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Tiro no pé

Sulu Sou denuncia o “caráter antidemocrático do sistema “ e a vontade da maioria do hemiciclo de “silenciar ao máximo os opositores”, sinalizando a separação de poderes ao dizer que aguarda, “sem pressões”, o julgamento por desobediência qualificada. Na mesma semana, a União Europeia coloca Macau na “lista negra dos paraísos fiscais” “não cooperantes”. Falem mal, desde que falem de mim, diria o outro… Mas este é de facto um mau momento para a imagem internacional da Região.

A decisão da Assembleia Legislativa é um tiro no pé. Um comportamento quiçá excessivo num protesto de rua não pode ser pretexto para um ataque às liberdades individuais e políticas. A hierarquia dos valores está invertida e o alvo é claramente selecionado, a autoridade policial, o poder executivo e o legislativo hostilizam coordenadamente uma voz crítica do regime, pensando que assim o calam, fazendo prova de força e amor à Pátria. Na verdade, expõem o medo e a fragilidade, criam um mártir e dão vida nova a quem tinha surpreendentemente recuperado a popularidade perdida dos jovens democratas.

A questão financeira é diferente – quiçá até injusta. Se, por um lado, a desconfiança de Bruxelas em relação aos casinos não é nova; por outro, é também verdade que Macau até tem colaborado de forma crescente com as instâncias internacionais que combatem a fuga de capitais. Não porque a Região esteja particularmente interessada nisso, mas porque a China e os Estados Unidos, por razões diferentes, partilham nesta altura um interesse comum no controlo dos fluxos de capitais.

A credibilidade internacional não é um fim em si mesmo. Aliás, ela é muitas vezes posta em causa por puro desconhecimento e preconceito. Mas há sinais de facto preocupantes, sobretudo quando são postas em causa liberdades individuais e políticas. A censura e a repressão no Continente adensam o sentimento nacionalista e criam a ilusão de que Macau será tanto melhor quanto mais parecido for com a Mãe Pátria e mais fiel for ao Império do Meio. É uma escola de pensamento que ganha poder e faz-se sentir. Coloca Macau no mapa, pelas piores razões. 

Paulo Rego

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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