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Entrada razoável num difícil 2017

Embora o comércio global e a economia chinesa entrem em 2017 com um razoável impulso de crescimento, prevê-se que o crescimento do PIB abrande para 6,3 por cento este ano, devido a um clima mais negativo para as exportações da China nos Estados Unidos, a um investimento mais lento no setor imobiliário e, mais importante ainda, a uma mudança de atitude dos dirigentes políticos em direção a uma ênfase um pouco menor no crescimento.

O crescimento real do PIB subiu para os 6,8 por cento em termos homólogos no último trimestre de 2016, numa altura em que o impulso da indústria de serviços cresceu. Isto levou o crescimento anual do PIB aos 6,7 por cento, abaixo dos 6,9 por cento de 2015, mas superando confortavelmente a “margem de fundo” definida nos 6,5-7 por cento.

Contudo, o custo foi o de um novo aumento da alavancagem. O crédito global – TSF menos o financiamento por capitais próprios, incluindo a emissão de obrigações de governos locais – cresceu 16,1 por cento em 2016 e a dívida global atingiu cerca de 265 por cento do PIB no final de 2016.

O reequilíbrio continuou no ano passado. Com o setor dos serviços a superar o ritmo da indústria, e com as alterações de preços a favorecerem também os serviços, a contribuição deste sector no PIB subiu 1,2 pontos percentuais para os 51,9 por cento.

A dinâmica de investimento recuperou no último trimestre de 2016, depois de um enfraquecimento a meio do ano, com o crescimento do investimento em ativos fixos (IAF) a subir para os 7,9 por cento, apoiado em alguma melhoria no investimento empresarial. Surpreendentemente, o IAF imobiliário também acelerou mais uma vez no terceiro trimestre, apesar das medidas tomadas nas grandes cidades para conter as subidas dos preços da habitação.

O consumo manteve-se forte no final de 2016, com um crescimento real das vendas a retalho de 9,1 por cento no último trimestre, embora as vendas de automóveis de passageiros tenham desacelerado em dezembro.

O crescimento real das exportações de mercadorias abrandou para 1,4 por cento em termos homólogos no quarto trimestre. Contudo, o volume de exportações mensais, com base numa média móvel de três meses e ajustado sazonalmente, subiu quatro pontos percentuais em dezembro, apontando para um impulso sólido para as exportações na entrada em 2017.

A inflação dos preços no consumidor abrandou em dezembro para 1,9 por cento em termos homólogos devido a menores aumentos nos preços de alimentos. Embora o índice de preços no produtor tenha subido 5,5 por cento em termos homólogos, impulsionado pela mineração de carvão e pela indústria pesada, prevê-se que o impulso abata durante a o primeiro semestre de 2017 e que a inflação do índice de preços no consumidor permaneça bastante abaixo da meta de 3 por cento em 2017, sugerindo que não haverá grandes implicações na política monetária.

Olhando em frente, os recentes indicadores do comércio global mostram uma dinâmica razoável na entrada em 2017, e espera-se um crescimento de 2,7 por cento este ano, acima dos 1,4 por cento de 2016. Efetivamente, a China deveria, em princípio, beneficiar de uma eventual recuperação no crescimento dos Estados Unidos apoiada numa política fiscal mais expansionista sob um Governo de Trump. Contudo, embora não sejam esperadas tarifas em todos os domínios, parece-nos bastante claro que as exportações da China para os Estados Unidos irão enfrentar sob a Administração de Trump um clima mais adverso, o que deverá afetar o crescimento das exportações. Em geral, é esperado que as perspetivas das exportações melhorem um pouco no próximo ano auxiliadas por uma depreciação de 5,7 por cento até dezembro, ponderada com base no câmbio frente aos principais parceiros comerciais.

Em termos internos, o investimento em infraestruturas deverá manter-se sólido, num ano de grande remodelação nas lideranças. O investimento empresarial deverá também beneficiar um pouco da retoma no crescimento nos lucros. Contudo, o aumento das restrições na compra de casas em muitas grandes cidades irá afetar o investimento imobiliário. É esperado que o consumo desacelere com o abrandamento do crescimento dos salários, permanecendo ainda assim relativamente sólido.

Entretanto, as mensagens da Conferência Central de Trabalho Económico e outros comunicados recentes sugerem que os dirigentes políticos estão a colocar mais ênfase na redução de riscos financeiros, dando menor importância a garantir um crescimento do PIB de pelo menos 6,5 por cento. A conferência apresentou um mandato para uma maior expansão fiscal, mas apelou a uma posição monetária menos generosa. Não prevemos um aumento na taxa de juros de referência este ano, mas é esperado que os decisores políticos orientem um abrandamento no crescimento do crédito global para cerca de 14 por cento em 2017.

Em geral, esperamos que o crescimento do PIB abrande para os 6,3 por cento este ano. O elevado nível de incerteza significa que os dirigentes económicos da China irão querer manter as suas opções abertas. Mas a atual dinâmica de crescimento razoável oferece alguma margem para dois sentidos nas políticas.

Louis Kuijs

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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