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A PROVA DE FOGO DA COPA DO MUNDO COMEÇA JÁ A 12 DE JUNHO

Em vésperas de eleições presidenciais, em outubro, Dilma Rousseff apostou tudo no Mundial de Futebol como mola propulsora de uma economia em fase de desaceleração. O pesadelo das obras, as promessas falhadas e as críticas da FIFA fazem tremer um sonho que ameaça virar pesadelo. Mas também há benefícios, no curto e no médio prazo. A Presidente não desarma: “Vai ser a Copa das copas”, promete.

Cerca de 3,2 mil milhões de pessoas assistiram em 2010 ao Mundial de Futebol – quase 50% da população mundial. Em 2007, a FIFA anunciou que um dos poucos eventos que concentra as atenções da aldeia global seria realizado no Brasil – único país que ostenta um tetra campeonato. Foram precisos quase dois anos para escolher as 12 cidades que acolhem 64 jogos disputados por 32 equipas. A Copa regressa ao Brasil – depois de 1950 – pisando pela quinta vez os relvados da América do Sul, o que não acontecia desde 1978, na Argentina. O jogo inaugural é em São Paulo, a 12 de junho; e a final disputa-se no Rio de Janeiro, estádio do Maracanã, “templo sagrado” da paixão pelo “desporto rei”.
As autoridades brasileiras estimam que três milhões de brasileiros se desloquem em solo nacional para encherem os estádios, na companhia de 600 mil adeptos estrangeiros. Do ponto de vista da competitividade, a par da equipa anfitriã, todas as que alguma vez lograram levantar o troféu, desde 1930, estão em campo nesta edição: Uruguai, Itália, Alemanha, Inglaterra, Argentina, França e Espanha.
Segundo a última atualização da Matriz de Responsabilidades, documento que compila as intervenções dos governos federal e estaduais, bem como das 12 cidades-sede, o custo da operação ronda os 14 mil milhões de dólares americanos – mais 25% do que a previsão feita em janeiro de 2010. Quase metade do investimento (45%) foi canalizado para obras de mobilidade urbana; os portos e aeroportos consumiram 30%; e os estádios 25%.
Cerca de metade do financiamento é garantido pela banca brasileira: Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e Caixa Económica Federal, tendo apenas 15% ficado a cargo da iniciativa privada. Três estádios – Curitiba, Porto Alegre e São Paulo – foram construídos por projetos privados; cinco – Belo Horizonte, Fortaleza, Natal, Recife e Salvador – foram erguidos por meio de parcerias público-privadas; e os restantes quatro – Brasília, Cuiabá, Manaus e Rio de Janeiro – foram adjudicados pelo Estado a empresas de construção.
O Brasil cresceu muito ao longo da última década, estimando-se que quase 40 milhões de pessoas tenham migrado de níveis de pobreza para a classe média, mas os desafios são muitos e, alguns deles, enormes.
A Copa do Mundo tem sido alvo de várias críticas relacionadas com atrasos nas obras, falta de segurança e derrapagem nos custos. Vários projetos importantes, por exemplo relacionados com os transportes públicos, foram substancialmente reduzidos ou liminarmente abandonados.

TENSÃO COM A FIFA

O secretário-geral da FIFA, JérômeValcke, provocou há dois anos um incidente diplomático ao sugerir que o Brasil precisava de um “pontapé no traseiro” para acelerar os preparativos da Copa. No mês passado, após reunião com governantes brasileiros e membros do comité organizador, Valcke lançou o alerta vermelho: “Estamos atrasados, enfrentamos dificuldades e riscos até ao último minuto, porque nós (FIFA) não testámos as instalações e precisamos de tempo para as testar. Estamos a trabalhar em condições em que o cimento ainda está por secar”.
Os atrasos mais dramáticos deram-se nos estádios em São Paulo, Curitiba e Cuiabá. Quatro em 12 derraparam para além das expectativas mais pessimistas e pelo menos dois não estão acabados, a um  mês do jogo inaugural: Brasil – Croácia. As autoridades correm ainda contra o relógio para terminar obras nos aeroportos, na rede pública de transportes, nos sistemas de informação e nos acessos aos estádios.
A FIFA recorda que “nenhum país teve tanto tempo – sete anos – para preparar” um Mundial. Ainda assim, várias cidades acabaram por abandonar projetos como corredores especiais para autocarros, novas linhas de metropolitano e de elétricos. O investimento prometido em redes de telecomunicação foi substancialmente reduzido e há já planos de contingência para minimizar os riscos de superlotação e confusão durante o torneio.
No início de abril, até o “rei” Pelé criticou os atrasos e os erros que arriscam arruinar a festa. Dilma Rousseff defendeu a privatização dos principais aeroportos do país, com o argumento de que estariam prontos a tempo, razão pela qual analistas brasileiros defendem que eventuais falhas nos transportes aéreos podem afetar a campanha presidencial, em outubro. Rousseff, que tenta a reeleição, garante que o torneio será o mais bem-sucedido de todos os tempos: “Vai ser a Copa das copas”.
Um estudo recente feito pela Datafolha – grupo de pesquisa do jornal Folha de São Paulo – revela que metade dos brasileiros apoia a realização do evento. Mas o desgaste é evidente: em novembro de 2008, 79% da população elogiava a realização da Copa; em junho de 2013 esse apoio caía para 65%; chegando agora aos 52%. O nível de insatisfação gerou uma nova expressão no criativo linguajar brasileiro: “Imagina na Copa”, que traduz bem o receio de que tudo possa ser ainda pior.
O Governo Federal receia ainda os protestos populares, na sequência dos levantamentos que se alastraram por todo o país há cerca de ano e meio. Estarão em campo 170 mil agentes de segurança – custo 798,000,000 milhões de dólares – com instruções para abortarem qualquer tipo de protesto, sobretudo junto de instalações da FIFA e centros de estágio das seleções em competição. As Forças Armadas ocupam desde 2008 as favelas mais perigosas do país, operação também ela ligada ao sucesso da Copa.
O programa elaborado pela Secretaria de Estado da Segurança visa recuperar territórios ocupados há décadas por traficantes de droga e milícias organizadas. As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) promovem a proximidade com a população, apoiando programas sociais em comunidades antes negligenciadas.

BENEFÍCIOS
DIRETOS E INDIRETOS

A Copa coloca o Brasil no centro das atenções. Logo a seguir – verão de 2016 – chegam os Jogos Olímpicos, numa dupla aposta que visa catapultar uma economia em desaceleração.
O contrato assinado com a FIFA protege receitas ligadas aos direitos comerciais e de imagem: áreas de restrição comercial, captação e transmissão de imagem e som, direitos de propriedade industrial, entre outros.O modelo de negócio potencia receitas da FIFA, do país organizador e das estações de televisão, para além do retorno esperado pelos patrocinadores.
Mas motivo pelo qual tantos países disputam eventos deste calibre está ainda relacionado com três áreas importantes: infraestruturas, políticas públicas e oportunidades de negócio.
Os efeitos de um megaevento como este, no curto, médio e longo prazo, bem como o seu legado futuro, variam de acordo com o estado de desenvolvimento de cada país. O Brasil, por exemplo, apostou em investir forte numa mola propulsora de desenvolvimento. Por um lado, aumentou o seu potencial positivo; por outro, correu mais riscos e assumiu custos de oportunidade.
Dados oficiais estimam que a Copa somará cerca de 90 milhões de dólares ao Produto Interno Bruto, até 2019, um aumento de 4% no PIB previsto para o período 2010-2019.
Só na construção civil e nos serviços, serão criados 332 mil postos de trabalho. De acordo com o Serviço Nacional de Apoio à Pequena e Micro Empresa (SEBRAE), em pouco mais de um ano a Copa já rendeu mais de 50 milhões de dólares em vendas efetuadas por startups e pequenas empresas brasileiras.
A empregabilidade e a qualificação profissional são benefícios que já se fazem notar, nomeadamente no número de vagas abertas para estagiários em vários setores como o agenciamento turístico, a hotelaria, a restauração e o comércio. Entretanto, o microcrédito está a ser fomentado para catapultar os efeitos da Copa.
Todos os estádios foram concebidos como espaços multiusos, com capacidade para acolher uma variedade de eventos desportivos e culturais.
O Governo investiu 32,557 milhões de dólares na ampliação dos aeroportos – de 142 milhões para 261 milhões de passageiros ao ano, até 2014. Apesar dos atrasos e dos projetos que caíram por terra, muitos outros foram avante: no setor dos transportes públicos e da mobilidade urbana, por exemplo, surgiram os sistemas de monotrilho, bem como veículos Light Rail (VLTs), sistemas de Bus RapidTransit (BRTs), que substituem os antigos corredores de autocarros, além do aumento da capacidade das vias públicas. Apesar de tudo, o impulso será maior em termos de imagem de marca corporativa do que propriamente nos serviços e no comércio. Cerca de 3,6 milhões de fãs a viverem diretamente o evento impulsionarão receitas na restauração, hotelaria, aluguer de carros, etc.. Contudo, para a maioria das empresas brasileiras, 32 dias são curtos para revolucionar o plano anual de receitas. Sendo um evento global, oferece é uma oportunidade de exposição mediática, nomedamente através das transmissões televisivas.
O que explica os grandes investimentos publicitários assumidos por patrocinadores corporativos como a Coca-Cola Co, Adidas AG a Anheuser-BuschInBev SA / ‘s NV Budweiser e Oi S.A.
O setor da aviação aumentou a sua capacidade de transporte de passageiros entre 15% a 20%, além do reforço e da diversificação das rotas.
A Gol Linhas Aéreas, maior companhia lowcost da América Latina, é a mais bem posicionada nessa janela de negócio. A Localiza, com posição dominante no mercado de aluguer de carros, marca já presença, por exemplo, em todos os aeroportos do país.
A hotelaria subirá as taxas de ocupação – impondo ainda tarifas mais caras. De acordo com a consultora Ernst &Young, foram investidos cerca 1,4 mil milhões de dólares para aumentar em 15% o número de camas disponíveis nas 12 cidades em causa. Ou seja, 19.493 novos quartos. As empresas de construção serão as grandes beneficiárias da Copa.
O resultado operacional médio deve crescer 7%, em 2014, envolvendo todos os impérios brasileiros no setor: Norberto Odebrecht, Andrade Gutierrez SA, OAS SA, Mendes Júnior Engenharia SA e Negociação.
A AMBEV, maior multinacional de produção de cervejas, estima que o seu volume de vendas aumente 2% este ano.
O grande boom, esse, está mesmo reservado ao mercado publicitário, que em 2014 crescerá 12,7%, depois dos 6,1% do ano passado – dados da Magna Global.
A TV Globo, líder de mercado, transmite os 64 jogos da Copa, tendo já vendido publicidade a oito marcas: Ambev, Johnson & Johnson, Coca-Cola, Itaú Unibanco SA, Oi, Hyundai Motor Co., Nestlé SA  e Magazine Luiz. A FIFA recebeu os direitos de transmissão, logo em 2012, mas os números deste mega negócio, que inclui canais abertos e transmissões por cabo, em todo o mundo, serão conhecidos apenas no final do primeiro semestre deste ano.

Marco Duarte Rizzolio

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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