Início Opinião Paulo Rego – A PROPOSTA DE PEQUIM

Paulo Rego – A PROPOSTA DE PEQUIM

 

Diz-se que o casal de pandas que Pequim oferece a Macau traduz – na semiótica política chinesa – a pacificação das relações entre o “primeiro” e o “segundo” sistemas. Há outros sinais… A verdade é que o governo da Região Administrativa Especial, empossado em dezembro, compromete-se com uma magistratura de influência, uma agenda e um estilo que aparentemente descansam as vozes críticas na nomenclatura nacional. Sobretudo aquelas que não aceitam os riscos legíveis nos índices de insatisfação popular numa Região onde há dinheiro, plano de integração regional e projeto de internacionalização, para além do apoio à diversificação económica. Mas há mais… Gera-se um aparente consenso sobre os mecanismos de integração regional e nacional, sejam eles conceptuais ou formais, que abrem uma nova janela de oportunidade para Macau: vozes públicas começam a defender que a modernização do sistema político será mais fácil em Macau do que em Hong Kong, uma vez que aqui a democratização do regime não inclui tentações separatistas nem bloqueios à influência do Poder Central. É uma tese que merece, pelo menos, ser aprofundada.

Entre o início do ano ocidental e a viragem do calendário chinês – fins de fevereiro – surge a primeira reflexão política estruturante para este novo ciclo político. Com a sombra do guarda-chuva amarelo, que Hong Kong coloca no horizonte, Pequim terá interesse na afirmação dos limites da autonomia no contexto pacífico do laboratório de Macau. Mesmo que esse vetor não seja prioritário; de facto, faz sentido teórico. Na discussão sobre as diferenças de perspectiva, surge a parábola do copo meio cheio ou meio vazio. O movimento democrático em Hong Kong concentra-se na metade que lhes falta, à luz de uma cultura herdada do antigo colono britânico; que não a praticando, promoveu-a na cultura política local. Já em Macau, a população revela-se mais concentrada na distribuição de benesses por parte de uma economia que em tudo depende da China. A começar pelos casinos, que precisam da tolerância nacional para a entrada de jogadores e do dinheiro que trazem. Talvez por isso, olham para a parte do copo que está cheia, confiando num futuro a subir de nível.

No caso mais complicado de Taiwan, os ecos que chegam de Pequim transmitem uma nova pressa no sentido de aproximar vontades. O modelo de integração em causa implica muito mais água no copo, porque aí o movimento é de sinal contrário. O copo estará cheio, na perspetiva dos independentistas em Taipé, havendo naturalmente pouca margem para recuar até meio. A modernização do sistema em Macau, mesmo que de forma gradual e negociada, resulta numa vantagem posicional para Pequim. Não há em Pequim, nem haverá no futuro próximo, qualquer margem para a democratização do regime, em moldes ocidentais e à escala nacional. Mas, desde os tempos de Deng Xiaoping, há a noção de que vale a pena ensaiar regionalmente um sistema de valores aceite pelo ocidente, ainda que proteja o partido único. As regiões administrativas especiais são o modelo mais próximo desse desígnio.

A sua evolução – não revolucionária – permanente e consistentemente negociada com Pequim, é do interesse de Macau e de Hong Kong, mas também da própria China. Em moldes que hoje serão menos consensuais, mas que também fazem sentido, é uma proposta na qual vale a pena o mundo global pensar com olhos de ver.

 

 

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