Há um fantasma escondido nos bastidores políticos: Chan Meng Kam. Com a retirada do líder, a bancada de Fujian cedeu passando de primeira a terceira força política. Muito se especula sobre o que terá verdadeiramente ditado a decisão de Chan Meng Kam, apontado como candidato a muita coisa… de casinos à chefia do Executivo. O movimento é contudo descendente, em contraciclo; não faz sentido como estratégia de ascensão.
Há novas estrelas no parlamento. Mak Soi Kun, o vencedor, mostra laços locais consistentes e um apoio que, tendo base em Macau, tem a força da proximidade. Ella Lei, a surpresa, tira os Operários do susto e mostra um discurso tradicional comunista refrescado por via da sucessão.
Há resultados especiais: Agnes Lam, por ser fresca e moderna, mas educada na tradição, fundindo ideologias, gerações, culturas… Sulu Sou, esse, é a cara da sobrevivência, resgatando os jovens democratas da implosão em que se acantonaram.
Há muitos outros fenómenos, menos ou mais visíveis, mais ou menos antigos…
Há a confirmação de Coutinho, lutador sempre em pé; e o eclipse total de Melinda.
Há, sobretudo, um claro sinal de mudança. O eleitor manda pouco – escolhe um terço dos deputados – mas mostra o que pensa a maioria: quer sobretudo mudança.
Vamos ver o que muda. Pouco. Mas são outras cabeças, diferentes, até de costas voltadas. Mas valem porque dizem o que os outros não pensam.
Há mais ar. É psicológico, vale o que vale… Mas não é igual ao que era.
Macau vai arrastar-se. Só muda quando o Chefe mudar. Aliás, esse é o verdadeiro engodo deste Executivo. Na cultura chinesa do burgo, manda o mandarim; na organização do poder, manda o centro do círculo; na economia de Estado, manda quem paga os gastos; na economia de casino, mandam exércitos na sombra.
Há um vazio de poder; não há um Governo mesmo a mandar.
Há o futuro a ganhar; mas vai ter de esperar.
Paulo Rego