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GOVERNO GUINEENSE PEDE “VOTO DE CONFIANÇA”

 

Alegadas divergências com o Presidente levam Simões Pereira a pedir que o deixem trabalhar.

 

O primeiro-ministro guineense, Domingos Simões Pereira, pediu que o deixem trabalhar para “promover a mudança no país”, numa altura em que várias fontes dizem existir divergências entre o chefe de governo e o Presidente da República.

Falando na quarta-feira num comício na sede do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que lidera, Domingos Simões Pereira reconheceu ser hoje preocupação de “muita gente” o relacionamento entre os responsáveis do Estado.

Sem referir qualquer nome, Domingos Simões Pereira pediu um voto de confiança na ação do seu governo que, disse, será julgado nas urnas dentro de três anos e meio.

“Temos que pedir um voto de confiança para dentro de três anos e meio nos julgarem nas urnas. Nessa altura não será analisado o que disser o presidente do PAIGC, mas sim os factos que temos em cima da mesa”, afirmou Domingos Simões Pereira.

“Por isso, por favor, deixem-nos governar”, exortou, recebendo em resposta palmas da plateia que se juntou no salão nobre do partido, para assistir às cerimónias evocativas do 20 de janeiro (feriado nacional), em que se assinala o 42º aniversário do assassínio do fundador da nacionalidade guineense, Amílcar Cabral.

Domingos Simões Pereira pediu que cada dirigente do partido e do país se concentre no seu trabalho, deixando de lado “as pequenas divergências”, ressaltando ser normal haver divergências de opinião na governação.

“Não está em causa o trabalho de Domingos Simões Pereira, pois isso é simples. Está em causa o trabalho que, em nome do PAIGC, dissemos que vamos fazer para transformar o país. Vamos transformar esta sociedade”, vincou.

“Nalgum momento podemos discordar, mas todos nós somos homens do estado. Cada um de nós tem que compreender a sua responsabilidade. É o PAIGC que nos pôs onde estamos, nós todos”, acrescentou.

Domingos Simões Pereira disse também que, da sua parte, tudo vai fazer para “promover consensos e diálogo” para que o país se possa tranquilizar e assim alterar os indicadores sociais da Guiné-Bissau que são dos piores “em todos os domínios”.

“Em nome do PAIGC, posso garantir a todos os militantes e a todos os dirigentes que haverá consenso para podermos levar esta obra até ao fim”, prometeu, frisando que nem o próprio fundador do partido e da nacionalidade guineense, Amílcar Cabral, dirigiu na base de unanimidade.

A relação entre o primeiro-ministro e o Presidente José Mário Vaz é tema de conversa nas ruas, colunas de opinião nos jornais e nos meios políticos com diferentes fontes a especular sobre eventuais divergências entre ambos.

Os dois líderes guineenses, ambos do PAIGC e que fizeram campanha juntos no último ano, nunca assumiram em público ter discordâncias, mas há sinais de que pode estar a faltar sintonia entre ambos após meio ano de convívio institucional.

No discurso de fim de ano, dirigindo-se ao governo, José Mário Vaz disse ser necessário começar a cumprir promessas eleitorais, na medida em que “o período de graça não pode ser alargado indefinidamente”.

E enquanto o executivo defende a exploração de minérios no país, Vaz referiu no mesmo discurso que o país devia apreender “com os erros do passado” e apostar na agricultura.

Noutro dossier, Simões Pereira e Vaz ainda não conseguiram escolher um novo ministro da Administração Interna, depois de Botche Candé ter sido exonerado pelo Presidente a 28 de novembro. Ambos vão estar juntos numa cerimónia oficial na sexta-feira, em Tite, Sul do país.

Hoje, 23, celebra-se o início da luta armada contra Portugal, desencadeada com um ataque ao quartel de Tite, em 1963. O conflito arrastou-se por uma década até à independência da Guiné-Bissau, declarada unilateralmente a 24 de setembro de 1973.

 

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