O apoio do governo central ao desenvolvimento de novos serviços na economia de Macau e no exterior é recebido com interesse.
As medidas anunciadas por Li Keqiang para Macau no decurso da 5ª reunião ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa encorajam as companhias locais e a sociedade civil local a explorar alternativas no sector de serviços para a diversificação económica, defende o empresariado local.
O primeiro-ministro chinês apresentou na última semana um conjunto de medidas de apoio à economia local cujo enquadramento é, prioritariamente, o das relações sino-lusófonas, e onde se incluem a autorização para a região operar enquanto centro de liquidação de pagamentos em renminbi, a instalação na região da sede do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-Países de Língua Portuguesa, ou o apoio à criação do Complexo do Fórum de Macau que irá acolher, entre outras valências, um centro de exposição de produtos alimentares dos países de língua portuguesa.
A abertura ao investimento por consórcios de diferentes agentes do sector privado e entidades financeiras, por via de um novo memorando que visa instalar infraestruturas e nova capacidade produtiva em países de língua portuguesa – e que abarca novos sectores, como o turismo –, é também vista como uma oportunidade de diversificação, e para a internacionalização, por empresas locais. Em particular, as ligadas ao sector do jogo e hotelaria.
“A nossa empresa-mãe [STDM] tem extensos investimentos em Portugal e temos um longo relacionamento com os países de língua portuguesa. Vamos olhar para estas oportunidades e tentar fazer uso dos nosso pontos fortes e da nossa rede de contactos”, afirma Ambrose So, director executivo da Sociedade de Jogos de Macau.
“Todas estas medidas são mais ou menos feitas à medida de Macau e oferecem bons desenvolvimentos”, considera o empresário da operadora local, para quem as medidas anunciadas “encorajam o objectivo de diversificação económica, pelos quais lutam há vários anos tanto o governo central como o governo da região administrativa especial”.
David Chow, da Macau Legend, é outro empresário do sector predominante nos serviços de Macau que olha com interesse para o espaço de expressão portuguesa, estando a preparar investimento na hotelaria e jogo de Cabo Verde, e tendo manifestado o interesse também de desenvolver atividade em Portugal. “Já estou a trabalhar e a dar início a algo. Claro que se tivermos um apoio mais forte, face a qualquer problema, a China oferece-nos mais políticas para lidar com as questões”, afirma.
Para Vong Kuok Seng, vice-presidente da Associação Comercial de Macau, o sector financeiro de Macau será o mais beneficiado pelas novas valências de Macau no serviço ao investimento e comércio entre China e países de língua portuguesa. “Há espaço considerável para os negócios na área da banca se desenvolverem mais. [A liquidação de renminbi] é um dos serviços financeiros com espaço para se desenvolver”, entende.
“Os empresários de Macau, em particular, têm esperado algum tipo de medidas do governo central. Acredito que estas medidas serão um grande apoio para a economia de Macau, sendo ainda mais importantes porque se trata da diversificação das nossas indústrias não-jogo”, afirma o responsável do órgão que representa os interesses das empresas locais.
António Trindade, da CESL Asia, empresa de engenharia ambiental de Macau com uma forte ligação a Portugal e investimentos no país, o apoio manifestado por Li Keqiang à ação do Fórum de Macau é “um passo positivo na direção positiva e com perspetivas de sustentabilidade”.
“Tem mais do que peso político. É uma reafirmação de uma vontade política de há uma década, pelo menos. O que me parece é que estamos de facto a ver ações concretas”, entende. “O próprio governo de Macau tem tomado medidas que não dão muito nas vistas na área da economia, mas com as quais tem mudado. Por exemplo, a insistência em encontrar novas soluções para as quotas, para a diversificação da oferta dos operadores de jogo e por aí fora”, elenca. “[Li Keqiang] vai encontrar em Macau claramente gente que o ouviu, não só no governo, porque isto não é uma questão política – é uma questão social”, defende.
O mesmo entendimento tem o economista José Luís Sales Marques, que considera que o novo plano de ação para o Fórum de Macau e medidas elencadas para Macau vem não apenas apelar a uma maior envolvimento do sector privado, mas também de toda a sociedade local.
“Há uma afirmação mais forte, mais concreta em certa medida, do papel de Macau – não só a questão da plataforma e dos três centros, que já existia. Aquilo que foi dito pelo primeiro-ministro chinês vai no sentido de fazer crer que vão ser tomadas medidas mais concretas. Por outro lado, parece-me também que o tom geral aponta para que não sejam medidas apenas a serem executadas pelo governo. Apela a uma maior participação do próprio sector privado e também da sociedade civil”, defende o economista.
Mas, para Sales Marques não só o sector financeiro se posiciona na dianteira do desenvolvimento de novos serviços. “A nível empresarial estão a ser feitas coisas importantes. A questão dos serviços é fundamental. Não só os sectores tradicionais – como a área financeira, também com um centro de internacionalização do renminbi e de apoio a esses processos nos países de língua portuguesa – mas também outras áreas. Nomeadamente, na educação e na cultura”, defende.
Maria Caetano