Nuno Furtado, delegado de Cabo Verde no Fórum Macau, considera que “o aspeto mais relevante das Duas Sessões é precisamente o alinhamento político que se materializa em todos os níveis: do Governo central aos provinciais, municípios e condados, passando pelas regiões administrativas especiais”. Essa “unidade nacional” é hoje gerida num “contexto global desafiador”; e a China, “como grande potência, não está alheia ao cenário de incertezas”. Daí o “papel essencial das Duas Sessões, buscando fortalecer estratégias de cooperação internacional, com o propósito de criar equilíbrios na sua atuação como ‘player’ global relevante, enquanto promove o desenvolvimento nacional”.
Em Macau, conclui o diplomata cabo-verdiano, “é crucial entender o alinhamento com as estratégias definidas em Pequim; nomeadamente com a integração na Grande Baía”. Reconhece que “a economia chinesa não cresceu conforme o esperado”, pelo que dá especial importância ao apelo de Xi Jinping para “reforço do uso de novas tecnologias, procurando estabilidade e crescimento em 2025”.
Estímulos ao consumo
José Luís Sales Marques, economista, destaca “as medidas para recuperar a economia chinesa, estimulando o consumo de forma direta e indireta”. Esperava “uma aposta mais forte no estímulo direto”; o que não se verifica. “Compreende-se, conhecendo os antecedentes das políticas económicas da RPC, nas últimas décadas”. Nas relações internacionais, Sales Marques elogia “o reforço do papel da China como pilar da estabilidade mundial, respeitando as instituições e o multilateralismo”. Tema que toca a Macau, que viu reforçados os princípios “Um País, Dois Sistemas, diversificação económica e abertura ao exterior”. Atrair investimento e talentos, criando novos laços e relações, “tem a dupla perspetiva de se ajudar a si própria e contribuir para a economia nacional”. Nada de novo, mas “apraz salientar o relevo dado a Macau no campo das relações internacionais”, remata Sales Marques.
Francisco Leandro, professor de ciência política e relações internacionais na Universidade de Macau, deteta a “absoluta necessidade de se recuperar e aprofundarem as relações China-União Europeia”; bem como a de “colocar Hengqin e a Grande Baía nas prioridades do Brasil, Angola e Portugal”. Pode ser “a oportunidade que a UE e a China precisavam; nunca possível por causa dos EUA”.
Crescimento inteligente
Carlos Cid Álvares, CEO do BNU, destaca a transição para a economia de baixo carbono, as tecnologias verdes e a inovação; pois a China não só confirmou objetivos climáticos como anunciou fortes investimentos na Inteligência Artificial, semicondutores e biotecnologia, onde ostenta “resultados excelentes, comparados à concorrência”. Revela ainda o “peso excelente no crescimento mundial, com muitos indicadores extremamente favoráveis à China”. Quanto ao foco na segurança nacional “reflete, como sempre, a preocupação com a estabilidade social e a soberania, com especial ênfase em Taiwan”.
Cid Álvares esperava “maior abertura dos mercados”, tendo notado “forte preocupação com a iniciativa privada nos eventos recentemente realizados com diferentes investidores privados, nacionais e estrangeiros”. Recentemente, “grandes investidores estrangeiros defenderam a facilidade em contratar quadros de elevada qualidade, como não encontram noutros países”.
Olhando para Macau, Cid Álvares enfatiza o “desenvolvimento sustentável e diversificado; o aumento do investimento direto estrangeiro; o aproveitamento de Hengqin e a integração na Grande Baía; e a estabilidade social”. Não viu “totalmente preenchida” a expectativa de “uma maior autonomia, para se colocar em prática o crescimento via Hengqin, mantendo Macau governado pelas suas gentes”.
No cenário internacional, Cid Álvares destaca “a reafirmação de que a China defenderá os seus interesses nas relações com EUA e Ocidente”; bem como os focos na Iniciativa Faixa e Rota, que “visa aumentar a conectividade e as relações comerciais em todo o mundo”; e na “cooperação, com ênfase na estabilidade e a segurança”. Esperaria, talvez, “papel mais interventivo nas negociações de paz, fundamentais para o Mundo”. Mas reconhece que “a atividade diplomática se exerce no recato das embaixadas e dos gabinetes”, pelo que, “porventura, não temos ideia completa sobre os esforços da China neste domínio”.