Há debates que nunca podem ser findos enquanto não produzirem teses credíveis que desemboquem em práticas consequentes. É o caso da diversificação económica em Macau. A responsabilidade é geral, começando pelo Governo, passando pela Academia e pelo empreendedorismo privado, acabando na consciência coletiva do que é uma sociedade de serviços qualificada – nesta Região, necessariamente trilingue. O chamado turismo de negócios – MICE (Meetings, Incentives, Conferences and Exhibitions), na denominação inglesa – é um caminho racional que merece ser explorado em toda a linha.
Primeiro, porque o turismo de negócios atrai visitantes que trazem massa crítica e mundividência; depois, porque garante visibilidade e afirmação internacional; finalmente, porque sendo a indústria do jogo o verdadeiro motor da cidade, não faz muito sentido esperar que essa indústria aposte em setores que lhe sejam totalmente alheios. Ou seja, não vão fabricar salsichas nem componentes eletrónicos. Contudo, é legítimo que, como contributo para a cidade, se exija que diversifiquem a aposta na ocupação dos hotéis, na venda de serviços e na construção de espaços de conferências e de convenções. Nunca como alternativa ao jogo, porque nada compete com o volume de receitas em causa, mas como atividade complementar.
A radiografia que publicamos nesta edição – caderno B – mostra que, apesar da aposta em novas infraestrururas, por parte de todos os operadores de jogo em Macau, não basta multiplicar resorts de luxo com espaços para eventos para afirmar uma cidade como centro mundial de turismo, seja ele de lazer, familiar ou de negócios. Há ainda um longo caminho a percorrer, pelo que continua a fazer sentido que o Governo continue a subsidiar o setor, aumentando assim a sua capacidade de atração.
Não há muitas cidades no mundo capazes de oferecer a capacidade hoteleira existente e projetada para Macau, incluindo espaços de eventos para 10 mil pessoas, como é o caso da Arena do Venetian; muito menos a escassos minutos de um aeroporto internacional e numa região que, sendo das mais densamente povoadas do mundo, é também a que anualmente mais cresce em termos de Produto Interno Bruto, em volume de exportações e em músculo de investimento. O sul da China, mais propriamente o Delta do Rio das Pérolas, é uma oportunidade única para o turismo MICE que Macau não pode descurar.
Por último, mas não menos crucial, é importante perceber que por maiores que sejam os deméritos de uma economia planificada, há uma vantagem clara que se aplica neste caso: Pequim definiu o setor das convenções e das exposições como estratégico para Macau, o que permite a qualquer empresário, seja ele chinês, lusófono ou de qualquer outra nacionalidade, perceber que a oportunidade está de pé e não cairá ao primeiro abanão. Mas também não cai do céu. É preciso investir a sério no fomento de uma indústria empreendedora e com massa crítica.
Por uma República Espanhola
Com o anúncio da abdicação do Rei Juan Carlos, no dia 2 de junho, dezenas de milhares de espanhóis foram para as ruas em várias regiões de Espanha, exibindo bandeiras da segunda república espanhola (1931-1939) e reclamando a realização de um referendo constitucional. Querem ter a possibilidade de dizer “sim” à substituição da monarquia por uma república. A popularidade da monarquia espanhola, mas sobretudo do Rei Juan Carlos, 76 anos, caiu a pique nos últimos tempos com alegados casos de corrupção, implicando o genro Iñaki Urdangarín, e com uma sumptuosa caçada real no Botswana, em abril de 2012, em plena crise económica, que só se tornou conhecida porque Juan Carlos fraturou a bacia. Escândalos pessoais, nomeadamente, relações extramatrimoniais, têm ensombrado o reinado de Juan Carlos. O Príncipe Felipe de Borbón, 46 anos, de seu nome completo Felipe Juan Pablo y Alfonso de Todos los Santos, deverá em breve tornar-se no Rei Felipe VI de Espanha. “O meu filho Felipe, herdeiro da coroa, encarna a estabilidade, que é o sinal da identidade da instituição monárquica”, afirmou o Rei, no discurso à nação, no momento da abdicação. Analistas – e republicanos – questionam se ele será capaz de restaurar credibilidade à monarquia.
Paulo Rego
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