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Ao jeito de Trump

Os mais otimistas veem em Trump um líder pragmático, seduzido pelos negócios e rendido à gestão estratégica. Os mais lúdicos dizem que não fará nada do que prometeu, sendo uma boa escolha porque se nega a si próprio. Mas o futuro presidente norte-americano – toma posse a 20 de janeiro – dá ares da sua verdadeira graça ao ensaiar uma confrontação com a China que não se percebe sequer como defende os interesses dos Estados Unidos; muito menos a paz e a prosperidade no mundo.

Trump telefonou a Tsai Ing-Wen, presidente de Taiwan.  Está no seu direito; fala com quem quiser e a tese segundo a qual quem se quer dar com Pequim não pode falar com Taipé não faz sentido. Nem a própria elite chinesa acredita nisso, muito menos quando se trata da Casa Branca. O problema é outro: Trump vangloriou-se publicamente desse contato, desafiando Pequim ao jeito de uma conversa de café nas redes sociais. Resultado: protesto formal e conversa estragada, ainda antes de ela começar. O incidente, provocado sem contexto nem necessidade, antecipa um estilo de confrontação próprio da Guerra Fria.

O apoio dos Estados Unidos a Taiwan é real, longo e consistente. Até porta-aviões americanos já escoltaram a ilha nacionalista, nas primeiras eleições democráticas, em 1996. Vem por isso a despropósito Trump querer apoderar-se de um legado que não é seu e que merece melhor ponderação. Embora profunda e consequente, essa divergência não impediu o diálogo entre as duas grandes potências, porque Washington a tem gerido como um direito próprio – e não como um confronto a Pequim. Essa, sim, é a forma pragmática e inteligente, tacitamente aceite pela China, que no fundo a reconhece no seu próprio mindset político. Já a confrontação pública e boçal gera inevitavelmente uma reação violenta.

Trump começa mal; ensaia o pior estilo do cowboy americano, para o qual o mundo já não tem paciência. A China, também ela imperfeita, está longe de ser um modelo de consenso internacional; contudo, fez o que devia quando Trump foi eleito: calma e serena, declarou disponibilidade e interesse nas melhores relações possíveis. Pelos vistos enganou-se, como se engana quem acha que Trump não passa de uma farsa inofensiva. 

Paulo Rego  

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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