak no Governo. Aos 51 anos é o mais  jovem dos cinco secretários e o seu desempenho à frente da pasta da segurança tem sido marcado ao longo deste mandato por um frenesim legislativo e por uma centralidade que se tem refletido no reforço de competências com a nova da lei da cibersegurança, a criação da comissão da defesa da segurança do Estado ou a transferência do Gabinete de Informação Financeira para a sua tutela.  Além do mais, a crise em Hong Kong tem levado a uma intensificação da mensagem política de salvaguarda da segurança nacional.

Nos últimos meses, porém, circulou a tese que Wong poderia transitar para a Administração e Justiça, passando o Comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários (SPU) a Secretário para a Segurança. 

Dúvidas que persistem 

Quanto a Sónia Chan, 54 anos, tão depressa se presume que continuará no cargo, como se aventam outros lugares, como o Comissariado de Auditoria, ou outras funções. Num cenário de saída de Chan da secretaria para a Administração e Justiça, além de Wong Sio Chak, o Comissário Contra  Corrupção, André Cheong, é visto como um candidato, tendo em conta também a sua experiência anterior como diretor dos Serviços para os Assuntos de Justiça.

 O Comissário de Auditoria, Ho Veng On, volta a ser encarado por observadores como uma hipótese, caso abandone o cargo que ocupa há dez anos. Joga a favor dele o percurso antes de 1999 e o facto de ter sido chefe de gabinete de Edmund Ho ao longo da primeira década da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). Para alguns, o currículo de Ho Veng On pode também ser adequado para a Secretaria para a Economia e Finanças, caso Lionel Leong, 57 anos, não seja reconduzido. Em todo o caso há que salientar que Leong é um peso pesado da política local com experiência quer como deputado por Macau à Assembleia Popular Nacional (APN) quer como membro do Conselho Executivo, tendo alegadamente considerado a possibilidade de se candidatar a Chefe do Executivo. 

Paralelamente, o regresso à vida política de Lee Peng Hong – presidente do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento (IPIM) entre 1999 e 2009  – é visto como provável com Ho Iat Seng como líder do Governo, daí que tenha sido aludido como potencial candidato ao lugar de Leong, como é referido num artigo recente do site CLbrief, em que saltam outras opções para a pasta da Economia e Finanças: o atual diretor dos Serviços de Economia Tai Kin Ip e o diretor dos Serviços de Inspeção e Coordenação de Jogos Paulo Martins Chan.

Neste contexto surge também a opção Alexis Tam, que já tinha sido falado em 2014 para substituir Francis Tam. Por outro lado, dado o bilinguismo e experiência na Função Pública, o Secretário para os Assuntos Sociais também é encarado como alguém que podia ser aproveitado para a Administração e Justiça. 

Alexis Tam, 57 anos, firmou créditos nas relações culturais e educacionais com Portugal e a lusofonia ao longo deste mandato, e também nos anos que passou como chefe de gabinete de Chui Sai On, pelo que a sua continuidade é vista com probabilidade, podendo não ser fácil encontrar substituto. 

Se Tam sair, o nome de O Lam, chefe de gabinete de Chui Sai On, foi ventilado como uma hipótese para seguir as pisadas do próprio Alexis Tam: da coordenação do gabinete do Chefe do Executivo para a Secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura. Além do mais, as origens familiares de O Lam – sobrinha-neta de O Cheng Peng, fundador da empresa Nam Kwong e figura líder das forças pró- Partido Comunista em Macau após 1949 – são encaradas como um factor relevante.   

Nas últimas semanas, os nomes de duas outras mulheres entraram no “mercado”  das especulações para a mesma pasta: a Diretora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes e a Diretora dos Serviços de Identificação, Ao Ieng U. Na equação de alguns observadores aparece também Sou Chio Fai, diretor dos Serviços do Ensino Superior.

José Carlos Matias 08.11.2019

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