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Luta contra a epidemia de febre-amarela

Um ano depois do início da epidemia em Luanda, que se alastrou depois a todo o país com, oficialmente, quase 400 mortos, Angola ainda não pode dar como terminado o surto da febre-amarela, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Para trás fica uma crise que esgotou as reservas internacionais de vacinas contra a doença, perto de 20 milhões de angolanos vacinados em poucos meses e uma epidemia que alastrou à vizinha República Democrática do Congo, com casos até na China.

O primeiro caso desta epidemia foi conhecido a 05 de dezembro de 2015 e o último, confirmado laboratorialmente, remonta ao final de junho passado, como recordou, em entrevista à Lusa, o representante da OMS em Luanda, Hernando Agudelo.

“Um ano depois, o balanço é positivo, no entanto não podemos ainda declarar que Angola esteja totalmente livre da epidemia, uma vez que ainda decorre o período de implementação da resposta”, explicou o responsável.

Os primeiros casos foram registados em indivíduos com idades entre os 22 e 34 anos, de nacionalidade eritreia, residentes então há aproximadamente oito meses no município de Viana, arredores de Luanda, e que entraram no país supostamente com boletins de vacina falsos (Angola exige vacinação contra febre-amarela).

Neste momento, observou o representante da OMS, a situação em Angola está controlada, sem novos casos confirmados, pelo que está “cada vez mais próximo” de dar por concluída a epidemia, considerada a mais grave no país em mais de 30 anos.

Desde o início da epidemia em Angola já foram reportados casos em todas as 18 províncias do país e casos de transmissão local da febre-amarela em 12 províncias. Desde dezembro de 2015, esclarece o Hernando Agudelo, foram registados em todo o país 4.387 casos suspeitos e confirmados pelo laboratório apenas 884, havendo ainda 373 óbitos.

“Não podemos dizer que já não há casos suspeitos, continuam a ser reportados em todo o país”, apontou.

A transmissão da doença é feita pela picada do mosquito (infetado) “aedes aegypti”, que, segundo a OMS, no início desta epidemia estava presente em algumas zonas de Viana, Luanda, em 100% das casas, município em que se registaram os primeiros casos.

O “Mercado do 30”, arredores de Luanda, foi o epicentro da epidemia de febre-amarela que no último ano alastrou por todo o país, mas hoje, com limpeza diária e novas bancadas, o tempo em que o “perigo estava à espreita” ficou para trás. 

Situado no município de Viana, a cerca de 30 quilómetros do centro de Luanda, a falta de condições daquele mercado, com perto de 4.000 vendedores, terá facilitado a multiplicação do mosquito que propaga a doença.

Um ano depois, novos espaços para a circulação automóvel no interior do mercado e novas bancadas preenchem os espaços que antes eram reservatórios de enormes quantidades de lixo.

“Naquela altura o mercado realmente estava muito sujo, mas assim que deram uma nova ordem, todos os dias há limpeza neste mercado, graças a Deus agora já vendo a vontade sem grandes constrangimentos e receios”, recorda a vendedora de refrigerantes Isabel João.

Para travar o ressurgimento da epidemia no local, o “Mercado do 30” conta atualmente com trabalhadores contratados pela administração para assegurar a limpeza diária e por evitar a formação de charcos de água, fontes de reprodução do mosquito.

Uma das secções do “Mercado do 30” em que o surto surgiu com forte intensidade, devido ao lixo e águas paradas, foi a chamada “zona das verduras”. 

Adelaide Solino, vendedora de repolho nesta área do mercado, explicou à Lusa que cada vendedor paga diariamente 100 kwanzas (60 cêntimos de dólar) para suportar a limpeza do espaço comum, que começa logo depois de terminadas as venda do dia, confessando que vale a pena o dinheiro, tendo em conta a segurança.

No pico da epidemia, a envolvente do “Mercado do 30” chegou a ser alvo de uma gigantesca campanha de vacinação, levada a cabo por militares, por ser considerado o epicentro do surte de febre-amarela, que acabaria por alastrar a todo o país.

Essa propagação estará também diretamente relacionada com o facto de centenas de vendedores de produtos frescos viajarem das províncias para fazer negócio deste mercado, um dos principais pontos de abastecimento de Luanda.

António Leonardo, que faz serviço de táxi no mercado há seis anos, vê com satisfação o atual cenário que o mercado do 30 apresenta: “Melhorou muito, já não há amontoado de lixo como dantes, está bem organizado, com limpeza”.

Apesar de admitir que o pior já passou, ainda tem bem presente um período em que mais de uma centena de novos casos de febre-amarela surgiam todas as semanas na zona. “Naquela época foi difícil, porque as pessoas vinham todas ao mercado. O perigo estava à espreita para todos”, atira.

Após várias operações de vacinação em massa da população, o representante da OMS em Angola afirma que está em preparação uma nova fase, com a chegada ao país, nos primeiros dias de dezembro, de três milhões de doses da vacina: “Tão logo cheguem as vacinas dar-se-á ao arranque de mais uma campanha”, garantiu Agudelo.

Agora, argumentou, as entidades devem estar em alerta, tendo em conta a necessidade um reforço de vigilância tendo em conta a presente época chuvosa em Angola – que propicia a multiplicação do mosquito transmissor da doença – e de forma a prevenir o surgimento de novos casos da doença, fundamentalmente no seio das populações que ainda não foram imunizadas.

“Como ainda decorre o período de implementação da resposta é preciso que se redobre a vigilância nessa época da chuva e que se continuem as campanhas de rotina”, enfatizou o representante da OMS.

 Na primeira fase da campanha de vacinação mais de 18 milhões de pessoas em Angola foram imunizadas contra a doença, mas a OMS chegou a admitir que o combate à epidemia que teve início em Luanda levou à rutura dos ‘stocks’ internacionais da vacina.

Esta nova fase da vacinação deverá chegar a cerca de três milhões de pessoas em todo país, alcançando a faixa dos 21 milhões, restando 3,5 milhões de pessoas para a cobertura total do país. 

Domingos Silva

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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